A lição de Robinson Crusoé - by - D. Defoe
Todos nós sabemos que a crise que nos afecta é múltipla: fiscal, económica, social, moral e de confiança dos agentes económicos e sociais que faz com que tudo esteja numa tremenda entropia. A produção não aumenta, as nossas qualificações não são valorizadas, as exportações não fazem o take-of, o sistema de justiça está bem espelhado na cara do dr. Souto de Moura - apesar do grosso do problema residir no aparelho judicial no seu todo, a classe política é hesitante, o empresariado é frouxo e muito dependente do Estado - e este, por seu turno, é um canalha. Não paga aos credores e depois impõe um padrão de exigência que se dispensa a si próprio de observar.
Dito isto, valerá a pena perguntar se há condições para viver em Portugal. Assim, de um lado colocaremos, seguindo o raciocínio de Robinson Crusoé - que foi parar aquela ilha aparentemente inóspita - analisar a situação e comparando, numa espécie de deve & haver, os bens de que se desfruta e, do outro lado do prato da balança, os males de que padecemos.
Temos assim o activo e o passivo da globalização que ora faz avançar Portugal, ora o faz recuar neste ritmo de corsi e ricorsi, nesta ciclotimia do ouro e da penúria, da euforia e da fronteira do suicídio em que vegetam hoje milhares de tugas à beira-mar plantados.
Com efeito, do lado dos males, Portugal parece uma ilha deserta e sem esperança de voltar a sair dela;
Do lado dos bens - dizemos que estamos vivos, e ainda não nos afogámos;
Contudo, vivemos separadamente do resto da Europa - cada vez mais distantes dos padrões de desenvolvimento da Europa e já com os chineses cá dentro - a limparem o nosso pequeno comércio de quinquilharias e outras velharias que outrora rimaram com especiarias;
Mas fomos arrancados à garras da morte, se tivéssemos ficado sob domínio espanhol.
Estamos sós, longe do mundo, enquando que Portugal está perto para os outros que vêm de fora. Mas também não corremos os perigos de morrer de fome como em África, ou na Ásia - exposto aos perigos da madrasta-natureza com os seus poderosos e imprevisíveis maremotos.
Pouca roupa já temos feita por nós, e as ruas de Lisboa são quase todas povoadas por lojas espanholas e inglesas; apesar de vivermos num clima temperado.
Poucos ou nenhuns meios de defesa temos para resistir a ataques selvagens - da natureza ou de inimigos que nos queiram invadir - desta feita, pela via económica e do comércio, como hoje sucede com a China e a Índia - a fábrica e o escritório do mundo. No entanto, estamos num sítio onde as únicas feras que vemos são as que habitam África e a Ásia, o resto da bicharada remete o nosso campo de visão para os candidatos presidenciais, alguns dinossaúricos, que nos ajudam a naufragar...
Poucos amigos temos com quem falar, ninguém hoje consola Portugal. Contudo, Deus é misericordioso e fará com que este nosso navio viesse perto de terra e nos pudéssemos abastacer de tudo o que será indispensável.
Dito isto - feita esta comparação entre a desgraça e o possível desta economia mundial paralisada, podemos extrair uma verdade cristalina: não há, na vida, situação, por má que seja, que não tenha o seu lado positivo.
Aliviada esta angústia colectiva em que vegeta Portugal, julgo que conseguiremos vencer a obsessão de passar as horas olhando inùtilmente para o mar à espera que a ondas no empurrem para os vagas do sucesso, ou esperar que um navio nos possa salvar sem que nos peça nada em troca que penhore a nossa autonomia, hipoteque a nossa liberdade - bem supremo de qualquer comunidade política.
Tudo visto e somado - teremos ainda de descobrir uma maneira de utilizar melhor o tempo, qui ça em tarefas que contribuam para melhorar as condições de vida do povo portugês. Alguém sabe como isso se faz?!
Sabemos hoje que o nosso amigo engº Belmiro de Azevedo é o homem mais rico de Portugal. Tem muitos milhões que é um número com imensos zeros. Talvez não fosse má ideia entregar-lhe o país por 8 dias só para ver o que faria e que vantagens líquidas resultariam para Portugal. Especialmente agora que temos o PM de muletas.
Dizem-me que ele seria como o rei Midas, e do carvão ele faria surgir cristais; mas também me dizem que ele desses cristais poderia guardá-los rápidamente e depois dava-nos o carvão.. E nós ficávamos de novo mascarrados que mais parecíamos os pretos mais negros da Europa..
Por mim arriscava. Não teríamos grande coisa a perder, "assim como assim", "roubados por roubados" - sempre preferia mudar de "ladrão" de vez em quando - é que ter sempre o Estado como usurpador dos bens públicos por via dos impostos e do laximos burocrático-administrativo - já começa a ser um bocado enjoativo.
Tudo isto são pequenas metáforas, e nós ficamos muito contentes por Belmiro ser quem é e gerar a riqueza que gera. Espero que a possa distribuir cada vez melhor nesta ilha quase deserta, feita de estacas pesadas que seguram coisa nenhuma.
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