Matrix: o novo pensamento político
- Julgo que se está afirmando na sociedade política portuguesa um novo padrão de pensamento, uma espécie de nova linguagem. Desta feita aplicada aos "velhos" de Portugal, ou melhor, aqueles que têm agora de percorrer um caminho mais longo na estrada de Damasco para atingir a reforma de milhares de tugas.
- A forma como se faz um debate parlamentar para parir um ratinho é impressionante. Todo um debate para dizer que velhos e aqueles que para lá caminham à sombra do funcionalismo público, têm agora de trabalhar mais, contribuir mais e sofrer mais nessa trajectória penosa.
- Mas a novidade não consiste nesta esmifragem política contínua, que alterna entre os governos do PS e do PSD. A novidade, creio, está na matriz de pensamento que conduz a política na actual "sala das máquinas" socrática. Confesso até que Sócrates me saíu bem melhor do que a "encomenda"; é inteligente, rápido, teso, truculento, altamente disciplinador, invectiva e farpeia quando necessário, enfim, tem estaleca parlamentar - embora não tenha a cultura política nem um discurso tão estruturado quanto Guterres, seu mentor. Mas também é menos "choninhas" e decide mais rápido do que a dialógica guterriana. Mas o ponto não é esse.
- O nó górdio decorre da tal matrix de pensamento de que aqui me ocupo..., uma vez que é sempre a ideia ou o pensamento que precede a concretização duma acção. Aqui o Marx fica sempre a perder para Hegel, que o virou de pernas para o ar, como sabemos.
- Por exemplo, se Jorge Coelho diz -: "Vou fazer o jantar e a sobremesa ao meu "patrão"; essa ideia precede sempre o trabalhinho que tem na sua preparação, ié, comprar os alimentos para que Coelho - quando estiver na cozinha de avental e toca branca qual padeira de Mafra - possa confeccionar tudo, um pouco "mal e porcamente" - como costuma fazer num programa de "circunferência do quadrado", como lhe chamaria o amigo Zeca da Nau.
- Imaginemos agora que Coelho, além de ser o cozinheiro de Sócrates é também industriado a ir comprar o casaquito Armani ao sr. PM. Ele terá de visitar muitas lojas da especialidade, mas nada de rua dos Fanqueiros onde estão os manequins já com o gesso partido... Não, nada disso!
- Ou até antes de pintar uma tela - para oferecer a Sócrates; ou de conceber para ele uma planta para a sua nova vivenda. Tudo isso implicará um trabalho prévio que já não reporta ao simples cozinheiro mas também envolve o estilista Augustos Coelho, ao arquitecto Cisa Coelho, o pintor Picasso Coelho e por aí fora - até esgotar o quadro de possibilidades, exaurir o leque de gostos e de preferência do "patrão", neste caso o sr. PM. José Pinto Sócrates.
- A ideia na política é, no fundo, esta: qualquer projecto de reforma ou outro - que vise crucificar meio mundo mas que também se chame "reforma", deve depender da criação duma imagem da forma que se pretende transmitir dessa mesma política. Por consequência, se o PM tem de "sacar" mais aos funcionários públicos, ou seja, prolongar mais o seu tempo de trabalho, onerá-los mais nesse percurso profissional, só terá de fixar uma imagem política de que quanto mais se viver-para-trabalhar mais felizes seremos. Será, com efeito, essa ideia de felicidade - do homem que trabalha por gosto até aos 90 anos - que funcionaliza essa corrente de energia física que molda a tal imagem política desejada. Tudo, claro está, para facilitar a "reforma".
- Por isso, já se está a imaginar o trabalho de Coelho quando pretende ser muita coisa ao mesmo tempo: cozinheiro, estilista, pintor, arquitecto wherever... Talvez porque alguém lhe ofereceu o livro do Desassossego do Pessoa - qui ça à porta do Galeto, e ele, claro, confundiu as estações e depois amalgamou tudo na política intestina do burgo.
- Mas, na realidade, pretendíamos aqui pedir ao PS para mudar de cozinheiro, estilista, pintor... Ou então, o que é mais difícil neste momento, - mudar o cenário.
PS: post dedicado a todos os amigos e amigas do PM que ainda não viram Matrix e que dispensam cozinheiros
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