Teoria e prática da gestão
- Nota prévia: o título correcto desta realista reflexão é o que segue infra e não o que titula este post. Agradecemos ao Jumento a compreensão cuja explicação segue infra.
É MAIS DIFÍCIL DEMITIR UM GOVERNANTE DO QUE UM BOY
"Parece mentira mas é verdade, em Portugal é mais fácil fazer cair um ministro ou um secretário de Estado do que um director-geral ou subdirector-geral incompetente, aquilo a que vulgarmente se designa por boy. Para demitir um ministro basta uma indisposição do primeiro-ministro, um qualquer problema numa vértebra C qualquer coisa provocado por cansaço ou uma chicotada psicológica que em política se designa por remodelação governamental.
Quando um governante é demitido leva um chuto e ponto final, mas para demitir um boy é uma carga de trabalhos, se o despacho for feito sem cuidado vem o Provedor de Justiça cuidar da "vítima" e mais tarde ou mais cedo o Supremo Tribunal Administrativo, no fim ou ganha uma promoção ou uma indemnização.
Se for um boy do partido que os eleitores mandaram para o Purgatório da oposição a coisa ainda é fácil, basta esperar que faça asneira da grossa. Mas se for um boy do partido do governo a coisa complica-se, depois de se terem encoberto as mentiras com comunicados do gabinete de imprensa é muito difícil dizer que foi engano, que o rapaz é incompetente. Como muitos boys são especialistas em diversificar relações só raramente se apanha um desprevenido.
Nos últimos dias soube-se que os administradores de um hospital eram ciosos defensores das poupanças pedidas pelo ministro e ao mesmo tempo que as divulgavam compraram carros de luxo. O ministro da Saúde assinou um despacho demitindo-os? Nem pensar, assinou um despacho que mais parecia um anexo aos Evangelhos, referindo o que era considerado pecado na gestão hospitalar, mas o certo é que os pecadores acabaram por serem benzidos. E nem vale a pena referir o que se tem passado na DGCI onde os prejuízos são cada vez mais elevados e o ministério desdobra-se em comunicados que são lições de ginástica, tantos são os fliques-flaques que o ministério dá para não tropeçar em tanta asneira.
E quando um ministro tem a intenção de substituir um dos boys que lhe saiu na rifa descobre que está protegido por uma teia de interesses que pode envolver desde a Opus Dei ou Maçonaria a um qualquer outro membro do Governo. Num país tão pequeno não ninguém que não seja amigo de um ministro, do Presidente da República ou mesmo do Cardeal Patriarca.
A verdade é que ao longo de uma legislatura são mais os ministros e secretários de estado que são substituídos do que os boys demitidos por incompetência".
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- Comentário do Macroscópio: de facto o comentário a isto era não fazer comentário nenhum para não mutilar o texto. Contudo permito-me umas notas: a primeira para sublinhar que estas práticas são inerente ao poder, qualquer que seja a sua ideologia ou práxis política, logo trata-se duma prática do PS e do PSD nestes últimos 31 anos de democracia. Depois apetece-me citar um autor maior, falecido recentemente mas bem vivo no seu pensamento entre nós, refiro-me a Peter Drucker (uma obra de síntese de Jaime Fidalgo e Jorge Nascimento Rodrigues, ed. CentroAtlântico). Dizia ele:
E é isto essencialmente que me fazem lembrar estas correlações verdadeiramente lúcidas do Jumento. Que parece que para o Natal irá jantar com o ministro das Finanças e, após uma conferência de imprensa no Hotel Altis, acompanhada de beberet com caviar, presunto e Asti-doce, revelará publicamente a sua verdadeira identidade, que tanto intriga aos meios oficiais do Portugal-político. Mesmo que já não seja ao lado do dito ministro, que na altura também pode já ser outro...
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