sábado

O modus operandi do caso Afinsa e o paralelo com a Dona Branca

O ‘modus operandi’ desta fraude é o clássico processo de pirâmide onde se prometem retornos elevados aos primeiros investidores. Esses retornos são alimentados com a angariação de novos clientes que pagam com as suas poupanças os juros anunciados. Este esquema atinge um ponto de saturação quando os beneficiários dos juros são mais do que os clientes angariados. Foi o que aconteceu em Portugal com o caso Dona Branca.
  • Muita gente até o ouro legado pelos avós converteu em dinheiro para o depositar nos famosos cofres da D. Branca que tinha escritório ali para as bandas das Avs. dos EUA e Rio Janeiro, entre outras filiais... Inicialmente, o peso das malas em dinheiro era tal que os guarda-costas vergavam só para o transportar em forgons Ford-Transit. Carros também utilizados pelos padeiros na província, então indistinta da cidade.
  • Depois o negócio cresceu e alargou-se ao sector imobiliário. Mas a partir de certa altura os clientes-credores eram "mais-do-que-as-mães" e os malões cheios de dinheiro esvaziaram-se num ápice. Sobreveio o pânico: alguns safaram-se e fugiram para o Brasil, donde regressaram só uma década depois e bem sucedidos na vida; outros ficaram na miséria porque enterraram alí as poupanças duma vida sofrida; outros ainda ficaram a rir-se por não terem investido um tostão e ter visto os amigos do lado com a corda na garganta. Houve de tudo para todos no menu dos juros da desgraça.
  • Dona Branca foi parar com os costados às Mónicas e viu o sol aos quadradinhos, mas nem por isso deixou de ser um mito no Portugal saído do 25 de Abril, em que o povo pouco mais era do que analfabeto mas ávido de fortuna; o sistema bancário uma sombra do que é hoje e funcionava com caixas registadoras que hoje são peças de museu dignas de Feira da Ladra; a informação típicamente informal, à africana, e tudo se passou a uma velocidade alucinante.
  • Hoje, o caso Afinsa, salvaguardadas as devidas distâncias, volumes de massa monetária e número de clientes, recordo esse tempo do Portugal rural que tinha vivido o 25 de Abril à meia dúzia de anos.
  • Mora da estória: assim como na década de 80 o "caso Dona Branca" - a que somaram os putativos poderes sobrenaturais, provocou um terramoto nos costumes e nas mentalidades da sociedade portuguesa, também agora esta alegada fraude da Afinsa em Espanha - pode prefigurar uma situação semelhante na sociedade espanhola. Com uma particularidade, é que o Sr. Figueiredo - ali muito compenetrado na foto, é português, de (b)Viseu. E já se entrevêm grandes negócios no domínio da 7ª Arte e da produção de conteúdos televisivos, pois à semelhança da novela "A banqueira do povo" (inspirado na Dona Branca) - que rodou em Portugal pode, agora, seguindo o mesmo critério de aproveitamento de escândalos financeiros - passar-se o mesmo em Espanha.
  • Enfim, antevêm-se mais novelas que irão rolar na TVi, nem que seja em castelhano. E também isto é o sinal dos tempos que revela, entre outras coisas, que todos já estamos mais velhos quase 30 anos. É impressionante como tempo passa e os escândalos se repetem. Parece até que não aprendemos nada com o passar do tempo e só regredimos ante a gula e a avidez do dinheiro, que ora nos conduz à fama e à cadeia, ora nos mata pelo efeito de constrangimento da tal sociedade de abundância de que nos falava John Kenneth Galbraith.