terça-feira

Oferta para a Feira do Livro no Parque Eduarte VII

Se o rei não é amado é bom que seja temido para nunca ser desprezado. Em calão: se queres singrar neste mundo, máxime ao nível da alta diplomacia entre Estados, tem que se observar as maiores "filha-da-putices" possíveis e imaginárias. Kissinger aprendeu isso com Taylerrand que por sua vez, já o tinha aprendido com Nicolau (não o do Expresso que usa papillon, mas o outro) - o Maquiavel. De facto, é um desses mestres da filha-da-putice ao serviço da República Imperial como Raymond Aron lhe chamou. Se houvesse um tribunal de ética e de moral este tipo já estava a cumprir uma pena cumulada prá aí em 500 anos de cadeia. Como não há, e a vergonha parece que também não abunda no Portugal-político, o Al Berto passeia-se em Belém como se fosse um anjo à la Jimmy Carter. Por isso, sugerimos aqui à Associação Portuguesa dos Editores e Livreiros (APEL) que ofereçam o livro de Kissinger - Diplomacy - a todos os políticos no activo e na reserva que por lá passarem. Muitos vão mesmo precisar porque só têm uma vaga noção das ditas filha-da-putices cometidas pelo ex-garanhão de Washigton dc., que costumava dizer que o poder era o maior dos afrodisíacos. Paz à sua alma, porque quando ele partir milhares de pessoas ficarão ainda chorando os seus entes queridos em muitas guerras que ocorreram dentro da Guerra-Fria, e de que o caso de Timor-Leste foi apenas um epifenómeno dessa realpolitik kissingeriana tocada pela espada e tingida pelo sangue. Nesta medida, Kissinger trouxe-nos uma nova abordagem e um dia ainda lhe escreverão a história na testa numa dessas escalas de aeroporto internacional por onde passeia a surdez tentando, assim, apagar alguns crimes da história de que foi autor (e co-autor). Será que Belém sabe disto, ou só leu algumas introduções traduzidas em calão post-moderno??

Nota: pedimos desculpa por ter utilizado a expressão "filha-da-putice", mas é que a gramática da ciência política e das relações internacionais ainda não se flexibilizou ao ponto de poder exprimir situações excepcionais deste quilate. Kissinger merece bem este selo da afinsa lusa, merecia bem um tribunal da história que o julgasse, como se fez com o Pinochet. E o mais curioso é que quando estudamos estes "animais" na faculdade achamo-los uns génios, depois temos a certeza que são verdadeiramente uns energúmenos que utilizam a inteligência que têm para cumprir a teoria da realpolitik, mesmo que isso implique a morte de milhares de homens e de mulheres inocentes. O que nos coloca uma outra questão filosófica e ética: só os homens que fossem simultaneamente inteligentes e bondosos deveriam poder ascender a cargos de grande responsabilidade política, que mexem com a vida de milhares de pessoas ao mesmo tempo. Doutro modo, regressamos à velha teoria da razão de Estado que não é mais do que a teoria da filha-da-putice legitimada pelo aparelho de Estado, ao abrigo da qual se cometeram (e cometem-se) as maiores barbaridades. Pergunto-me o que faria se visse Kissinger na Baixa na LOja das Meias, no Colombo comendo gelados ou, simplesmente, a atravessar uma passadeira de peões em Carnaxide... Parece-me que a resposta não é de difícil adivinhação. E você, o que faria: acelerava e abria a porta, ou pedia-lhe um autógrafo à siciliana?!