A inércia de Marvão a Património Mundial
Património Mundial: Autarca diz que Marvão «está de luto»
O presidente da Câmara Municipal de Marvão, Victor Frutuoso, garantiu hoje que a vila está «de luto» com a retirada de candidatura local a Património da Humanidade, pela UNESCO, e considerou a situação «traumatizante».
«É traumatizante termos de retirar a candidatura de Marvão a Património da Humanidade, depois de oito anos de trabalho intenso e de termos sempre acalentado esse sonho. Estamos de luto», disse.
O presidente do município falava aos jornalistas, em Marvão, depois de uma reunião com a ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, e a comissão técnico-científica da candidatura a Património da Humanidade, pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).
No final do encontro, foi anunciado que Marvão tinha decidido retirar a candidatura para evitar a sua anulação, depois de o ICOMOS (Conselho Mundial de Monumentos e Sítios), um órgão consultivo da UNESCO que propõe os bens para a classificação de Património Cultural da Humanidade, ter dado parecer negativo.
Para o autarca Victor Frutuoso, a não classificação de Marvão como Património da Humanidade pode colocar em causa o desenvolvimento do próprio concelho, pertencente ao distrito de Portalegre.
«A classificação de Marvão dava-nos maior visibilidade e uma garantia de atractividade, não em relação ao turismo de massas, mas ao turismo cultural», sustentou.
Apesar de reconhecer estar «abalado» com o encaminhar do processo, o autarca mostrou-se optimista quanto ao futuro.
«Vamos retirar a candidatura para a reformular e apresentá-la novamente e acredito que Marvão, no futuro, pode vir a ser classificado Património da Humanidade», frisou.
Victor Frutuoso adiantou ainda que, nesta nova etapa, Marvão conta com os «apoios inequívocos» do Estado Português, ao contrário do que aconteceu, em alguns momentos, no passado, relativamente ao processo.
O coordenador da comissão técnico-científica da candidatura de Marvão, Domingos Bucho, indicou hoje aos jornalistas que está a ser equacionada a possibilidade de avançar com um novo processo, desta vez conjunto, com outros sítios de igual valor patrimonial em Portugal ou Espanha.
A candidatura de Marvão a Património Mundial começou a ser preparada no final de 1998 e a decisão final da UNESCO era aguardada para o próximo mês de Julho.
Diário Digital/Lusa
13-06-2006 17:24:06
Património Mundial: Candidatura de Marvão poderá ser retirada
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Portaria: Pergunte-se ao senhor engº V. Frutuoso, actual autarca de Marvão, o que é que ele e a sua equipa de verão (perdão, de vereação) fizeram ao longo destes 8 meses de governação autárquica a fim de melhorar, aperfeiçoar a instrução global do processo que candidatou a Vila de Marvão a património Mundial da UNESCO. Estou particularmente à vontade para daqui lhe endossar a pergunta-crítica, na medida em que fui dos que mais o ajudei desinteressadamente (em bom português, "sem receber um chavo") e até o chamei a atenção para a necessidade de desenvolver técnica e culturalmente essa vertente. Logo em Agosto - quando ele andava aflito e com falta de ideias para pôr no terreno uma estratégia que se visse e impedisse que o PS ganhasse a câmara. A semana passada alguns amigos de Marvão tiveram a oportunidade de me transmitir essa gritante preocupação que, aliás, já conhecia: a inércia na autarquia era a regra, logo o resultado (lamentável) também não surpreende. Não queria ser demolidor nem injusto mas este resultado negativo tem de ser imputado à actual presidência da autarquia alentejana e ao Estado português que através do ministério da Cultura (e da Educação, subsidiáriamente) poucos ou nenhuns esforços conjugados racionalizaram a fim de potenciar a Candidatura junto do ICOMOS e da UNESCO. Quando o vir lá pelas ruas estreitas de Marvão, por entre a história e as brumas da memória, ainda lhe repetirei aquilo que lhe disse inúmeras vezes pelo telefone (quando tinha a amabilidade de me ligar) e que aqui e agora, por pudor e ética - a minha educação me impede de reproduzir. Para tanta inércia julgo que até Deus é pequeno demais para ajudar... Espero, contudo, que o Senhor me perdoe por explicitar esta evidência (política) gritante. Ainda por cima em versão alentejana...
- Adenda: neste blog Marvão Sustentável - (que ainda não foi apagado) - sob o Lema - É Tempo de Mudar - Vitor Frutuoso apresenta-se à população através do seu ideário e do seu programa político-eleitoral. Nenhuma linha de política cultural lá perscrutamos. Nem com lentes de hermeneuta lá conseguimos vislumbrar algo dessa natureza...que cheire a Cultura (com "C" grande). Em Agosto tive oportunidade de lhe referir pessoalmente essa gritante lacuna. Agosto foi muito antes das eleições autárquicas de 2005. Havia mais do que tempo. Havia uma eternidade... Mais perguntas, mais comentários, mais críticas e juízos para quê...
- Adenda 2: Será útil ler esta entrevista que não deixa de ser um testemunho vivo realizada por um Jornal Regional - Fonte Nova - donde, aliás, foram picadas estas fotos.
- Adenda 3: creio que numa situação destas, em que está em jogo um projecto estrutural de qualificação mundial para Marvão, a autarquia teria que ter envidado os esforços para reunir toda a informação possível que pudesse valorizar e consubstanciar o dossier intruído em 1998. A ideia seria, naturalmente, enriquecê-lo e valorizá-lo com várias adendas ao projecto inicial. Se possível atacando políticamente em duas frentes: directamente, ou seja, da autarquia junto das instâncias competentes da UNESCO mantendo o ICOMOS informado com regularidade e disponibilizando toda a informação possível; e por intermédio do ministério da Cultura - que - de forma conjunta - manifestaria junto da UNESCO outro peso institucional. Aqui até o próprio aparelho diplomático das Necessidades também poderia desenvolver um trabalho complementar junto das instâncias competentes: facultando ou solicitando informações de valor estratégico. Fazer isto era o que naturalmente se impunha. Creio que nada disto se fez. Por isso, não se comprende a natureza daquela expressão: "Marvão está de luto". Se há, por omissão, políticas públicas infelizes expressões há que ainda o são mais... À luz deste contexto até se pode pensar que se está a brincar aos projectos de classificação a Património Mundial... E se assim é não deixa de ser lamentável. Não só porque o país vive uma situação de crise continuada (recessão) como a região do Alto Alentejo e os marvanenses (em particular) não o merecem.
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