O Homem está em fuga do pensamento
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Digam lá se o Heideger não tem um olhar sacana.... Projectando uma sombra fúnebre. O sacana.
Não nos iludamos, quem de nós - mestres, mestrinhos, doutores, catedráticos, e outros com reumático e art-rite, ainda não se deu conta que somos todos pobres em pensamentos? Todos nós, mesmo aqueles maitre à penser - que o fazem por dever profissional, somos todos uns pobretanas em pensamentos, essa tal quinta-essência que não é palpável, é invisível e não tem cheiro como são os pensamentos, as ideias - uns e outros tantas vezes nos pensam. É essa ausência de pensamentos que nos torna seres cada vez mais sinistros no mundo actual. Sabe-se duma senhora, autora de literatura ligth, que processa um académico que fez uma tese na área da sociologia da literatura, e agora, respaldada no normativo do rule of law pretende impedir a publicação do trabalho do tal académico, João Pedro Jorge. Um dia ain
da farei um blog sobre isso, mas tal implica uma tamanha perda de tempo, pois nunca passei da capa e contra-capa de tamanhas incoincidências. As páginas de dentro convidam à fuga, não à reflexão. Também aqui a "Kultura" comportar-se-á como um albergue espanhol, abrirá as pernas e colocará tudo lá dentro. Será? Não creio. Julgo que o common sense, a reflexão e o apelo científico falarão mais alto deixando por terra ilusões que nunca passaram disso: ilusões. Mas este post não remete para a sociologia da literatura, nem da cultura visa apenas revelar como, em certas circunstâncias, nos tornamos hóspedes sinistros. E porquê? Será porque hoje tomamos o conhecimento pelo atalho mais rápido e mais económico? E, no mesmo instante, com a mesma rapidez, tudo se esquece. Somos hoje tecnológicamente mais evoluídos, mais sofisticados, mais-mais e, no entanto, estamos, de facto, mais pobres de pensamentos, de ideias. Infelizmente, estas não nascem debaixo das pedras, nem ao ritmo da OPAs, nem à cadência da crise que nos tolhe, nem.. sei lá... Apenas quero aqui deixar uma ideia de Heideger, que é um tipo que não aprecio muito, mas tenho de concordar que numa sociedade sem ideias, sem pensamentos torna-se sinistra. E nisto o bom do Heideger tem razão, o sacana. Podemos fazer autoestradas, criar estádios de futebol, campos agrícolas, escrever um montão de merda (espero que me desculpem o tom) e dizer que isso é literatura - mas tudo isso, num ápice, se pode transformar num terreno baldio, sei lá... Numa coisa árida, apenas com look jet-setal para ilustrar revista caras ou ser figurante nos morangos com açucar, sei lá. Eu não gostaria de ser conhecido lá fora porque aí se diz que Portugal é um país sem ideias, sem essência, sem pensamentos, sem espírito de razão, privado de pensar. Esta crescente ausência de pensamentos amolga-me, corroi o âmago daquilo que quero pensar e não sei como. Talvez por isso às vezes me chamem "artista" - pejurativamente, é claro!!! Mas quem me chama é outro artista... Andamos todos ao mesmo: em busca de pensamentos. Na rua, no WC, nos cafés, nas salas de jogos, nos teatros, nas livrarias, nas bibliotecas, nos estábulos, nas universidades só se aprende sacanagem - por isso é um sítio que aqui desaconselhamos a buscar esses tais pensa-tempos. Aí retiram-nos é o nosso pouco pensamento. Isto leva-nos à tal conclusão miserável com que iniciámos este post e denúncia a cor da nossa civilização: o Homem actual está em fuga de pensamento, como diria Heideger. Esse sacana. Todavia, essa fuga do pensamento decorre do facto de o Homem - esse outro sacana - não querer ver nem reconhecer essa fuga ao pensamento. Tanta tecnologia, tanta modernidade, tanta hiper-velocidade, tanta merda, afinal, para dar à luz uma míngua de sagacidade, poeira de reflexão. Pensamos não para meditar e reflectir mas para calcular, produzir oportunidades X oportunidades, sacar. Alguns homens quando constatam que já não podem sacar mais (vil metal ou conexos) doutros homens mudam de morada, de telefone, entram em fuga, fingem, teatralizam, prostituem-se, autodestroem-se, anulam-se. É o conceito de homem stand-by - que se tem globalizado, mesmo nas sociedades da Europa do sul. O pensamento que hoje existe só tem uma finalidade: calcular custos certos e benefícios incertos, como o título de um livro do autor da teoria do Oásis - mais conhecido como o adiantado mental.. Mas nós precisamos é do pensamento que reflecte, que medita e não do outro: o pensamento que calcula. Estamos em fuga. Uma fuga sacana.., porque calculada. 
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