quinta-feira

Jornalismo político post-25 de Abril. Os jornalistas não vivem isolados numa ilha...

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  • Duas reflexões em carteira que já começavam a cheirar mal... Precisavam de sair do baú, e eu abri-lhes as portas, e elas saíram.

Jornalismo político pós-25 de Abril O jornalismo político é cada vez mais necessário mas, ao mesmo tempo, a sociedade imputa-lhe características omnipotentes, que o diminuem perante a possibilidade de análises distanciadas que possam ir além do circunstancialismo do momento. Com efeito, o jornalismo é cada vez mais um sistema de vasos comunicantes, presente em inúmeros aspectos da vida social portuguesa, máxime na política.

O que vemos se olharmos para a maioria dos jornalistas portugueses do pós-25 de Abril? Desde logo, pensam e operam em contexto de liberdade, depois todos têm cumplicidades ou engajamentos com cada um dos partidos do espectro político nacional. I.é, além do olho da câmara que filma sem ser censurado, salvo por motivos editoriais, grande parte dos jornalistas têm (ou tiveram) filiação partidária.

O caso República é, de certo modo, um prenúncio do que veio a suceder depois com a Revolução dos Cravos. Foi esse jornal de resistência ao ancien regime que no auge do Verão Quente em 1975 foi tomado pelos tipógrafos comunistas, provocando uma revolta dos populares em frente à sede do jornal.

Foi, em parte, por causa deste engajamento ideológico que emergiu a necessidade dos primeiros cursos de jornalismo em finais da década de 70, por forma a criar um profissionalismo na classe jornalística que as condições históricas e políticas do Portugal de Salazar não permitiram. Paralelamente, assiste-se à criação de novos projectos editoriais e à reprivatização de jornais nacionalizados no pós-25 de Abril. O Público, de Belmiro de Azevedo, e O Independente, de Paes do Amaral, foram fortemente marcados por um cunho político: um do esquerda, o outro de direita. E assim continuam nos nossos dias, embora de forma mais mitigada e errática, por vezes mesmo subliminar, daí a importância da teoria política e da moderna comunicação a fim de crivar melhor os chamados "silêncios do poder", mesmo os que emanam das redações dos jornais, rádios e estações de Tv.

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Este último, pela mão de Paulo Portas (um ex-social democrata que não conseguiu fazer carreira no PSD), nasce da necessidade de derrubar o “cavaquismo”, injuriando e inventando, semanalmente, manchetes falsas sobre ministros pretensamente corruptos com o fim último de atingir o então primeiro-Ministro, Cavaco Silva - que hoje apoia. Curiosamente, o "jornalista-guerrilheiro" de outrora, que instrumentalizava obsessivamente o Independente na propaganda anticavaquista, representa hoje, disfarçadamente, o papel de homem com pose de Estado no sector da Defesa Nacional. Ou melhor, representava... Mas os tiques traem-no, revelando o postiço da situação. Ironias do destino, que tem explicação à luz das teorias da psicologia do poder e da desmedida ambição pessoal que a alimenta: ser primeiro-ministro.

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Mas foi a década de 90 que gerou as mudanças estruturais na sociedade portuguesa. O aparecimento da televisão privada, designadamente a SIC e depois a TVi – contribuíram – directa e indirectamente – para a tese da persistência e da consolidação democrática de um País que também estava a trilhar o seu caminho na integração da Europa, que se estava a alargar e a aprofundar. Foi todo este trajecto político, mas com nítidas ramificações económicas e tecnológicas e, sobretudo, na evolução das mentalidades, que abriu Portugal a uma nova galáxia de comunicação que não podia deixar indiferente o tradicional cinzentismo da velha, burocrática e previsível RTP.

Doravante, foi a sociedade que passou a falar em directo na televisão. Esta passou a espelhar o povo. O programa Praça Pública deu voz e imagem a esse novo quadro no panorama televisivo em Portugal. Apesar de todos esses avanços numa sociedade ainda pouco modernizada, será que houve, de facto, um saldo positivo no panorama estrito da informação? Será que à maior liberdade de expressão, à maior oferta de canais não se seguiu um manto de superficialidade e de amadorismo que passou a povoar as “privadas”? Fica a questão – um pouco na afirmativa.

E qual passou a ser, por extensão, a natureza da relação dos jornalistas com os agentes políticos/poder? Designadamente, no plano governamental (leia-se, nos gabinetes ministeriais)? A história recente está repleta de casos de jornalistas que “saltaram” (e saltam) das suas redacções para os gabinetes ministeriais, violando o dever de conduta ética que a profissão impõe. Daí a necessidade de se criar uma Ordem de jornalistas para regular esses desvarios relacionados com a ambição de obter melhores remunerações e também mais prestígio social/ status, influência e o mais. Coisas que a velha profissão de jornalista manifestamente não dava.

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O desafio passou a ser harmonizar a qualidade profissional da classe com a observância de normas éticas para o sector sem perda de competitividade. Mas isso só não basta. Desde que se defenda que o que se espera de um bom jornalista não seja apenas a “fotografia” das coisas visíveis, esquecendo aquelas que sendo invisíveis (ou ocultas) acabam por tornar visível o que vemos. Daí a importância do espectro a fim de medir a intensidade das coisas, das motivações e inteções humanas que fazem e desfazem o jogo da política à portuguesa.

Talvez seja relevante que os profissionais do sector passem a ter maior preparação sociológica, polítológica, económica, jurídica, filosófica e até teológica. Eis o holismo que falta e só alguns jornalismos, poucos, já começam a ter e a manifestar. Afinal, o homem e a maior parte dos factos (domésticos e transnacionais), comporta parcelas daquelas naturezas, e o jornalista clássico vê-se impotente em juntar aqueles pedaços que permitem a compreensão do todo.

Por isso, de nada vale que o jornalista seja um mensageiro só de narrativas dos factos visíveis: sem causas, consequências, significados, contextos, motivações, estratégias e o mais que os actores neste mundo de globalização competitiva introduzem (na complexificação) da realidade. Agora com meta-ocorrências, com inesperadas ficcionalidades geradas pela sobre-exposição da imagem global, como se o jornalista tivesse de manejar múltiplas máquinas abstractas simultaneamente, por meio de discursos, vozes, imagens, enfim, pelo texto dos textos que interpreta o mundo das hiperealidades.

O jornalista do séc. XXI está, hoje, confrontado com sucessivas ondas de desterritorialização alimentadas por acontecimentos transnacionais que transformam a profissão num risco (de vida) permanente e num devenir-devenir. Numa espécie de abismo centrípeto sem centro. Num simulacro (derisão) onde nos entrevemos, sendo que a televisão é a fé da redenção da humanidade que nos lembra que tudo são, afinal, imagens e simulacros. Imagens que nos libertam, mas também nos aprisionam.

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Julgamos, em suma, que o papel do jornalista do séc. XXI convirja com o do cientista social, doutro modo não consegue enriquecer a realidade que narra. Mas se ele a narrar com “alma” também se consagra. Doravante, seria útil que quando a sociedade se referisse à classe pensasse que os jornalistas em Portugal não narram apenas a ponta do iceberg, mas também a massa (dos fenómenos) que está submersa.

Isto leva-nos a uma outra questão que explicitamos abaixo: os jornalistas não são animais isolados, que vivem numa ilha; em que um dia acordam e são célebres porque ou foram autarcas ou PM (por engano) e erro de concepção genética da "política à portuguesa" - cuja ilustração mais rocambulesca ganhou contornos no figurão de S. Lopes, daí a "derisão" - esse excesso de simulacro que lhe anda associado. Ora, isto sucede porque o próprio ainda está alienado e julga que é uma espécie de fábrica das normas - e que a sociedade portuguesa ainda tem paciência para ouvir os seus rancores, registar as suas microscópicas e insignificantes vinganças ou interpretar os seus silêncios - mesmo quando fala cheio de alteridade. Esta é, hoje, a sua marca. Uma marca altamente não recomendável.

Embora o grande responsável de toda esta trapalhada tenha um nome: Durão Barroso - que tudo sacrificou porque, a dada altura, não conteve uma ambição e uma gula pelo poder do tamanho do mundo, e resolveu desertar do país deixando Portugal num caco; um caco em que ainda hoje nos encontramos, e do qual somos tirados, mesmo que o engenheiro tenha nome de filósofo.

Mas vejamos porque razão os jornalistas não são actores que vivem isolados numa ilha, em regimen de hibernação, como faz o sr. dr. Santana - quando é queimado na política e a política responde revelando que não quer nada mais com ele. Será que ele ainda não percebeu isso?! Será que ele não percebeu que a sua rede de competência nem já para autarca dá? Santana, além de inflamar discursos em contextos congressionais nada mais fez na vida; é um político que vive em regime de derisão = excesso de simulacro; é, ele próprio - o simulacro.

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Os jornalistas não vivem isolados numa ilha,

Image Hosted by ImageShack.us Mas integrados num ambiente de constante evolução e transformação social, apanhados no turbilhão da revolução política cujas raízes remontam às transformações da sociedade e da economia das fases anteriores que, por sua vez, conduz à sociedade emergente. Nem sempre melhor. Mas é aí que se esbatem as diferenças de origem e estatuto social e cultural em democracia. É também aí que o crescimento económico é acelerado, as classes médias alargam-se e o País, no seu conjunto, sofre as pressões liberais, as aspirações de consumo (que arrancaram com o “cavaquismo”), as modas culturais e políticas vindas de todo o mundo ocidental, a par das frustrações vividas por largos estratos da população – que ansiou pelo erradicar de um regime político autoritário de tipo conservador (de Salazar), responsável pelo impasse da guerra colonial – e que depois originou o estado democrático em Portugal.Image Hosted by ImageShack.us Ora o jornalista quando recolhe informação e trata os acontecimentos, não pode alhear-se deste encadeamento de factos e de circunstâncias presentes na história política e social portuguesa. É com esta realidade histórica que os homens da informação têm de lidar quando tratam, do ponto de vista jornalístico, do que se passa nos partidos políticos (livres), nas autarquias (livres), nos parlamentos eleitos (democrática e livremente), enfim, do conjunto de realidades (como a liberdade de associação, de opinião e o mais) que estimulou uma nova mentalidade em Portugal.

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Gradualmente, os portugueses habituaram-se às suas virtudes e defeitos, à política democrática e à lógica parlamentar no seio da vida pública. Foi tudo isto que constitui novidade, não só para os jornalistas mas para todos os portugueses. Mas aqueles, pelas especiais responsabilidades de recolherem, tratarem e divulgarem a informação, são chamados a desempenhar um papel cimeiro nas sociedades democráticas. Cabe-lhes evitar que a informação se converta numa mera mercadoria. Em primeiro lugar, impõe-se filtrar a torrente de informações que inundam o mundo, e distinguir aquilo que provém da imprensa das outras fontes, formas e categorias de informação (in working progress) ligadas a interesses económicos organizados, corporações, bases de dados e a todos os sistemas de informação em construção.

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Então, qual é o desafio para o jornalista no séc. XXI? Uma resposta possível reside no facto de ele conseguir libertar a informação daqueles fragmentos de mercadoria e conferir-lhe um valor específico. É isto que faz a grandeza do seu ofício, por vezes afrontando poderosos interesses económicos e financeiros (ocultos), mas que estão sempre lá, reclamando o poder e a decisão e os resultados favoráveis de ambos.

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Libertar a informação da mercadoria em ordem a conferir-lhe um valor é, pois, um desiderato fundamental na profissão do jornalista. Especialmente, quando o mundo é mais complexo e caótico do que há uma década, e o público também recebe e interpreta essas informações de forma diferente e (mais) limitada.

A sua função, que é mais uma missão, consiste na capacidade de síntese e de explicitação dos factos brutos que se apresentam ao público. Ademais, o jornalista deve estar ciente de uma resultante da tal complexidade: a diversidade cultural – quer no plano do tratamento das informações relativas às relações internacionais, quer das informações geradas no interior das sociedades. Hoje uma informação de interesse local dá a volta ao mundo em minutos e pode, politicamente, desencadear factores de atracção e de repulsa completamente imprevisíveis que interferem com o funcionamento dos dispositivos económicos e das identidades culturais e religiosas (com públicos distintos) no sistema internacional. Logo, a informação é (ou pode ser) um vector de conflito ou de cooperação.

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É para essa sensibilidade que se deve dirigir a capacidade de síntese e a imaginação sociológica do jornalista. Lembremo-nos do conflito israelo-palestiniano que confrontra o Estado de Israel com todo o mundo árabe, não deixando de fora dessa contenda os EUA, a Europa e as américas. Com efeito, todo o mundo olha para aquele secular conflito com lentes não só diferentes como contraditórias, desempenhando a informação um papel cimeiro na forma como cada uma das partes lê a informação disponível sobre aquele conflito regional-globalizado (ou globalizado que se regionalizou).

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Por fim, o jornalista do séc. XXI deve munir-se duma competência económica específica de modo a escapar à pressão do peso do dinheiro que se traduz na constante ameaça cuja chantagem (directa ou velada) se pratica sobre a política e a sua própria vida (pessoal e profissional).

Será que este desafio se resolve com mais cultura política e económica da classe?

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  • Estas reflexões são dedicadas a todos os jornalistas que, dentro e fora da blogosfera, dão o melhor de si na busca da verdade (possível). Sendo certo que a verdade é uma uma construção social, uma convenção entre os homens num dado momento e segundo certas regras e que se encontra sempre para lá da nossa compreensão racional. Talvez por isso para alguns a verdade seja um enigma, um mistério só temido e ultrapassado pela morte, essa grande barreira do escuro para que não há lente possível