Uma teoria do simbólico acerca do político
- Sempre gostei de compreender os fenómenos sociais de forte pendor político. Mas cheguei à conclusão que as teorias políticas disponíveis não explicam tudo. O direito e as suas regras estáticas e pouco prospectivas, por vezes, constitui mais um empecilho do que factor de transparência daquelas dinâmicas sociais.
- Ora, o caso das "pedo-escutas" publicitado pelo jornal 24h. - que coloca o sr. PGR, dr. Souto Mouta na berlinda - é um exemplo acabado de como nem a política nem o direito fornecem the all picture indispensável à compreensão de todo o tecido conjuntivo dessa problemática.
- Razão por que ensaiamos aqui uma abordagem alternativa que ajude a clarificar essa massa informe de fenómenos reais e virtuais que tem conduzido a um nível de negatividade e opera em espiral adensando ainda mais a crise de expectativas e a crise moral que os portugueses vivem.
Confesso que quando vejo o dr. Moura porduzindo declarações acerca de qualquer coisa - mesmo com o som em of - verifico sempre que a sua presença na vida política portuguesa rouba trajectória aos factos, ou melhor, curto-circuita-os e transmite à sociedade uma energia negativa que só aumenta a implosão dos pólos entre vítimas da Casa Pia e os putativos agressores, os tão falados e conhecidos pedófilos.
Agora, para compôr o ramalhete, existe mais o affair da PT que forneceu "cerejas" a mais num bolo que, de per se, já estava à apodrecer há anos. Será que o fez inadvertidamente ou por uma cirúrgica vontade dolosa?! Fica a questão para os técnicos de informática apurarem.
Mas o que ressalta para a opinião pública é que o dr. Moura não é o sólido dr. Cunha Rodrigues, e agora tudo o que emana da PGR tem sempre sabor a escândalo, que aumenta sempre que o o sr. dr. Souto abre a boca, nem que seja para dizer boa noite à despedida das conferências de imprensa. Significa isto o seguinte: é lamentável que uma instituição que zela pelos direitos dos cidadãos e que os procura defender e promover das injustiças da sociedade - tenta sempre contestar as evidências e provar a verdade pelo recurso ao escândalo.
O dr. Souto já começa a ser enervante, e mais enervante ainda são as constantes hesitações do PR em querer mantê-lo onde está - quando o senhor já não dispõe de autoridade para arrumar a própria casa e contribuir para clarificar situações, processos e, enfim, fazer progredir as investigações e facilitar a produção de provar para punir os culpados - caso existam.
Sempre que vejo o dr. Moura pela TV penso logo na lei e na sua transgressão, ou no laxismo que a isso conduz.
O dr. Moura metamorfoseia a realidade; protela, dissimula e simula - o que ainda é pior. O dr. Moura - espelhado na sua face política que é o sr. PR, representa a decadência da lei, da autoridade e das instituições em geral. Sampaio faz discursos, agora mais claros e compreensíveis. Especialmente, depois de Marcelo o criticar - dizendo que o dr. Sampaio só falava algo com nexo quando lia um texto. Hoje, como já não são rivais na edilidade alfacinha, promove-lhe os livros, que espero sejam mais interessantes do que os discursos redondos de Belém. Assim é a natureza humana, muda consoante as circunstâncias e as condições políticas da conjuntura. A política é a simulação e arte da manha, do direito - às vezes, como diria J. Freund.
O papel de Sampaio tem sido, assim, o de segurar as pontas em costuras que já não têm consistência alguma, como aquele que decorre do funcionamento geral da PGR. E aqui o PR é tão relativista quanto o governo - que formalmente propõe o nome do PGR - nesta competência múltipla entre dos dois principais órgãos de soberania.
A dada a altura dei comigo a pensar por que razão este laxismo entre Sampaio, Sócrates e Moura ocorre desta forma e não doutra.. Por que razão já não exoneraram o senhor há um ou dois anos? Pois seria esta a melhor opção antes que o visado tivesse que simular a sua própria morte funcional, escapar à agonia real que agora durará mais uma semana - pelo menos até 6ª feira - a fim de se evitar aproveitamentos eleitorais destas questões que envolvem, de facto, os sentimentos e as dores do meninos da Casa Pia que foram abusados e assim estão traumatizados para toda a vida.
Isto é que é o eixo do problema que o sr. Souto não ajudou a esclarecer, antes pelo contrário, ofuscou em lugar de clarificar; adiou em vez de encurtar e o mais.
A conclusão a que chego aponta para a chamada teoria da dimensão mítica da política. Ou seja, tanto Moura como o sr. Sampaio - julgam que trazem consigo essa dimensão, por isso este não demite aquele, segura-o ante a insatisfação do Portugal profundo que já está farto de deslizes, erros craços, manipulação de informação, assassinos de carácter e o mais. Eis os erros - por acção e omissão - de que o sr. Moura tem sido persistentemente autor.
Moura e Sampaio julgam-se uns kennedys da política à portuguesa; julgam-se portadores daquela dimensão mítica - que manifetsamente não têm. Aliás, o sr. dr. Moura será, quanto muito, um Nixon, um Johnson ou um Ford - mas nunca um Kennedy! E porquê?
Julgo que a resposta consiste no seguinte: estes dois actores - PGR + PR, a que podemos juntar o governo que o segura sob o impuldo de Belém, desenvolvem uma noção de política de roberto, ié, de fantoche, sem aura e autoridade. Já decorreram três anos das primeiras detenções aos putativos pedófilos e parece que ainda dançamos no pântano que levou Guterres a evadir-se do poder para o entregar a Durão - que depois zarpou para Bruxelas deixando os país em chamas - ainda hoje não extintas.
Ora, faltando esta aura àqueles agentes do poder político e judicial - podemos dizer que o nosso sistema político é um sistema de fantoches, com a agravante de os robertos não obedecerem aos comandos de quem os deveriam telecomandar. São, pois, estes manequins do poder que ocupam o nosso espaço político e social de que os media rotineiramente multiplicam as imagens neste simulacro permanente onde ninguém sabe who is who...
São, contudo, estes manequins do poder que revelam que o rei/presidente vai nú à beira do termo do seu mandato. Hoje esforça-se miseravelmente por fingir morrer, a fim de preservar a graça do poder. Que está definitivamente perdida. Apesar de alguns politólogos de serviço afirmarem que Sampaio foi o presidente da normalidade, cujo papel estabilizou as instituições. Julgo que este tipo de elogios (fúnebres) é o pior que hoje se pode dizer dum político em fim de carreira.
Olho para o Souto jurídico e vejo o Sampaio político; simulação e realidade = simulacro que ocultam outras verdades. Olho para ambos, e também para o governo, e pressinto que toda essa gente já busca sangue fresco na sua morte (política), tal o ciclo de negatividade que quer Sampaio (por ser tíbio) - quer Souto (por ser um actor deslocado representando uma peça cujo guião não leu) - deixam hoje em Portugal.
Eles representam o antipoder que tem entorpecido Portugal. Esta classe política que hoje está no poder não serve, são hesitantes em demasia, são muito laxistas e a simulação a que recorrem é muito mais perigosa, pois deixa sempre supor que a pópria ordem e a própria lei não são mais do que simulação.
Vejo estes personagens na TV discursando e consigo perceber o que dizem mesmo com o som em of. Como não sou bruxo nem adivinho perguntei-me como conseguia fazer tal coisa... E conclui que essa gente, esse mui garboso escol que nos desgoverna, nada mais faz do que uma paródia que se assemelha a uma transgressão da lei, dos prazos, do bom senso, dos direitos das crianças violadas da Casa Pia - eixo de toda esta quesão - por vezes tão esquecida.
Será que haverá crime mais grave do que anular o próprio poder da lei? Com tantas ligações entre o real e virtual neste processo das "pedo-escutas" - pergunto-me se algum dia aqueles putos pobres e órfãos que por o serem tiveram de ir para a Casa Pia onde foram violados - chegarão alguma vez a ter descanso e tranquilidade nas suas consciências... Enquanto isso, a malta do costume está agora empenhada em gastar as suas energias em descobrir os filtros dos filtros dos filtros que, afinal, não filtravam coisa nenhuma. Enfim, os deuses das tecnologias também escrevem direito por linhas tortas...
- Perante tanta dissimulação e simulação - julgo que será hoje impossível isolar o processo do real e provar o real - por causa dessa tal hiper-realidade e simulação que desestrutura todo o referencial que tínhamos e em que fundávamos todo o nosso pensamento jurídico, político e sociológico com que distrinçávamos o bem do mal.
- Um dia alguém terá de oferecer o livro de Kurt Cobain a estes senhores - que são os personagens do nosso palco da política à portuguesa. O livro já está traduzido pela Assírio & Alvim e começa logo como uma declaração de Cobain que diz: Odeio-me e quero morrer.." Confesso - que em nome da dôr, do trauma e da dignidade daqueles putos abusados eu iria a esse funeral..
PS: Como tudo isto seria diferente se no rol daqueles miúdos violados estivessem, porventura, os filhos daqueles agentes políticos que ainda estão no activo brincando à refabricação de imagens e de questões artificiais.
PS2: Já há realizadores em Portugal que preparam guiões e todo o seu talento narrativo ao serviço da reanimação do caso Casa Pia. Um dos personagens centrais é um dos principais responsáveis do aparelho judicial hoje na berlinda - e o argumento visa ressuscitar nele os fantasmas que o farão perder-se a ele próprio ainda antes de entrar em cena. A realidade segue dentre de momentos... no Parlamento e fora dele, entre o Rato e Belém, e depois o "olho da rua"... Volta Cunha Rodrigues - que estás perdoado e até santificado.
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