De como as imagens nos enganam...Tributo a Kant
Aprendemos no B-A-Bá da filosofia e do jornalismo que os sentidos nos enganam. Se nos enganam umas vezes podem enganar-nos sempre. Tudo, pois, deve submeter-se ao crivo do entendimento e da razão para despistar os resíduos daqueles sentidos tão perversos quanto enganadores. Em conformidade com a necessidade desse despiste psicológico que a mim próprio me impus, imaginei-me cego mas de bom ouvido e fiz o seguinte exercício: ouvir este homem atentamente, tentar adivinhar-lhe a conduta, a volumetria da pança, a cadência com que fala, o cheiro, a gestão dos silêncios, a respiração, a forma súbtil e ao mesmo tempo rude com que inquire, o primarismo no raciocínio, o basismo na análise. Tentei ainda, e pondo de parte aquele rasgado elogio de César das Neves que me empurrou lá para trás na história, recortar-lhe o perfil facial pelos sons que emitia e (re)conhecer algumas reacções doutros invisuais que, como eu, ali se tinham desafiado a simular este jogo entre a realidade e a ficção em busca da hiper-realidade. Todos em conjunto driblavam este engenhoso exercício de reinvenção da verdade... Tentei tudo isso e cheguei a uma sólida conclusão: este homem é, ou melhor, poderia ser um Padrinho. Não necessáriamente o Padrinho de M. Puzo, não!!! Isso também seria forte demais e abalaria os fundamentos da Igreja católica ora preocupada com a célula-mãe: a família. O que pretendo dizer é que este icon poderia ser uma espécie de chefe autónomo, dentro ou fora da igreja, qual modalidade de Robin dos Bosques siciliano, praticando o bem junto dos amigos, vizinhos e fiéis. Quem não o conheça, quem não saiba que D. Saraiva Martins é um homem da igreja, um homem bom, e também o Prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé, uma espécie de Ifadap só para certos subsídios santíssimos, acreditaria que este homem bem poderia suceder a Marlow Brando numa sucessão de takes bem perto de si. Há ali uma sombra que me obriga a reinventar a história e a ver nele quem, de facto, não é... Contudo, o Padrinho tornou-se há muito parte de uma cultura popular, um segmento apreciável da nossa mundivivência, integra já a nossa psique colectiva. Qual de nós não comporta em si um pouco de mafioso??? Foi isso que vi - claramente visto - naquele Cardeal. Um protótipo daquilo que a minha cegueira me sugeria, depois reforçado com aquele reverencial elogio do economista. Logo me julguei numa sala de cinema vendo D. Alfedro chamando seus fiéis com o dedo indicador e ar sisudo, e apontando o dedo para o canto da sala. Algo iria acontecer... Mesmo sem o querer, revi ali a história da América da década de 20 e da lei da rolha... Naquele stúdio só não se ouviram tiros... Será que eles já usavam silenciador???
- Os sentidos enganam-nos... kant tinha razão, por isso lhe dedicamos este blog.
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