quinta-feira

Uma troika de paradoxos e as birras do poder

Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.usImage Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.us
A recente interpelação que o sr. Tavares dirigiu ao PM - adepto dos impostos petrolíferos - mesmo quando o preço do crude não aumenta nos mercados internacionais - remete-nos para uma noção complexa de crise múltipla, ou seja, crise internacional, crise europeia e crise portuguesa. Tudo ao mesmo tempo. Eis a novidade da conjuntura. Essa noção de crise múltipla é potenciada com mudança política, com a incerteza dos comportamentos dos agentes económicos e também com a própria incerteza política e social que a amplifica na esfera internacional. Estamos, pois, perante um sistema de bonecas russas - em que umas saem de dentro das outras, num exercício constante e infindável que mais parece estarmos diante de puro ilusionismo. Só que não é, pois aqui estamos mexendo na economia real, nos bolsos das pessoas, das famílias, das empresas e das regiões. Dói mais, portanto. E que reagem diferentemente aquela multiplicidade de crise múltipla que questiona o Estado - que já não consegue garantir a sua plena autoridade política. Ora, este epifenómeno do sr. Tavares - que foi demitido por Mariano Gago - ou melhor, pelo PM - com o consentimento do ministro da Economia - (a três, portanto) espelha bem esse desequilíbrio funcional do Estado relativamente à sociedade e que nós aqui ilustramos sumariamente recorrendo a três paradoxos. A saber: 1. O paradoxo democrático - indica a distorção que existe entre a necessidade de ter no Estado os melhores entre os melhores e a lógica dos grandes números que dominam os processos eleitorais - que acabam por dominar e construir a nova base de legitimidade política. Ou seja, nem sempre a democracia dita pluralista facilita ou sequer promove a escolha dos melhores, e se olharmos para decisões do PM no quadro de nomeações políticas recentes, nomeadamente no âmbito da CGD - constatamos essa comezinha evidência. 2. O paradoxo tecnológico - revela, por outro lado, que quanto mais intenso for o desenvolvimento das tecnologias da mobilidade - por caminho de ferro de alta velocidade, por via virtual, de carroça ou "à pata" - como se dizia outrora - mais problemático se torna para os dispositivos de regulação existentes nas mãos do "sr. Estado" - gerir essas diferenciações espaciais, bem como dos ritmos de tempo necessários para informar o próprio processo de decisão política. De molde a encontrar um sistema eficaz de controlar essas dinâmicas que há muito deixaram de ser territoriais para passarem a ser, diagamos assim, "atmosféricas" - uma vez que deixaram de estar referenciadas às velhas fronteiras do Leviatão (T. Hobbes) - para passarem a estar dependentes das diferenças dos ritmos de desenvolvimento dos países estrangeiros que cá querem investir, bem como das empresas multinacionais que oferecem graus de competitividade e capacidades de atracção de capitais, de tecnologias e de recursos qualificados muito diferentes daquele que o burgo apresenta. Ora foi precisamente isto em que se traduziu a resposta de Sócrates ao sr. Tavares e a que o país assistiu em directo. Muito embora o silêncio do poder só tenha dito aquilo que fosse políticamente correcto dizer. neste caapítulo, Sócrates foi um mestre. Aliás, pela forma lapidar e telegráfica como respondeu ele já contemplava no seu espírito a intenção - envolta de embaraço - por parte do sr. Tavares. 3. O paradoxo da modernização - revela que a promessa (eleitoral) de preservar os equilíbrios sociais existentes leva a uma utilização defensiva e corporativa dos mercados de bens, podendo provocar uma descontinuidade nas trejectórias de desenvolvimento de modernização que, no caso de Portugal, decorre da perda de posições na hierarquia dos poderes no sistema de relações internacionais e, por extensão, e no domínio da investigação, da ciência e da tecnologia (pura e aplicada) - corresponde a uma perda progressiva de níveis de atractividade, logo colocando Portugal a uma maior permeabilidade de marginalização e de pobreza no quadro internacional. Ora foi precisamente assim que li a pergunta do sr. Tavares e depois confirmei com a resposta dada pelo único engenheiro no mundo com nome de filósofo que, por gostar tanto do ouro negro, passa a vida a aumentá-lo à pala dos tugas que empobrecem a olhos vistos. Digamos que por causa destes aumentos - os portugueses passaram a ser os brancos mais mascarrados da Europa. Tudo para quê? Para engordar o Estado, é claro!!! E pagar os milhares de contos a um "sapateiro" que há meses foi nomeado para a CGD - que do seu currículo constava empregado de balcão num Banco de província. Lindo!!! São, pois, estes três paradoxos que geram factores de instabilidade e adensam ainda mais o carácter múltiplo da crise, que também é fiscal, económica, social e moral e até de civilização já que o homem não consegue encontrar um rumo sustentável para a sua própria existência sem que, nesse trajecto, crie mais problemas do que aqueles que visa solucionar. Pensei, a dada altura, que voasse uma canadiana da mão de Sócrates em direcção à cabecinha engraçadinha da vedeta do dia - o sr. Tavares - que parecia um menino contente por naquele momento estar a comer 4 Toblerones e 3 xupas-xupas - todos oferecidos por uma marca de sabonetes e de cremes anti-acne... Pensei até que Fukyuama tivesse razão, e se desse alí o fim da história registado em directo para a famosa revista The Economist. Pensei até que o sr. Tavares chamasse coxo ao PM; gay à plateia por não ter coragem e estar de perna cruzada; torpe ao país por não se indignar com a sua demissão; corporativo ao ministro Pinho e vingativo ao Mariano Gago, ministro da Ciência. Confesso que pensei em muita coisa, no Papa João Paulo II, na Madre Teresa de Calcutá, no Stº António de Alvalade - dado que o traçado daqueles 4 Km de TGV podiam rebentar com a estátua casamenteira e fazer uma ligação directa de S. Bento para a Av. do Brasil, logo ao Júlio de Matos - e com um apeadeiro no Campo Grande - para apear do dr. Soares, é claro!! Pensei ainda que o sr. Tavares - quando se pôs a rir para a câmara - num claro e incontrolável exercício narcisista, se pussesse a contar anedotas sobre alentejanos, gays e chamasse frouxo e tíbio ao PM que o meteu no olho da rua. Pensei até que ali estava uma estrela que, um dia, sucederia Sócrates à frente do executivo. Pois se até Santana Lopes já foi 1º Ministro, também não se via razão para que o narciso Tavares - não o fosse... Pensei até que o meu Portugal fosse um pedaço de papel, um fragmento de barro, plasticina com que os putos brincam na primária. Pensei até que para se navegar, como diria o poeta, já se pode traçar uma linha no mapa de água, mesmo que não haja mapa nenhum... Pensei... que pensei e nada sei, como o Sócrates. O verdadeiro!!!
Image Hosted by ImageShack.us