Big Brother is watching you: populismo post-moderno (à portuguesa)
- Jornais, políticos, empresas - por vezes sentem necessidade de dar o passo maior do que a perna: ou para vender mais e alargarem a quota de mercado, ganharem notoriedade e auferir mais lucros, agradar ao eleitorado e ganhar eleições ou, no caso das empresas/negócios - consolidarem e, se possível, alargarem a sua carteira de clientes e o seu volume de negócios e de mais-valias. Até nós próprios, em termos pessoais, por vezes abrimos mão desse velho expediente de querer agradar para além dum determinado limite e tendo uma certa finalidade. Somos humanos, e, como tal, excedemo-nos... Lembro que há anos um tablóide inglês decidiu publicar as moradas dos pedófilos libertados da prisão. Paralelamente, programas do tipo Big Brother permitiam que os seus "admiráveis" telespectadores votassem em quem deveria ser expulso dentro daquela comunidade fechada. Já agora, aconselhamos a não verem esse tipo de programas... É pura alienação e ao fim de 40 ss. provoca dor nos parietais. Não vejam...
- Ontem o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos aparece muito bem coreografado na TV mexendo no rato do seu Portátil - manipulando a lista dos nomes dos devedores ao fisco como meio de pressão para que - esses mesmos devedores relapsos - regularizem as suas contribuições, sob pena de verem publicitadas as suas identidades pessoais e empresariais junto do tribunal da Opinião pública. Até porque o Estado precisa urgentemente de receita e os impostos são a sua principal fonte para que ele depois possa acudir e estancar a sangria de recursos dos orçamentos da Educação, Saúde e até Adm. Pública - verdadeiros sorvedouros dos impostos que os portugueses pagam para manter a máquina do Estado a funcionar.
- Nuns casos o nome dos pedófilos são conhecidos após cumprirem pena na cadeia; noutros os telespectadores têm o poder de expulsar candidatos que entraram num programa, e noutros ainda um ministro da República ameaça - ainda que subtilmente - os contribuintes relapsos a acertarem as contas com o Estado son pena de verem o seu nome caído na lama junto da opinião pública.
Embora diferentes na origem, o que têm de comum estes três casos? Julgamos que em ambos os casos se joga com o peso das multidões, a pressão da opinião pública para, assim, o Estado resolver problemas sociais, económicos, financeiros e até de costumes (como é a pedófilia) que de outro modo não se resolveriam. Já agora: que pensar dum Estado - enquanto administrador de Justiça - que anda há 3 anos carreando provas e não consegue setenciar (ou absolver) esses indiciados de pedofilia e que são conhecidos de todos nós???
- Por outro lado, ao ver o ministro das Finanças naquele ar informal em início de férias não pude deixar de pensar no teledrama que estava alí a fabricar - arremetendo os ódios das multidões contra uns indivíduos relapsos que não pagam ao fisco. E à medida que T. dos Santos falava - eu só o ouvia dizer: "crucifiquem esses malandros relapsos, crucifiquem-nos. Se não ouvem ou obedecem às leis da República feitas pelo meu querido Chefe - Socas - agora têm de se agachar à influência dos media!!!" (o texto é meu).
- Creio que foi isto que se passou ontem com aquele teledrama do ministro das Finanças para resolver problemas de cobranças de impostos em Portugal. Que expediente, meus Deus!!! Quando se recorre a isto... Estamos perdidos!!! O écran da televisão servia para o "eduvertimento" (educação + divertimento), informar e formar, agora constato que serve também para reforçar a eficácia das leis fiscais da República, vigiar os contribuintes, pressioná-los a não serem relapsos, arremessar o poder terrível das imagens contra os contribuintes mais "esquecidos".
- Ontem ao "ouver" Teixeira dos Santos - com aquele ar de fadre anafadinho que ele tem ainda pensei que estava alí a representar mais uma sessão do Plano Tecnológico (que poucos conhecem) em registo de powerpoint num portátil de marca ligada ao Bill Gates -, ou ainda a fazer uma sátira selvagem da imprensa popular e aos programas alienantes que temos por aí (big brothers e compª) - num gesto de caricatura grosseira ao estilo de G. Orwell, J. Swift... Mas não!!!, o ministro das Finanças estava alí para tratar de assuntos de E$tado. E também duvido que alguma vez tenha lido aqueles autores, ou sequer Alexis de Tocqueville.. Aqui ele não entra... São livros sem números, e um bom ministro das Finanças só decifra números e cospe as letras para a borda do prato.
- Como? Agitando suavemente os ódios da hiper-multidão que paga sobre a multidão-menor que não paga impostos. Neste caso, o objectivo de T. dos Santos não será vender jornais ou promover os shares de Pub. da tvs onde dá entrevistas - mas potenciar as margens de cobrança efectiva do Estado para Sócrates mostrar obra e, naturalmente, vir a ser eleito nas próximas legislativas e fazer mais um mando, óbviamente. Julgo que ninguém sensato terá dúvidas sobre isto... E o Macroscópio considera-se um espaço de análise sensato, às vezes rebelde - próprio do seu ADN.
- Uma nota final: será isto coragem política - apelando a este tipo de motivações e usando este tipo de expedientes? Terá o governo socialista alguma vantagem em que o seu ministro das Finanças burile os piores instintos do povo para se fazer obedecer - via écrans de tv? Não creio... Em todo o caso, em política, o que contam são os resultados, e se assim - houver mais receita a conclusão será lógica... Temos Socas por mais 4 anos.
- Nem que seja por esta via da excitação populista da tele-democracia - que agora consiste mais numa política de excitação do que razão. E perante isto uma questão assaltou-me o espírito: por que razão Teixeira dos Santos - quando deixar a pasta - não vai fazer televisão... Quiça como pivot de um programa do Big Brother em que lhe seria dado o poder de decidir quem ficaria na casa do Big Brother e quem seria expulso... O mesmo se aplicaria aos outros, ié, aos tais que não pagam impostos...
- Três breves notas:
- PS: Notamos que o blog Jumento tem andado estagnado. Julgamos não se tratar de férias, mas de dificuldades operacionais do seu servidor. Mas nem quero imaginar o que ele diria destes novos role-playings que Teixeira dos Santos anda por aí a encenar... Ou então - já estarei para aqui a supôr que o Jumento é um dos visados pelo teledrama do ministro das Finanças - e resolveu, antecipadamente, dizer que ía de férias e pirar-se de vez para Espanha. Aguardemos, pois. Assim como assim, dedicamos-lhes esta reflexão - que por ser de natureza fiscal - que supomos ser do seu agrado.
- PS1: Ainda pensei, para rematar, que Teixeira dos Santos, dissesse que o mundo tem de ser tornado seguro para a democracia, como diria W. Wilson, e que ele se socorria da TV para o tornar ainda mais seguro em Portugal.
- PS2: Havia um velho que julgava que a porta da rua estava parcialmente fechada, mas umas ratazanas enormes comeram o seu casaco e o seu chapéu - enquanto ele dormitava... Esta é dedicada ao autor do novel teledrama em Portugal - rasgando assim uma nova maneira de fazer política no burgo.
<< Home