O espectáculo (político)...

Desde ontem, por causa das pedo-escutas, Portugal entrou em processo de devorismo agudo. Um devorismo acelerado com os discursos dos candidatos à PR. Dizem-se as maiores barbaridades com a maior normalidade. Um pouco como se os assaltantes de um banco dessem imediatamente após o assalto uma conferência de imprensa para falar da inflação e da crise da economia e da carestia de vida.

Mas este espectáculo tem uma natureza estúpida, e não tem apenas raízes no sr. dr. Souto Moura. Isto vai muito para além dele; e até do director do jornal 24h. que duma crise que envolve crime de costumes e de estupidez tecnológica e violações de privacidade - virou um pasquim respeitável com direito a muitas citações. E assim se faz um jornal. O espectáculo a que reporto é um misto de estupidez, gula pelo poder, soberba, e muita - muita ingenuidade. Se associarmos a isto um sistema de recrutamento do pessoal político que não tem por base o sistema meritocrático - identificamos grande parte das explicações para esta charada em que vegetamos. Mas uma vez que o rosto do espectáculo político agora é o sr. Souto - é um pouco sobre esse conceito de espectáculo-mercadoria a que agora me dedico. Constato que são esses cromos que ocupam o espaço total dos media e até da vida social. Ora isto também é uma modalidade de totalitarismo que teremos de evitar e/ou corrigir. Parece que o mundo que se vê é o mundo visto pelas lentes do dr. Sampaio, do dr. Souto e dos cromos tecnocratas da PT que forneceram aqueles dados cheios de filtros que se podiam tirar e ver as "cuecas à menina". A estupidez é tanta que até a maldade é ingénua, se é que tudo não foi combinado em timing oportuno para fazer aproveitar certa candidatura presidencial em detrimento de outra. Aqui ainda haverá lugar para equacionar o cabimento da teoria da conspiração, já que todos conspiramos uns contra os outros; e às vezes - sem querer - até auto-conspiramos, a exemplo das declarações recentes do sr. dr. Santana. Aliás, ele não tem feito outra coisa na vida, representando o tipo de político marialva que nos desgoverna. Pelo menos por 6 meses, ou nem tanto... E por falar em vedetas da esfera da futebolítica - cabe dizer que a sobreposição destes fenómenos, recuperados e ampliados pelos media, é que geram as tais camadas geológicas da mercadoria-espectáculo que nos envolvem. Por isso, quando vejo a cara do dr. Souto Moura lembro-me imediatamente de duas coisas: 1) Da Pantera-côr-de-rosa - no tempo em que os Desenhos animados eram de qualidade e nos faziam rir - sem consola; 2) E da 2ª fase da Revolução Industrial - em que o consumo alienado de imagens torna-se uma espécie de obrigação suplementar para as massas. É todo este trabalho dos media - que é embrulhado e depois fornecido à sociedade como uma mercadoria global de primeira. Enquanto isto decorre a Justiça é uma fraude; as pessoas e as empresas vêm os seus processos adiados e adiados anos a fio - bloqueando o país, adiando a sua modernização e desenvolvimento. Nenhum investidor estrangeiro gosta desta anarquia - que espanta ainda mais essas possibilidades de investimento; e os que existem estão a investir no exterior. Ora é este ciclo de produção de imagens e de consequente venda dessas mercadorias à turba, que faz de Portugal e dos portugueses - um monte de alienação. Esse espectáculo político - representa essa nova guerra do ópio para nos fazer aceitar que as imagens e os discursos daqueles cromos da política à portuguesa é que representam o ideal de vida em colectividade, e a identificação daquelas caras às mercadorias que representam - nesse excesso de simulacro - a tal derisão. Portugal está privado de razão e de inteligência. Portugal não consegue pensar, Portugal está doente. Tudo porque porque foi envolvido num grande movimento de banalização que nos terraplana a mente e nos rouba os neurónios. Assim, de que nos serve termos um crâneo, uma carcaça mas sem neurónios. Um pouco como aqueles cadillacs parados há décadas nas ruas de Havana - a aguardar peças de substituição para voltarem andar. Apesar de sabermos que aquelas carcaças jamais andarão..