sábado

Desconexão do económico com o político = corrupção

Discurso de Cavaco abre espaço político a Sócrates Pedro Correia (in DN) "O discurso do Presidente da República, alertando para a necessidade de dar combate à corrupção, foi bem recebido por José Sócrates. O primeiro-ministro, que optou por não reagir publicamente ao assunto no rescaldo das comemorações do 5 de Outubro, comentou já a alocução de Cavaco junto dos seus colaboradores mais próximos, considerando que o Presidente "abriu espaço político" ao Governo com as suas declarações. Particularmente apreciado pelo primeiro-ministro, segundo apurou o DN, foi o alerta de Cavaco aos autarcas em matéria de corrupção. Palavras que não podiam ter soado melhor a Sócrates numa altura em que o Executivo enfrenta a oposição da Associação Nacional de Municípios a propósito da proposta de Lei das Finanças Locais."
No espaço duma semana Cavaco volta a tocar no delicado tema da corrupção, desta feita com mais ênfase abrindo o tal espaço político ao executivo. Mas mais importante do que criminalizar A, B ou C urge compreender a seguinte correlação. Hoje assiste-se a uma total desconexão inquietante do vector económico com o vector político e até do social e cultural, e, por ressalto, do social e do político. Todo se conhecem, mas nenhum tem intimidade com o outro. Resultado: ganha sempre o mais forte, nem sempre o mais justo.
A perna política do sistema já não é capaz de gerir o vector social porque já não domina o económico. É o primado do económico e do financeiro, nos factos e na ideologia, que corrompe o social, o político e o vector cultural. O económico é um meio e não um fim, recorde-se. Não mastigamos dinheiro, mas sim as coisas que ele permite comprar.
A constatação desta equação torna o mundo pouco respirável, logo pouco recomendável para se viver. Onde reside o problema? Cremos que há que fazer um esforço para se reinventar o vector político para que ele faça a gestão dos aspectos económico e social. Só que para tal o político deve voltar a tornar-se credível. Tomemos, por instantes, o exemplo de MMendes: como é que este líder se quer credebilizar quando no seio do seu próprio partido permite que deputados com sérios problemas com a justiça ainda se mantenham ligados à AR? É óbvio que assim nem em 2020 aquele será PM de Portugal. Será sempre um projecto-de-projecto...
Por seu turno, o vector social também deve reconstituir-se numa tensão criativa que produza algum sentido. Reconstruindo-se recria o próprio político e abre novas perspectivas de cidadania e de funcionamento da democracia onde situações made in a. Preto jamais poderão ocorrer sem que não sejam imediatamente sancionadas. Não só pela opinião pública, mas também pelas instâncias jurisdicionais competentes que ora se revelam incompetentes, ora laxistas em julgar.

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Em suma: a democracia merece mais e melhor do que casos citados do psd, sob pena de cairmos numa irresponsabilidade organizada, submetida a gangs intelectualmente desqualificados, que tomam conta do aparelho partidário e de Estado - enchendo a Administração de gente ainda mais desqualificada e incompetente cuja única coisa que tem em comum é a ligação a um ou outro cacique que se dedica a fazer tráfico de influências, corrupção, nepotismo e uma multidão de actos ilegais que não têm ainda qualificação jurídica e que nós aqui remetemos para o chico-espertismo trafulha que classifica alguns sectores partidários em Portugal, responsáveis pelos elevados índices de corrupção que nos afecta como um todo.
Em rigor, o Estado não se pode governar por milagre, e a sociedade civil (que não deve ser confundida com construção civil, como fazem alguns caciques de mala parda) deve ser responsável e levar o Estado a uma razão política que reconstrua as identidades num modo que não seja de fechamento, nem conduza a um albergue espanhol, que foi naquilo em que hoje este psd se transformou com o "efeito zita" - que o parasita. Ser hoje do psd significa ser de todos e de nenhum, daqui decorre o efeito de "prostituição política" que o torna indistinto das demais propostas políticas.
É assim que leio as preocupações de Cavaco que Sócrates, por certo, irá potenciar. E o que fará aqui MMendes? Nada, as usual... Tais limites são sempre os da cultura, da qual temos hoje extremas dificuldades em pensar o estatuto e as exigências. Sobretudo quando situações aberrantes - como as de a. Preto - se verificam no teatro político português. Deveria começar-se a limpeza por aí...