Os impactos da globalização na economia portuguesa
Compulso dois textos, ambos sobre as consequência da globalização predatória (segundo expressão feliz de Richard Falk) na nossa incipiente economia nacional, que logo estremece quando os ventos sopram do outro lado da fronteira. Fazê-mo-lo aqui a coberto da teoria da globalização competitiva que comanda todo este processo no plano epistemológico. Aliás, é num contexto de forte concorrência que a defesa ou a conquista das quotas de mercado assenta na rapidez. O first mover é muitas vezes aquele que virá a ser o vencedor. Mas parece que Sócrates foi o primeiro mas foi a telefonar ao "Mr. GM" pedindo a tal "cunha" (derrogatória e/ou protelatória). Mas, infelizmente, as empresas já não se podem dar ao luxo de se vergarem e de esperarem pela lentidão dos processos burocráticos, nem podem esperar indefinidamente por uma decisão aleatória do Estado português. Ora vejam estas duas perspectivas (complementares) seguidas da nossa própria no final:
- 1ª Reflexão:
- JÁ É TEMPO DE SUBSTITUIR O MINISTRO DA ECONOMIA (in Jumento) Começa a ser evidente que onde este ministro da Economia mete o dedo os resultados são, no mínimo, inesperados, pode-se mesmo dizer que “cada cavadela” uma minhoca. Apresentado como uma grande vedeta, este quadro do Grupo Espírito Santo, era a “arma secreta” de José Sócrates, era o homem que iria modernizar o país, uma sumidade internacional que trocava o conforto do banco, pelo serviço público, como ele próprio defendeu. Só que ainda não se viu nada, a gestão do Plano Tecnológico, a grande bandeira de Sócrates, foi um fiasco, e quanto ao plano vamos esperar para ver. Entretanto as asneiras vão-se sucedendo, a mais emblemática (mas talvez a menos grave) foi a famosa conferência de imprensa para apresentar o investimento na maior refinaria da Península Ibérica, que afinal não era viável porque produzia CO2. Ao fim de mais de um ano este ministro só produziu publicidade, os fracassos governamentais sucedem-se e, pior do que isso, em muitos deles é evidente a má gestão política dos processos, como agora sucedeu com a Opel da Azambuja. Se Sócrates conseguiu adiar uma decisão telefonando para o presidente da General Motors o que andou o governo (e Basílio Horta) a fazer até agora? Partindo do princípio de que a intervenção de Sócrates não tem por objectivo enganar os portugueses, fazendo-lhes pensar que o primeiro-ministro fez tudo o que estava ao seu alcance, teremos que concluir que a intervir que a intervenção do primeiro-ministro se justifica para corrigir as asneiras ou a falta de credibilidade negocial do ministro. Depois do que sucedeu com o projecto da refinaria de Sines e com a fábrica da Opel da Azambuja só um investidor idiota é que perde tempo a negociar com o ministro da Economia, depois de todos estes incidentes ninguém vai acreditar nele. Enquanto a oposição usa o velho truque de desgastar os ministros mais competentes ou que mais prejudicam os grupos de interesses em que se apoiam, tudo fazendo para que se mantenham os mais incompetentes, para que estes funcionem como “abono de família”, talvez esteja na hora de Sócrates substituir o seu ministro da Economia, que em quase todos os dossiers importantes teve que ser substituído pelo primeiro-ministro. 2ª Reflexão: in - Taberna dos Inconformados - (...)
- "Vou aqui tentar frisar mais a questão internacional deste caso, falar mais a nível global. Reestruturação, pois. Esta simples palavra usada num gabinete qualquer na chefia desta marca automóvel vai mandar 1200 trabalhadores directos e muitos outros indirectos para o desemprego. É uma vergonha! As empresas multinacionais só pensam no lucro, não pensam no indivíduo que soa a camisola para este nome. Sim, porque nesta fábrica os trabalhadores estão motivados para fazer um bom trabalho. Tinham assinado um contrato de conciliação social com a casa mãe que vigora até 2009. E agora isto? Deve ter sido um choque para eles, sentem-se enganados. Eu até sou a favor da assim chamada globalização. Mas há limites. Acompanhei de perto o fecho da fábrica da Samsung em Portugal. A razão foi que numa fábrica da marca na Alemanha conseguiram produzir um TV muito mais barato do que cá. Com a Grundig em Braga a mesma coisa. Pouco tempo antes até tinha feito uma visita guiada a essa fábrica, e na altura ninguém falava de um eventual encerramento, falavam apenas de uma reestruturação, mas nunca do fecho completo. Normalmente o engano começa assim. Faz-se uma nova fábrica algures. Com linhas de produção modernas e com pouco pessoal. Nas antigas pouco ou nada se investe, assim tornam-se obsoletas. Mais tarde dá-se essa desculpa, dizem que a fábrica já não é rentável. Como o caso da Azambuja. Segundo diz um elemento da comissão dos trabalhadores, se a fábrica tivesse certo tipo de máquinas, o custo de fabricação por automóvel baixaria significativamente. Ora aí está. Pensam que a Opel não sabe disso? Sabem, mas não querem saber! Aproveitando ainda os mais baixos salários em outros países, nomeadamente do leste, até se lançam em grandes investimentos para construir novas fábricas, e mesmo assim compensa! Isto é inaceitável. Mas nunca nos podemos esquecer que a Opel, ou melhor, a GM é americana, o centro da decisão está nos EUA, e não na Alemanha (Rüsselsheim) como alguns pensam. É natural que estejam em crise. Em minha opinião, eles têm uma política parecida com a Fiat. Produzem barato, a qualidade sofre, e o cliente não é parvo. Além de muitos modelos serem pouco atractivos visualmente, a política nos modelos desta marca não tem sido constante nos últimos anos. E isto reflecte-se nas vendas. A grande concorrente deles, pelo menos na Alemanha, é a Volkswagen. Lá o Golf ganha sempre em termos de vendas ao Astra. Porquê? Em meu ver pela política de sucessão destes modelos, constante na VW, inconstante na Opel. O Golf até é mais caro, mas também qualitativo muito melhor. Se a fábrica fechar, proponho aqui uma iniciativa nos blogues! Fazer pensar os que querem adquirir um novo automóvel, para que pensem duas vezes, antes de comprar nesta marca. Claro que pode prejudicar os concessionários, mas com as margens de lucro com que eles operam, pouco vão notar. Ganham mais nas reparações dos automóveis do que na sua venda. Por isso, quem adquirir um produto da Opel que pense nos trabalhadores da Azambuja!"
Nota: os sublinhados são nossos.
- Tanto um texto quer outro são tão realistas quanto pessimistas. Ou, como diriam os russos ao tempo da Guerra Fria, um pessimista é um realista bem informado. Mas vamos ao que considero essencial. É certo que todo o sistema económico internacional se vai desmoronando a partir do momento em que as trocas comerciais são hiper-liberalizadas sem qualquer freio - e em que os produtos fabricados localmente passam a ser confrontados com produtos, serviços e mão-de-obra importados. De facto, os custos unitários dos produtos locais (em Portugal) são geralmente mais elevados, porque, por um lado, a dimensão do mercado interno limita as economias de escala e, por outro, eles são de qualidade inferior devido à utilização de inputs e de fornecedores locais e de consumidores mais exigentes.
- A Opel é apenas mais um exemplo da passagem turbulenta da economia multinacional para a economia global - tendo a economia nacional como referência. Acresce, por outro lado, uma outra razão: as características da globalização competitiva trazida com a dobra do III milénio são, na realidade, pouco compatíveis com a manutenção de regimes discriminatórios em relação a investimentos directos estrangeiros. Especialmente, a partir do momento em que esses bens e produtos se destinam ao mercado mundial e não exclusivamente a um mercado interno protegido. Logo, a partir do momento em que as políticas macro-económicas dos Estados abandonam a referência aos modelos centrados na industrialização local sob a orientação do sector estatal para priorizar a iniciativa privada, pensando no mercado e nas exportações como motoras do desenvolvimento... Nem os telefonemas de Sócrates ao presidente da GM - nos States e não na Europa, filial daquela - valerão de muito.
- Ou seja, desde o momento em que as trocas externas, o regime de trocas e a fixação dos preços são liberalizados e as empresas públicas são privatizadas, nada, mas nada mesmo, poderá justificar telefonemas ou regimes derrogatórios e discricionários para investidores estrangeiros. O que significa que eles têm de estar sujeitos às mesmíssimas regras dos investidores nacionais, com direitos e deveres idênticos.
- Por isso, o putativo telefonema de Sócrates, segundo a afirmação do Jumento, que é sem dúvida o melhor blog nacional, a Sócrates parece-nos - uma daquelas cunhas que o Director-Geral das Necessidades mete ao ministro da pasta de forma a que este nomeie o seu filho para embaixador em Bruxelas. Tudo bem.., o problema é que o filho do director-geral - mais tarde ou mais cedo não se aguenta, já que o movimento de liberalização das economias nacionais é tal que os centros das decisões políticas nacionais - ou seja, as soberanias e os aparelhos estatais, já há muito que deixaram de estar em condições para proteger os produtos locais da concorrência mundial. Na prática, a dicotomia entre o que é nacional e o que é estrangeiro desaparece perante a definição dos produtos, dos factores de produção, da qualidade da rendibilidade das remunerações desses factores e dos métodos de produção. Talvez seja por este conjunto de factores, aqui explicitados pela teoria da globalização competitiva, que farão com que a OPEL, e muitas outras empresas multinacionais (desse e doutros sectores de actividade, de média e de grande dimensão), amanhã ou depois possam levantar a tenda e assentar arraiais em qualquer outro ponto onde os factores sejam melhor remunerados e as capitalizações mais elevadas.
- Isto é tão certo como Portugal venceu o Irão. Sendo que no 1º tempo ainda me perguntei se aquele árbitro tinha recebido alguns barris de petróleo, embora no 2º tempo tenha percebido que, afinal, ele não foi assim tão incompetente. Um contraste com a selecção portuguesa que jogo muito bem. Estamos de parabéns... Venham o México, Brasil e, quiça, também algumas brasileiras... Eu, nós, o Portugal inteiro ainda veremos muitas, boas e inesperadas greves nesta trajectória contingente e errática que se chama Portugal.
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