segunda-feira

O homem do futuro...

... é aquele que tiver a memória mais longa, como dizia o doido lúcido do Frederico Nietzsche, eis o que me evoca mais aquela asserção de Jorge Ferreira no Tomar Partido - acerca da memória da história e a forma como a percepcionamos e correlacionamos os factos que fazem a paisagem e as narrativas do nosso tempo, sem, contudo, nos darmos conta que omitimos uns tantos outros quando cozemos essa mesma história: umas vezes por acção, outras por omissão e outras ainda porque o nosso cérebro é uma caixa muito limitada. Tanto que sou capaz de me lembrar d'algo passado em minha vida (h)à vinte anos e já não me recordar o que jantei na véspera. E isto não será apenas uma questão de fósforo e soja... E mais estranho ainda, lembra-nos do Canal do Panamá sem nunca termos lá ido. E na história mais geral das nossas cidades o Afonso Henriques dizia que Lisboa e Leiria não se fizeram num dia, bem assim como Sesimbra e Santana não se fizeram numa semana e o Buçaco e o Gerês não se fizeram num mês. Mas aqui já não é do espaço que falamos, creio que é o do tempo. Então a História será isso: um cruzamento de linhas no espaço com o tempo cozido pelos fios da nossa memória. Com piada negra um amigo costuma dizer-me: em duas, três gerações ninguém já se lembrará de nós. Concordo. Mas confesso que por vezes chego mesmo a pensar que Deus nos inventou para fazer experiências constantes: umas vezes para medir a nossa inteligência, outras a nossa paciência e outras ainda para acabar connosco em dois tempos, e acabou-se a história. E como também não perfilamos na tal galeria de quatro grandes - Camões, Vieira, Eça e Pessoa - (o resto é paisagem) - não passamos dumas formiguinhas que para aqui andamos a arrastar migalhas (que julgamos serem rochas) dum lado para o outro, como a Penépole fazia com o novelo para assim se manter fiel ao "outro" que nunca mais regressava da guerra. Em todo o caso, se notarmos bem, há um vector constante em toda a história que está, aliás, na sua origem e que a (retro)alimenta: a traição. O Frederico viveu e morreu. Era doido, mas lúcido. Mas teve foto e teve campa. Mas a generalidade das pessoas atravessam o tempo e cruzam o espaço de forma invisível e, se calhar, também fazem história... Bem vistas as coisas, julgo que o problema da história é que são sempre precisas inúmeras histórias para fazermos história. Até lá, salvo melhor opinião, lembremo-nos daquela galeria de quatro que não vamos mal acompanhados, Não Senhor!!!