domingo

Um grande autor: Josué de Castro - Fome Zero ...

FOME ZERO
Sinto que há dias não escrevemos nada de útil. Sinto que preciso de meter aqui uma "cunha" para abrir espaço para um bom autor. Lembrei-me de Geopolítica da Fome e deste Homens e Carangueijos - ambos de Josué de Castro. Sinto que perdemos aqui tanto tempo com factos, autores e análises menores. Sinto que é hora de valorizar este espaço. É hora de recuperarmos Josué de Castro. Ele já cá não está, mas deixou-nos o seu pensamento, o seu exemplo e a sua genialidade. Agora cada um toca-o com as vitaminas e proteínas que tem dentro da mioleira. Teve a particularidade de ser escrito no preciso ano em que o "caranguejo"-do-Macroscópio nasceu..., e hoje quase fronteira nos 40. Tudo visto e somado remato: já percorri mais de 50% da minha vida. Sou um tipo com sorte!!! Mais uma coisinha: Josué de Castro é dos tais autores que se não puder comprado vale bem a pena ser furtado, como "alguém" dizia do seu Geopolítica da Fome... E não é isso que andam a fazer a certos países?!!!
  • "Escrito em 1966 e com uma única edição no Brasil, lançada em 1967, HOMENS E CARANGUEJOS é o único romance do renomado cientista Josué de Castro. Num texto tocante - de tom memorialístico e autobiográfico -, ele narra a história de vida de um menino pobre que começa a descobrir o mundo e logo se depara com a miséria e a lama do mangue. Mais que um drama ficcional, este livro mostra a realidade de uma comunidade imprensada entre a estrutura agrária feudal e estrutura capitalista – um cenário que até hoje persiste no Nordeste do Brasi.. As brincadeiras de infância são trocadas pelo duro trabalho nos manguezais, nos quais os meninos se tornam caranguejos, num estranho mimetismo que o autor já aponta no prefácio: “Seres humanos que se faziam assim irmãos de leite dos caranguejos. Que aprendiam a engatinhar e andar com caranguejos da lama e que depois de terem bebido na infância este leite de lama, de se terem enlambuzado com o caldo grosso da lama dos mangues e de se terem impregnado do seu cheiro de terra podre e de maresia, nunca mais se podiam libertar desta crosta de lama que os tornava tão parecidos com os caranguejos, seus irmãos, com as duras carapaças também enlambuzadas de lama.”
QUEM FOI JOSUÉ DE CASTRO???
  • "Josué de Castro é quase um desconhecido para os brasileiros. Pernambucano, criado nos bairros pobres de Recife, foi médico, nutricionista, geógrafo, duas vezes deputado federal, diplomata e presidente da FAO . Bem antes do sociólogo Hebert de Souza (Betinho), denunciou que o Brasil passava fome. Escreveu dezenas de livros técnicos sobre o tema e um romance, “Homens e Caranguejos”, relançado pelo selo Civilização Brasileira, da Record. Os livros técnicos lhe deram fama no exterior. O romance foi escrito no exílio em 1966, em Paris, onde morreu com saudades de seu país. “Homens e caranguejos” relata o drama dos retirantes que povoam os mangues dos rios Capiberibe e Beberibe. Confessadamente influenciado por João Cabral de Melo Neto, Josué conta a história a partir do ponto final de “Morte e vida Severina”. Impossível não chafurdar em suas páginas como os homens e crianças fazem na lama do mangue em busca de alimento. No livro, que está bem próximo de um roteiro de documentário, Josué também nos transforma em caranguejos. Ele deixa o leitor em estado de alerta com as tempestades fabricadas por políticos corruptos e sistemas de governo omissos. O faz sofrer como a vegetação dos mangues. Mas também ensina a resistir e não sucumbir diante do capricho das marés. História simples e intensa como a que é vivida pelo menino João Paulo, cujo herói é um ex-garimpeiro, derrotado pelo beribéri. Esse herói forja o caráter do menino, que terá o mesmo destino de milhões de crianças no mundo. O livro resgata a memória de Josué, que chegou a ser indicado como candidato ao Prêmio Nobel da Paz, foi considerado “Cidadão do Mundo” e ganhou reconhecimento internacional com o seu livro “Geografia da Fome”. Também esclarece porque os militares o temiam tanto. Algo que o documentarista Silvio Tendler admite não ter conseguido em seu documentário sobre o personagem, concluído em 1995."
  • Post em honra à sua memória e ao seu legado intelectual, científico, cultural e humano.