O estado da arte no conflito no Médio Oriente
Este foi o editorial d' ontem do Jumento. Espreito-o hoje e constatei que não foi apenas a quantidade de intervenções que balizou aquela discussão, mas, essencialmente, a sua qualidade, abrangência e piadas à mistura, tanto quanto é possível e tolerada numa situação destas. Valerá apena relê-lo, porque ele fica para além da espuma dos dias. No final, deixamos aqui um cometário.
- - Israel pode fazer a guerra sem se preocupa com as consequências económicas, o aumento dos preços do petróleo que leva muitos povos a passar por dificuldades não o preocupa, problemas de défice não o incomodam, e a mobilização militar sistemática não afecta os seus níveis de produtividade. Israel pode aproveitar as guerras para ocupar territórios, para criar zonas tampão ou muito simplesmente para os transformar em terra queimada, como se estivéssemos na Idade Média. Israel é o único país do mundo que define as suas fronteiras pela força das armas e em função do que entende serem os seus problemas de segurança. Israel está dispensado de acatar as poucas resoluções do Conselho de Segurança que a ONU consegue aprovar. Israel aceita as decisões internacionais que bem entende, e desenvolve as armas que entende serem necessárias, incluindo armas nucleares. Quando a segurança de Israel está em causa não há fronteiras, não há instituições internacionais, não há diferenças entre objectivos civis ou militares, entre civis e militares ou entre crianças ou adultos, todos os objectivos e cidadãos não israelitas tornam-se objectivos militares. Quando Israel inicia uma guerra não há diplomacia nem negociação, as guerras acabam quando o seu governo entende que foram alcançados todos os seus objectivos, independentemente dos custos económicos ou humanos.
- Comentário:
- Julgo que o que é singular nesta conjuntura não é tanto a força militar - que Israel sempre teve, com um serviço de intelligence altamente eficiente e eficaz, por vez até doutrinador da própria CIA. Julgamos que aqui o que é novo é o poder simbólico agregado ao poder efectivo deste tipo de operações, que vão muito para além dos códigos legais formais. Talvez por isso valha a pena meditar no seguinte: toda a acção de guerra, todo o acto terrorista tende a criar uma imagem, uma metáfora - ela própria simbólica - do provável alvo que pretende atingir.
- - Ora, num tempo histórico marcado pela intensa mobilidade, a 1ª condição do sucesso terrorista (seja do lado de Israel, seja do lado árabe) será fixar o seu alvo, evitar que ele se desfoque e se torne inatingível. Mesmo que os escudos sejam crianças, jovens, adultos e velhos. Vai tudo a eito, como fazem as máquinas enfardadeiras nas grandes planícies.
- - Sucede, contudo, que essa necessidade produz uma mutação fundamental no próprio território - colocando-o para lá da sua própria geografia matricial e das reivindicações colocadas pelas capitais políticas influentes na região do Médio e Próximo Oriente, zona também muito rica em petróleo - que é uma espécie de celeiro do mundo - em matéria de carburantes.
- - É esta singular relação - porque global - e indirectamente afecta a unidade real (e de análise) em que se transformou o próprio mundo - que situa o problema no plano simbólico, com toda a sua complexidade e exponencialidade, dado que o arms race abrange todos os actores susceptíveis de ter uma palavra a dizer na área.
- - Mas isto decorre PORQUÊ? E é isto que convém esclarecer, pois é aqui que está a chave do problema: o qual passa pela harmonização das questões culturais e religiosas vindas do passado. Ao assumir a forma do sacríficio e do martírio, o terrorista (do lado árabe) assume essa dimensão da produção do sagrado; ao assumir a vontade de controlar cirúrgicamente o seu espaço vital (o lebensraum) Israel mais não faz do que dizer ao mundo: eu quero sobreviver ante este ninho de víboras.
- - Não se conhecendo esta matriz diferencial ligada à cultura potenciada pela religião - não vejo como haja paz naquela conturbada região do mundo. Essa talvez seja a mutação essencial do terrorismo - que agora ameaça eternizar-se, e parece que é também pela afirmação desses sistemas da morte que aqueles dois povos pretendem resolver ou esbater as diferenças culturais, religiosas e políticas, assim como todas as suas reivindicações nacionais.
- Ontem ao ouvir o sr. barroso a dizer aqueles lugares comuns a partir de Bruxelas lembrei-me duma aula que ele deu ao tempo da faculdade. Já na altura enfastiava... Agora ainda mais. Alguém lhe deveria fazer umas súmulas antes de ele falar aos media... Nem que fossem estes a fazê-lo!!!
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