sexta-feira

Patrick Monteiro de Barros tem a receita e partilhou-a

Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.us Image Hosted by ImageShack.usVejo com gosto a lucidez de Patrick Monteiro de Barros na Sic notícias, onde foi entrevistado nos Negócios da semana. Falou, claro está, de energias e de soluções para tirar Portugal do “buraco” em que está. Mas, em rigor, fiquei com a sensação que o empresário não foi tanto falar de negócios mas sim de Portugal. É tão curioso quanto raro ver um empresário da sua dimensão equacionar uma ideia de país e de nação à frente de tudo o mais. Ou seja, primeiro está o país e a sua identidade nacional e histórica, e depois os negócios, sendo certo que o ideal é recriar um país onde se possa realizar bons negócios, meter o país a funcionar, sem o descaracterizar neste contexto de globalização.
A ideia/projecto da refinaria de Sines está a empolgar os centros de decisão: governo, empresários e comunidade – todos acreditam na sua viabilidade económica e proveito para o país – que há mais de duas décadas não conhece um investimento de tal dimensão neste sector. Como leigo, parece-me que a ideia é de grande relevância estratégica; pois será aí que reside o “TGV” e a “OTA” do país neste momento particularmente difícil em que todos nos encontramos. Ou seja, é na exploração das energias fósseis e alternativas, observando uma refinação de qualidade, que o País pode (re)criar uma oportunidade única de concentração de capital e de investimentos para tornar o projecto da refinaria viável. A concretização deste mega-projecto aponta para resultados de vendas de energia e de incomes superiores aos actualmente verificados pela produção de automóveis da fábrica da Auto-Europa em Palmela. Salvaguardadas as questões ambientais do projecto – que além de legítimas são legais – devem merecer discussão pública pela comunidade científica e opinião pública em geral – considera-se, à 1ª vista, uma excelente oportunidade de infra-estruturar o País com uma refinaria devidamente equipada e dimensionada para tratar das ramas de crude e o transformar em energia que depois exportará para os países da Europa e EUA. Mais de 5 biliões de euros de investimento Em 2/3 anos prevê-se cerca de 4.000 postos de trabalho O balanço comercial resultante desta previsível exportação de energia ronda 1.500 milhões de euros/ano. Espero, desta vez, não me ter enganado nalgum zero a menos… Mas esta realidade encerra uma realidade ainda maior, segundo sintetizou o empresário Patrick Monteiro de Barros: Portugal não deve ser um país que vende apenas sol e praia e hospedagem em serviços de hotel, vivendo dos campos de golfe. Este modelo corresponde à década de 70/80 do séc. XX, e Portugal não pode ficar prisioneiro desse esgotado modelo de desenvolvido com a Torralta como pano de fundo e Albufeira como ícone. Julgo que a ideia da refinaria é o projecto nº 1; o nuclear será o projecto nº 2 mas ambos têm em comum a chave do futuro do país: tornar Portugal menos dependente das fontes de energia produzidas por terceiros, sofrendo nós as consequências que bem conhecemos nos preços dos combustíveis, na energia doméstica e industrial e, naturalmente, com as perdas de competitividade decorrentes pelo facto dos empresários pagarem os factores de produção mais caros do que em Espanha e noutros países da Europa. Trata-se, pois, duma questão de justiça e de equidade empresarial na Europa – que é o grande espaço onde efectivamente competimos a céu aberto. Trata-se do futuro de Portugal. Quanto ao nuclear prevê-se maior abertura em toda a Europa. O Reino Unido – e o próprio PM – T. Blair reconsideram essa opção; a Finlândia, a Suécia – todos se abrem à discussão desse dossier tendo em vista a implementação da energia nuclear, que é, de longe, mais barata, mais limpa e até mais segura, curiosamente. Basta dizer que nunca houve nenhum acidente com esta fonte de energia, salvo se se considerar Tchernobil (em 1986) uma infra-estrutura industrial nessa estatística. Naturalmente, aqui tratou-se mais uma incúria do sistema industrial soviético que já estava em declínio e, como tal, este caso não serve de aviso ou de comparação, excepto para um modelo industrial anquilosado legado pelo stalinismo e que depois se traduziu nos resultados conhecidos. Paralelamente, Patrick Monteiro de Barros chama a “César o que é de César”, e lembrou que a ideia do nuclear já tem quase 2 anos e tem paternidade, e até inspirou um artigo notável na revista Visão a esse propósito e depois uma explicação à eco-fundamentalista do PS ou do PSD (nunca sei), a srª depu ta da Helena Roseta, que suscitou reservas ao projecto. Também aqui o empresário tem a cabeça arrumada e ideias simples e claras: o nuclear seguir-se-á à refinaria. Não por teimosia ou arrogância mas porque será uma força da história, uma “inevitabilidade”, como referiu: trata-se, como referimos, de uma energia mais barata e mais limpa que ajudará a fazer crescer e desenvolver o país. E foi aqui, quanto a mim, que se centrou o nó górdio da questão que o empresário numa palavra clarificou, e é da maior relevância para a economia portuguesa: é que baixando-se os preços da energia – em cerca de 25% - através do nuclear - os salários dos trabalhadores já não terão de sofrer as constantes pressões que hoje sofrem, agravados com a inflação que come ainda mais o valor decrescente dessas parcas remunerações. Foi aqui, creio, que Patrick conseguiu fazer o pleno da sua brilhante entrevista, ou seja, além de colher o total empenhamento do PM – J. Sócrates neste projecto – e de liderar um grupo de empresários qualificados e dispostos a investir em Portugal (o que é cada vez mais raro e difícil), e de granjear a simpatia (embora reservada) de Cavaco – que será dentro de 2 semanas o futuro PR do país - (e cuja simpatia deverá ser recíproca) o empresário - que mora na moradia mais bonita de Cascais – a casa das Palmeiras – também conseguiu granjear a simpatia do “camarada” Jerónimo de Sousa do PCP para o projecto da refinaria de Sines. Não é isto admirável?! É claro que o “camarada” Jerónimo não é parvo e já está a pensar nos milhares de postos de trabalho – directos e indirectos - que a refinaria irá criar na região e, assim, consolidar a sua base de apoio sociológico para futuras guerras partidárias e eleitorais. Em suma: ganham todos e, confesso, nunca tinha visto num directo de TV um empresário – conseguir pôr de acordo forças empresariais, políticas e partidárias tão díspares, senão mesmo antagónicas – em regime de pura convergência. Por momentos pensei estar a delirar, mas não. Julgo, por isso, estarmos num turning point, e se as coisas estão a rolar desta forma é porque já se começa a entender e a percepcionar o país de outra forma, mais consentânea com os ventos da história que sopram forte e rápido com a globalização competitiva que está aí, e entra-nos casa adentro por todos os meios possíveis e imaginários. Por mim, como mero consumidor de energia, confesso, já me estou a ver a pagar menos na factura da electricidade ao fim do mês só porque um empresário de visão e um sentido apurado das realidades, resolveu apostar em força no seu País no sector das energias que melhor conhece e domina. Isso é muito bom nos tempos que correm. Basta compararmos os esforços e o tempo infrutíferos que o dr. Miguel Cadilhe gastou na API (Agência Portuguesa de Investimentos) tentando atrair empresários com dimensão crítica capazes de investir no nosso país. Que se saiba nada de significativo se arranjou; antes pelo contrário – o que as TVs noticiam todos os dias são é multinacionais a multiplicarem processos de deslocalização empresarial para o Centro e Leste europeu, por aí serem menos remunerados os respectivos factores de produção. No fundo, é isto o capitalismo selvagem que hoje ninguém consegue regular ou disciplinar, muito menos os Estados. De facto, é esta a realidade dramática que se vê um pouco por toda a Europa e pelo mundo. Os mercados em fúria contra os Estados – e depois, impotentes e desregulados, ambos avançam contra as pessoas e as famílias – que são sempre os elos mais fracos desta cadeia de valor fragmentadora de toda a coesão social. Depois achei tão interessante quanto surpreendente ver um empresário da dimensão de Patrick Monteiro de Barros – que já tive o privilégio de conhecer pessoalmente – tecer, sem se comprometer politicamente mas com o maior à vontade, um conjunto de comentários sobre a política, os agentes políticos, a necessidade de estabelecer um pacto de regime entre os dois maiores partidos, bem como um conjunto de questões igualmente relevantes para a vida colectiva. E que vão da reorganização, efectividade e eficácia do sistema judicial (que é o principal responsável pela anarquia e injustiça a que chegámos), ao endividamento brutal das famílias, às deficiências estruturais que integram os métodos e procedimentos da administração pública bem como um outro conjunto de situações que entopem Portugal no séc. XXI. A saída está, portanto, em concretizar bons projectos que têm uma fiável fonte de investimentos e de imediato retorno para o país. A localização do Porto de Sines é excelente porque fica na rota dos grandes mercados consumidores: Europa e EUA. Seria, portanto, um crime de lesa-pátria que os agentes políticos e os operadores económicos e financeiros e também os agentes ambientais – que são os zeladores de serviço das emissões de CO2 para a atmosfera - e uma espécie de mandatários nacionais do Protocolo de Quioto cujos limites quase todos os países desrespeitam, inclusive os EUA – não aproveitassem esta singular oportunidade no momento económico e social mais difícil que Portugal atravessa desde o 25 de Abril. Foi surpreendente como uma simples entrevista dada por um empresário infundiu mais esperança e optimismo no país do que as mensagens de Natal e de Ano Novo do PR e do PM. O campeonato de Vela de 2007 – poderá ser um outro sinal complementar dessa esperança e optimismo – que além de ser uma alternativa ao tal sol, praia e golfe poderá representar um plus de lazer e de prestígio no subconsciente colectivo dos portugueses capaz de nos por de novo a sonhar e a fazer obra em Portugal. Por momentos pensei que Patrick Monteiro de Barros não era aquele empresário do sector do “ouro negro” que tinha dado uma entrevista para nos falar de energias e de soluções capazes de tirar Portugal do buraco em que está. Por momentos pensei que Patrick Monteiro de Barros fez o seu Trabalho Para Casa (TPC) a dobrar, ou melhor, a triplicar: o seu (como empresário), o do PM de Portugal e também o do jornalista que o entrevistou e que teve de corrigir… Como se isso não bastasse – o pleno de Patrick – teve, pois, um significado simbólico dado que conseguiu (também) o acordo do líder do PCP, o camarada Jerónimo. Por momentos pensei estar a delirar. Mas foi a sua nota final de liderança, dinamismo e de competitividade que me fez vislumbrar – lá ao longe – num qualquer túnel de Sines, uma réstia de esperança capaz de voltar a por Portugal na rota do crescimento, da modernização e do desenvolvimento no primeiro decénio do séc. XXI que, curiosamente, coincidiu com a dobra do milénio.

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