quarta-feira

O misterioso caso de Santana Lopes e o síndrome do Pavão. O nómada mais sedentário da política portuguesa

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  • Há três dias consecutivos que se faz sentir uns ameaços de maremoto, com baixa intensidade na escala de Richter, mas todos têm algo em comum: o epicentro. Lá para as bandas do Atlântico e distam do Terreiro do Passo uma lonjura 2/3 vezes ao Algarve.
  • E sempre que o epicentro espirra Lisboa acorda com o café da manhã e uns receios, por enquanto, infundados. Ora eu desconfio que a origem destas pequenas explosões de raiva e de rancor emanam, na sua plenitude, do pensar e agir comunicacional do sr. dr. Santana Lopes (TSF). Nada tenho contra o sujeito, mas três notas me assaltam o espírito, ou melhor quatro, quando aquela figura emerge na esfera pública para dizer o que quer que seja:
1) A última vez que o vi estava ao mesmo tempo a dormir e a ler um papel, descobriu-se depois que era a sua tomada de posse como PM a toques de Xanax e Lexotans. Depois foi corrido sem eira nem beira da cadeira de S. Bento – como se fosse um deserdado da vida. Foi também o único político em Portugal que já em pleno regimen republicano - recebeu o poder de forma monárquica (quanto à forma como recebeu esse poder). Só Soares consegui igualar a proeza, mas este ao menos submeteu-se a votos e ganhou as eleições democráticamente; 2) A penúltima vez que vi Santana estava a perorar no cemitério, frente à campa de Francisco Sá Carneiro, para imediatamente se fazer fotografar naquele contexto. Achei toda aquela circunstância nojenta e oportunista e até anti-humana, logo anti-política; as tev deram-se ao despudor de passar aquela estória; 3) Mais recuadamente, lembro-me vagamente dele como “professor” de uma cadeira de Direito Comunitário a que só apareceu uma vez, depois borrifou-se para aquilo e nem uma aula deu. Nem a sessão de apresentação concluiu, tamanha era já então a sua instabilidade psicológica. Cedo percebi que o homem só queria estar em lugares de grande visibilidade mediática.
  • É isto, em traços largos, o sr. dr. Santana Lopes. Com o tempo esta instabilidade de carácter tem-se agravado. Mas hoje acordo ouvindo rádio e volto a ouvir mais umas enormidades debitadas pelo sujeito. Compreendo que ele queira fazer-se ouvir, gritar, dizer à sociedade que ainda não morreu - só que estas vociferações conduzem o ego, naturalmente, a inflações meramente artificiais e, mais tarde ou mais cedo, o coração não aguenta e um dia deixa de bater.
  • Veremos aqui o peso e o verdadeiro significado das suas palavras que só têm lugar com o fito de irritar Cavaco Silva - que além de o ignorar também o passou a desprezar. E isso dói, dói muito a Santana Lopes - que agora encontrou aquilo que ele entende ser o antídoto de Cavaco.
  • Engana-se, antes reforça mais o poder daquele, diminuindo-se ainda mais a si próprio. Pois em Portugal, tirando duas ou três pessoas suas amigas e que dependem de si, mais ninguém o leva a sério. Santana deixou uma imagem de "marca" em Portugal, e essa foi a dum tal programa de televisão em que se jogava a dinheiro, a feijões etc e tal. Parece que entrava também Torres Couto - que foi um dos artífices dos Fundos Comunitários que o cavaquismo não soube fiscalizar e depois tudo redundou em corrupção massiva enchendo os bolsos de alguns e fazendo as maravilhas do jornal O Independente - que todas as semanas tinha bons motivos de escândalo que o ajudavam a vender milhares de exemplares e a ombrear com o Expresso as cotas de mercado.
  • Eram outros tempos. Hoje Santana vinga-se, ou pensa vingar-se dizendo que com Cavaco em Belém eclodirão conflitos institucionais com S. Bento. Santana escolheu o modo e o timing para atacar o calcanhar de Aquiles de Cavaco, só que Santana perdeu peso político dentro do PSD, na sociedade e em todo o lado. Aliás, a Santana colou-se uma imagem de político irresponsável, incompetente e impreparado. Foi por este conjunto de razões que Sampaio dissolveu a AR e demitiu o governo, e bem. Só pecou por tarde de mais, ou melhor – pecou ab initio, pois Sampaio – que é um político frouxo, titubeante e estruturalmente indeciso - jamais deveria ter investido um governo monárquico em regime de democracia republicana. Foi um erro crasso que nos fez perder tempo e dinheiro a todos. Está feito.
  • Mas Santana precisou de desabafar e veio a público falar de si, fazer a sua terapia. Será que alguém lhe deu importância? Até nós aqui equacionámos a oportunidade de o meditar. Mas fizémo-lo por causa do paralelo com Soares, também vítima do excesso de imagens, desta feita com o fito de o assassinar politicamente – como veiculou a manchete do Expresso a semana passada.
  • Santana ficou furioso por há meses ter constatado que Cavaco mandou tirar a sua cara do Outdoor que o fazia acompanhar dos vários líderes do PSD. Cavaco não quer misturas com ex-secretários de Estado com a mania de que seriam um dia sucessores do chefe. Cavaco nunca gostou dele, levou-o para o governo porque S. Lopes fora do governo fazia mais estragos do que se fosse incluído, e assim Cavaco – que é um verdadeiro eucalipto que seca tudo à sua volta (para citar M. Cadilhe que resolveu ser sincero e dizer o que pensa) – o incluiu a contra-gosto na estrutura do seu governo. Hoje Santana pagou-lhe com a mesma moeda, e bateu no seu pai-político que foi o seu líder durante anos no governo de Cavaco.
  • Depois o clima político e pessoal adensou-se com o desempenho de S. Lopes na secretaria de Estado, nas condições da sua demissão e no sedimento do tempo que levou Cavaco a falar dele na sua Biografia sempre com uma certa sobranceria. Em resumo: o sentimento que Cavaco tem pelo enfant terrible é exactamente o mesmo que este tem por Cavaco. Detestam-se recíprocamente, e se não houvesse linguagem, cultura e civilização já se teriam esmurrado um ao outro há décadas. Provavelmente, Santana ter-lhe-ía partido uma cadeira na cabeça, como costumava fazer na faculdade de Direito ao seu amigo Durão, ora por questões de género (feminino), ora por questões estudantis, programáticas ou ainda sobre os rumos ideológicos que o país poderia (ou não) seguir. Na altura, Durão lia Mão Tse Tung, tinha o cabelo à Demis Russos e usava túnica à muçulmana e nunca sonhara ser coisa alguma na vida, mas foi tudo o que sonhou, ao invés de S. Lopes – que sempre sonhara ser tudo e nunca passou de um Presidente de Câmara – onde conseguiu fazer alguma obra na Figueira-da-Foz: plantou umas palmeiras, o sol já lá estava, e a areia e as ondas do mar também.
  • Mas o núcleo da questão que faz de Santana Lopes um autêntico "pavão" político decorre da sua figuração excessiva e da importância política, intelectual e até pessoal que manifestamente não tem, nunca teve, aliás. Encarna bem numa característica que a moderna teoria política e da comunicação apelida de - derisão – esse tal excesso de simulacro, que lhe corre nas veias, dado que a sua grande vocação seria, presumo, ser actor de cinema ou de novela. Constatámos essas valências naqueles programas em que entrou jogando com outros players num programa de A. Albarran, que também se dedicou ao empresariado e com os resultados que todos conhecemos. Portanto, estamos aqui perante uma geração de ouro que fez coisas muito boas por Portugal, só que não se vêem.
  • Santana pensou que poderia ser uma espécie de fábrica das imagens, especialmente se avaliarmos a experiência e a exposição que ele acumulou nesta última década comentado futebol, política e até o seu próprio umbigo – em continuados exercícios de plena mediocridade intelectual.
  • Hoje, antes de vociferar Cavaco, terá caído em si e percebido, tal como Soares, que está sózinho, velho e abandonado – apesar de poder ser filho de Soares. É esse desespero da existência política que transforma estes resíduos da política à portuguesa numa espécie de liquidação total, como nos saldos, a fim de tentar, desesperadamente, competir com o que quer que seja, recortando uma fatia fina de espaço público que lhe permita afirmar a sua vox e dizer ao mundo: vejam-me, lembram-se de mim, eu, afinal, ainda existo, e agora já estou reformado...
  • Santana reencarna nesta derisão, neste simulacro hiper-representativo que revela toda a vacuidade do pensamento político nacional, todo o espalhafato. Santana revela a intriga política, o rancor do mau perdedor, o nostálgico, o incompreendido, o incendiário de congressos para massas sedentas mas pouco inteligentes, o traumatizado, o oprimido, a criança terrível que se rebela contra tudo e contra todos a propósito de nada. Santana tem de compreender que governar, estar em sociedade exige seriedade, competência e preparação intelectual, tudo condições que ultrapassam os requisitos para fazer um discurso e incendiar as massas ignaras em busca de sangue e tensões de um qualquer dejá-vu alí no Coliseu representando uma peça em que o filho pretende matar o pai... Depois, engana-se e a peça termina com o filho a dar um tiro nos miolos - que falha e depois fica paralítico e inconsciente o resto da vida. Isto além de drama encerra uma tragédia (à portuguesa).
  • Santana transformou-se assim no seu próprio paradoxo, dado que foi o nómada mais sedentário da política portuguesa pós-25 de Abril. Queria ser PM e foi, mas acabou na realidade por não ser coisa nenhuma e revelar uma terrível e humilhante impreparação política e falta de liderança que o lançou na rocha tarpéia, que era o obelisco em Roma donde eram precipitados os traidores e aqueles que queriam subir na vida a todo o custo e terminavam precipitados no abismo..
  • Santana aparece hoje a vociferar e a tocar os sinos das suas igrejas na esperança de que alguém o ouça para além dos seus amigos pessoais, que se confinam às “cabalas” do costume. Será que já fez as pazes com Henrique Chaves???
  • Vejo hoje Santana e detecto o paradoxo em andamento, incapaz de se reciclar, incapaz de conter as lágrimas de crocodilo, de conter os seus irreprimíveis rancores que matam por dentro quem quer que seja. Santana converteu-se numa imagem violenta e obsessiva que se vê a desfilar no seu próprio espírito de Rolls mas depois acorda, sem dinheiro e passe social, e tem de apanhar o bus para os Olivais.
  • Santana precisa de descargar as suas águas, de verter as suas vísceras, em suma: precisa de esmurrar Cavaco, ainda que virtualmente através daquela formulação bacoca que nem aos surdos convence.
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  • Mas quanto mais Santana vocifera Cavaco mais empurra este para cima, em direcção à vitória. Quanto mais Santana critica e revela os fígados mais Cavaco se lhe cola à pele da nuca e revela aos portugueses que foi o seu pai-político.
  • Um dia ainda veremos Santana zangado a sério, e aí declarará guerra à violência que nos cerca, multiplicando-a. Imagino já a criança terrível partindo as câmaras dos repórteres das estações de tv – mas não todas, na esperança de continuar a ser notícia por aquela que poupou à desgraça.
  • Por este andar, um dia ainda veremos Santana ser notícia ao lado de outras notícias dando conta de personagens de BD, e outros cromos do nosso tempo que se assemelham a terroristas, a atiradores furtivos, a pedófilos, a empresários que fugiram ao fisco, a psicopatas e a um conjunto de outros sujeitos que estão permanentemente em guerra uns contra os outros.
  • Esta gente pensa que assim é que se faz política. Por isso alguns cromos da nossa praça me parecem esses tais paradoxos em movimento e, como tais, afiguram-se os nómadas mais sedentários do pós-25 de Abril. Há quem diga que ele ainda anda por aí, que é como quem diz: ele farta-se de viajar apesar de nunca sair do mesmo sítio.
  • Eça resumia bem a coisa da seguinte forma, que, aliás, As Farpas depois fizeram referência. Julgo até que Eça se inspirou quase exclusivamente em Santana Lopes - a avaliar pelo seu último desemprenho como 1º ministro - para escrever o que escreveu (infra). Será que Eça ainda está vivo e (também) anda por aí... Ao menos este escrevia bons romances e ensinava-nos qualquer coisa. Nem que fosse que o Portugal do séc. XIX já, então, estava doente, moralmente (e políticamente) doente...
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