A história, essa grande Mãe da psicologia colectiva
UMA CERTA IDEIA DE HISTÓRIA
Nesta data, em 1683, os primeiros colonos alemães chegavam à Pensilvânia, onde fundam Germantown. Em 1889, abria o Moulin Rouge em Paris e, em 1908, a Turquia garantia à Alemanha a concessão do caminho de ferro até Ankara. Em 1918, forças francesas ocupavam Beirute, no Líbano. Em 1927, estreava-se, o primeiro filme comercial sonoro "The Jazz Singer", em Nova Iorque. Em 1957, realizava-se, sob a vigilância da PIDE, polícia política do regime, o I Congresso Republicano de Aveiro, presidido por António Luís Gomes, ministro do Fomento no primeiro Governo da I República. Em 1973, forças egípcias e sírias atacavam Israel, no dia do Yom Kippur, dando início à quarta guerra israelo-árabe [...] - in Tomar Partido - de Jorge Ferreira.
Antes de remeter para leitura tentarei dizer porque razão esta modalidade de abordar e arrumar a história me interessa e acho útil. Compulsar vários factos, em épocas diferentes, em países e regiões distintas, com quadros culturais e de mentalidades também diversos. Fará isto sentido? Cremos que sim. Obriga-nos a percorrer a história das relações internacionais, das civilizações, a alargar os quadros culturais com que julgamos os próprios factos e a integrá-los depois numa visão de conjunto.
Por outro lado, esse holísmo transhistórico harmoniza-nos com a noção de grande História (estrutural) que ou já esquecemos ou desconhecemos. De tudo resulta uma história que já não é história, até porque se mitigam nos factos políticos, económicos e sociais episódios da música, do teatro, das artes em geral que depois emprestam mais tonalidades à paisagem dos acontecimentos que narramos e procuramos (re)situar no campo de análise.
Creio que quando se atinge esse patamar já é da sociologia do conhecimento que falamos, o que nos leva a discernir que a história não tem um tempo, mas tempos, espaços e carece sempre de ser integrada com lentes cada vez mais macroscópicas. A história, no fundo, consiste na compreensão do tempo, um produto do poder e dos poderes económicos, sociais e culturais que por vezes só são fixados pelos olhos do futuro da Utopia.
Utopia que é sinónimo de criativa espontaneidade, pois quantas e quantas vezes a blogosfera nacional, alguma dela, não está já fazendo história?!! Claro que só os mais desatentos e impreparados deixam passar essas "arrumações do tempo", se bem que aqui a corrente realista - estimulada por Nicolau Maquiavel fixa os factos sempre nessa verità effetuale como uma das pedras-basilares do método realista de apreender a história. Desse modo, a história mais não é do que uma sequência de causas e de efeitos, cujo curso pode ser analisado e compreendido através dum esforço intelectual, o que não colhe no conceito de história fixado pelos utopistas, dirigidos mais pela função da imaginação. Contudo, valerá apena relembrar aqui um grande historiador do séc. XX, Edward Hallet Carr:
The writing of history, like any other form of human inquiry is a process of selection and interpretation intimitely bound up with the preocupations, preconceptions, and prejudices - what is more politely called the ideology - of the investigator. Ideology is the point where history and politics meet. in "The View from the Arena", review of Walter Laquer e G. L. Mosse, Historians in Politics; além dos seus clássicos What Is History?, 1961; e o seu trabalho maior: The Twenty Years' Crisis, 1919-39, An Introduction to the Study of International Relations, 1939.
Mas a história é sempre um terreno movediço, porque comporta sempre milhentas leituras sobre o mesmo processo ou facto. E nem sempre se consegue delimitar o facto do valor, o acontecimento da ideologia, a razão da paixão, a inteligência e a prudência da estupidez e ingenuidade. O que levou a uma outra sugestão de Carr: historians approaches "the facts" like "fish on fishmonger´s" slab". The historian "collects them, takes them home, and cooks and serves them in whatever style appeals to him.
E. H. Carr, What Is History, N.Y., Vintage, 1961, pág. 10
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