Admirável mundo velho
- Vendo aquele adolescente pisar água sem se afundar é admirável. Por ele, pela tecnologia usada mais parece os truques do Luís de Matos. Tudo ilusões. Mas enquanto nos deixamos cair nelas há tempo para um fragmento de meditação. Que nos sugere que a nossa percepção quotidiana não passa , afinal, de uma ilha, rodeada por um vasto oceano de consciência que ignoramos ou nunca explorámos.E até nem é por sermos mandriões...
- Viver no tempo em que me é dado viver é, de facto, extraordinário, pois todas as culturas do mundo, todas as tecnologias, passadas, presentes e as que já se anunciam para o futuro, estão aí, de fronte dos nossos olhos, ao alcance das nossas carteiras. Seja por via directa - mediante entidades viva e virtuais da "silva", seja por recurso ao registo histórico. Hoje já nada se pode esconder em toda a nossa história. Até num WC estamos sendo filmados, e segundo consta as modernas WC estão equipadas com urinóis para pessoas com tamanhos diferenciados de pénis: Short, Medium e XL.
- Isto é um lugar comum, mas dantes quando uma pessoa nascia ela só tinha acesso à sua cultura, e nada mais sabia sobre outras culturas que existiam. Se nascessemos portugueses morreríamos assim, e assim crescíamos, casávamos e morríamos. Sempre na mesma cultura, na mesma religião, na mesma casa, comendo sempre os mesmos alimentos e vendo sempre as mesmas pessoas. Assim foram as rotinas dos séculos. Assim evoluímos, de tribos, para aldeias, para feudos, para cidades e depois para impérios. Que belo ultramar fizémos... As nossas relações bilaterias com Angola são, hoje, bem um exemplo dessa desgraça histórica colectiva. Depois veio o capitalismo e a aldeia global do M. Mchluan - seguida do crescimento exponencial da humanidade.
- Agora vemos aquele sujeito a caminhar sobre água no video aqui de baixo. O que me surpreende não é ele conseguir fazê-lo, mas sim fazê-lo ao mesmo tempo (real e programado) em que não conseguimos detectar a forma como o faz. É essa arte e techné da ocultação que nos surpreende. De tal forma que a linha da frente da nossa evolução é uma verdadeira trajectória inesperada. Lembro-me que há cerca de 20 anos comecei a estudar Ciência Política pelo Manual de Marcello Caetano e a dada altura lá se diz, num português magnífico que ele tinha, que em política (seguindo o parlamento inglês, creio) tudo era possível excepto transformar um homem numa mulher. Como isto entretanto já se desactualizou.
- Este milénio integral que temos pela frente, e do qual só nos resta viver um fragmento, representa uma terrível possibilidade de conhecimento, de tecnologia e de sabedoria que hoje se encontra à disposição de todos. Por isso, não me admiraria que mais década menos década teremos aí uma teoria de tudo que nos possa explicar rigorosamente tudo o que se passa na terra e entre os homens.
- Talvez aí possamos dizer que vivemos uma eternidade. Até teremos de pensar em fazer filhos porque a taxa de natalidade já é tão regressiva que em Portugal qualquer dia o jovem mais imberbe tem 65 anos. Muitos deles, porventura, ainda a negociar um subsídio de desemprego com uma qualquer Opel das nossas vidas. De facto, vivemos mesmo num admirável mundo novo e velho, mas em ambos os casos ele não deixa de ser deveras estranho.
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