segunda-feira

As paixões enquanto interesses. A Felicidade

Maquiavel foi dos primeiros homens a desenvolver uma corrente de raciocínio que haveria de conduzir ao perigoso jogo de levar umas paixões contra outras paixões. Nos posts abaixo vemos mulheres de beleza excepcional e a forma como lidamos com as suas imagens não deixa de ser interessante, ou seja, segundo Maquiavel os Príncipes comandam os povos, e o interesse comanda os Príncipes. Nós também acabamos por ser comandados por algo, por uma paixão ou um conjunto delas, e isso também é um interesse.
Mas esta relação é muito mais do que estética, é também filosófica, social, política e cultural. Sem percebermos a potência das paixões (que são uma nova modalidade de interesses) não nos libertamos do jugo do obscuratismo que nos cega nos mais variados campos de análise. Até quando se olha para uma mulher de beleza excepcional.
Mulheres belas, boas ideias, homens alienados, políticas ausentes.. tudo isso povoa a nossa realidade feita de tantos outros imaginários e de projecções que estão bem mais presentes em nossas vidas do que na realidade supomos. O orgulho, a inveja, a cobiça representam uma troika de faíscas no coração dos homens que pode estar presente numa relação amorosa como numa relação institucional e política. Conquanto umas e outras paixões se vigiarem mutuamente, lutam entre si, incendeiam novos afectos, escondem-se umas das das outras.
Já se pensou nas paixões a este nível? O ponto é que as paixões não actuam isoladamente, mas em conjunto, alimentando-se umas às outras, opondo-se aos ditames da razão. E um afecto só se limita ou substitui por outro mais forte e de sinal contrário. Aqui procuramos ampliar esse papel da autonomia da vontade das paixões - muito pouco consideradas na gestão dos macro-processos da vida pública, doméstica e internacional.
Quantas e quantas vezes não tivemos de refrear o amor pelo prazer, são elas que conduzem boa parte do que pensamos ou fazemos, daí a importância que aqui singelamente lhes dedicamos. As boas paixões podem converter-se sempre em boas ideias. E assim como as ideias se contrapõem entre si, também as paixões se digladiam, mas elas acabam por se equilibrar.
O exemplo evocado abaixo com a bela Helena Christensen serve apenas para mostrar que as paixões são o efectivo contrapeso das paixões, pelo que não devemos destruí-as, mas antes dirigi-las. Até um mau pressentimento se pode transformar numa boa ideia. Mas nunca se deve destruir as paixões, deve-se substituir as que são nocivas ou prejudicam a sociedade. Sendo certo que a razão, essa grande "escrava", não é mais do que o acto de seleccionar as paixões que devemos seguir para alcançar a Felicidade, o bem supremo em Aristóteles.
Sucede que a dificuldade está cilindrar as paixões más e ressaltar as boas. E depois ainda temos outro problema: é que umas paixões são verdadeiramente indomáveis, outras mais domáveis. Mas a importância deste aspecto esconde-se numa vantagem maior:

Se conseguirmos pôr essas paixões em luta entre si, de forma estruturada vemos o contrapeso que elas fazem e o benefício que trazem à nação. Se bem que em matéria de Estado não devemos guiar-nos por apetites desordenados que, por regra, nos levam a assumir tarefas que já escapam às nossas forças. Nem sequer por paixões violentas que, por definição, estão no lado oposto ao da razão. O que pretendemos sublinhar é, em rigor, o seguinte: a mistura de aspirações individuais com a soit-disant racionalidade fria e analítica (se é que ela existe) sobre as discussões da governação e da polis global em que vivemos, revela-se a quinta-essência do comportamento motivado pelo interesse, por uma paixão, por um vector gerador duma categoria de entendimento útil e duma expectativa interessante que nos pode abir novas portas para o futuro. E o que é o futuro senão um interesse e uma paixão?! da imagiação...