quarta-feira

A sombra de Soares e a violência das imagens. Para quê?

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Os "piratas" da imagem revelam, numa pequena decisão de arquivística, toda a manipulação de negociantes da imagética nacional. Esta imagem sobre Soares, que é maldosa e povoada de dolo dos pés-à-cabeça, corresponde a uma história definida em que se impõe a constatação de uma violência (política) determinada, simultaneamente omnipresente e dificilmente localizável.

Image Hosted by ImageShack.us Ora por mais que desgostemos de Soares, por mais que seja relativo o seu papel político em Portugal, por mais medíocre que tenha sido como homem de Estado e contra-poder do executivo - seja na descolonização, depois dela como Primeiro-Ministro e mui mediano como PR por dois mandatos durante uma década - julgo que não haveria lugar a esta pequena canalhice pseudo-jornalística. Como para tudo, também aqui, deveriam existir limites ético e deontológicos. A não ser que o Expresso seja considerado um blog - em que não existe - ainda - esse cuidado com a imagética e a selecção das imagens que podem denegrir uma pessoa ou instituição. Julgo que seria interessante convocar quem tomou a decisão de escolher a foto e quem tomou depois a decisão de a enquadrar, sabendo antecipadamente os efeitos que ela geraria no espaço público e, sobretudo, neste timing político de eleições presidenciais em que todos os cuidados são poucos. Em nome da qualidade, rigor e isenção do jornalismo, claro está!! Image Hosted by ImageShack.us Se fosse director de um jornal, e sendo contra Soares - política e ideologicamente - jamais deixaria passar aquela pequena violência política (gratuita). Por que razão isto ocorreu? Que motivação terá animado os seus fautores? Não acredito que isto tenha passado pela cabeça do director José António Saraiva - pessoa sóbria, discreta e que julgo exigir um padrão de rigor e objectividade em todo o jornal. Sucede, porém, que esta opção questiona tudo isso e dá de barato aquilo que deve ser tido como a referência do jornalismo em Portugal. Antes, esta imagem faz-nos querer que Soares não passa de um orangotango velho e cheio de moscas do Serengethi, ou um beduíno que se coça da sarna numa qualquer paisagem da África oriental. Porquê esta violência - tão desproporcionada? Sobretudo, aplicada a um actor político em declínio acelerado; a um leopardo que ainda não percebeu que o seu tempo já passou, assim como passou a sua maneira de pensar e de fazer política na dobra do milénio. Olho para esta imagem picada do Expresso e constato que nem o Vale Tudo brasileiro é tão violento; é uma danificação de monta que ali vemos naquela cara macerada; trata-se, pois, de uma imagem que procura espelhar um corpo ferido, de carne dilacerada, de alguém em decomposição do rosto e cabeça - que se traduziu num rude golpe em directo e no ardil do seu exibicionismo. Imagine-se que amanhã um fotógrafo de um jornal da concorrência apanha o sr. Dr. Pinto Balsemão tirando macaco no nariz; coçando o rabo à saída de um WC ou mesmo acomodando o testículo esquerdo à entrada para uma conferência sobre o tema da violência das imagens na comunicação social em Portugal… Imagine-se tudo isto e que essa foto passaria na manchete de um grande jornal nacional. Como é que o próprio reagiria? Mais importante: como é que o próprio se sentiria? Ele e a sua família e amigos? Será esse o preço de fazer carreira política ou no meio empresarial? Julgo que as regras do vale tudo jamais se deveriam aplicar ao universo político. Violência gera violência. Imagino o que Soares deverá ter sentido ao ver-se naquela postura, que é comum a todos nós em situações de maior descontracção. Só que não compete ao visado dizer ao observador o que ele deve ver. Isso seria imoral. Aquele que não sabe já ler as imagens e encontrar um tempo de um olhar deixar-se-á prender pela violência sem que disso se aperceba. Será que foi disso que foi vítima o jornalista responsável pela selecção e edição daquela imagem na menchete do Expresso? Será que a mesma terá passado despercebida aos responsáveis superiores? Qual a finalidade de toda aquela violência? Revelar um velho doente e com sarna que se coça? Denunciar a gula e a soberba pelo poder de um velho? – O velho dos velhos – e como nós sabemos que os velhos são maltratados em Portugal! No Oriente é diferente, e poucos são os velhos que vão morrer aos asilos e lares... Para quê tanta violência física e psíquica? Soares não vale mais do que 11/12% da expressão sociológica em Portugal. Para quê infligir tanta dor a um ser já moribundo da política? Não se compreende… Será por pura maldade? Pura estupidez? Julgo que ambas as coisas estiveram na base dessa opção imagética com nítidos efeitos políticos que seriam de todo evitáveis. Até porque isto permite a Soares – e com razão – vitimizar-se desta perseguição mesquinha e granjear mais uns votinhos.. Esta imagem sairia beneficiada se, porventura, pusessem Soares a fumar um charro nas Docas, a injectar-se com coca, a ser torturado com capilé nas masmorras do Aljube, a mergulhar da prisão de Peniche onde nunca esteve, ou a ser violado numa cave da Amadora pelo dr. Balsemão. Busco respostas e só encontro maldade, a mesma que T. Hobbes falava e que habita o coração de todos nós, a não ser que nos disciplinemos com a cultura e os valores da civilização, que é, precisamente, aquilo que nos distingue dos gorilas do Seringethi ou dos beduínos da África oriental. Olho para esta imagem e vejo um simulação de guerra através daqueles milhares de pontos que representam a imagem. Noto a existência de um elo entre o fluxo de imagens visuais que apenas remetem para si mesmas e o fluxo indiferenciado da violência que ela comporta. Aquele estado natural, que sucede a todos nós quando estamos mais descontraídos, reflecte agora uma subversão das competências da guerra e da violência do jornalismo em Portugal. Ou seja, aquilo que representa o estado natural em cada um de nós confunde-se agora com a própria guerra civil, as guerras intestinas a que o jornalismo dito de referência deveria ficar imune. Aquela imagem é um excesso; aquela imagem é um monstrinho que reflecte uma espécie de serial killer do jornalismo à portuguesa. O Expresso não é o Crime ou o Incrível. O que dela diria o dr. Balsemão nas suas aulas de Comunicação Social na Universidade Nova onde dá (ou dava) aulas? E como amigo de Soares – a quem foi soprar o bolo-rei dos 80 e tal anos de Soares na velha FIL – o que lhe diria como amigo??? Image Hosted by ImageShack.us Confesso-me estarrecido e perplexo com estas tiranias da vontade, com estes rancores, com tanta maldade e inveja só por causa da política do efémero que nos transforma de amigos em inimigos logo no segundo seguinte – porque mudaram as circunstâncias e os campos de acção em que os actores se movimentam. Confesso que fazer política em Portugal é uma actividade cada vez mais mesquinha e nojenta. A inveja, como dizia Camões, sempre deu cabo de nós. Embora, neste caso ela não tenha lugar dado que Soares só representa um perigo político para si próprio ameaçando, assim, evadir-se da história que já o havia registado. Image Hosted by ImageShack.us Todos estes contornos traduzem à letra uma realidade que aqui temos reiterado: Soares não tem amigos, está sozinho e até os seus colaboradores mais próximos, como Severino Teixeira, lhe querem mal. Enganam-no, ocultam-lhe informação, mentem-lhe, inflacionam a sua importância política e tudo o mais. Soares assim ainda fica mais alienado, desligado da realidade – que nunca percebeu. Por isso, Soares transformou-se numa sombra de si próprio; numa auto-ameaça que qualquer dia implode. Digo mais: Soares poderá caminhar para a loucura política pelo facto de não poder já fazer a guerra de forma clássica, por não saber onde está o inimigo, por não saber distinguir o bem do mal, uma vez que a lucidez também já não é muita, a realidade é fugidia e complexa, os amigos não existem e assim Soares se desespera por entre a violência das imagens que o crucificam em vida. Esta é uma guerra psíquica que Soares não consegue travar nem aguentar. Estas eleições serão a sua humilhação política que o empurrarão para fora da história. Aquela imagem picada do Expresso, não dá a mínima oportunidade da vítima se defender. O Expresso não é um blog – que, por enquanto, ainda se permite fazer um pouco o que quer. Embora muitos blogs já observem muito boa regra que os jornais de referência violam. Olho para a imagem, olho para Soares e percebo que já nem as solidariedades orgânicas e familiares e até da rede informal de amizade – funciona. A política queima tudo em seu redor. A política em Portugal é uma carrada múltipla de pulhice. Num ápice, desaparecem as amizades que nunca existiram, as solidariedades que se organizaram em torno do seu aniversário, fragmenta-se toda a coesão social e mata-se toda a energia colectiva em torno de certa personalidade. É certo que Soares jamais seria eleito, mas isto é um abuso, uma injustiça, um achincalhamento evitável. Isto é o vale tudo da "política à portuguesa", para retomar a equação de José António Saraiva usava durante anos no seu editorial do Expresso. Esta imagem denota que a violência se inverteu: de estruturante, ela tornou-se desestruturante; de conservadora, ela tornou-se destrutiva. De forma perfeitamente gratuita, sem finalidade política alguma. Assim, creio, corre-se o risco de se acreditar que doravante as imagens assassinas são sempre fatais. Julgo, pois, que o Expresso se deveria retratar perante o visado e até perante a sociedade portuguesa em nome do bom jornalismo que julgo quererá observar. É também uma questão ética, acima da questão política em que os jornais não deveriam entrar. Image Hosted by ImageShack.us Julgo mesmo que os efeitos perniciosos desta imagem ainda não estão todos devidamente apurados. Ela infunde medo nas pessoas, e ninguém quer aceder à política sabendo que amanhã à saída de um WC é fotografado a coçar o testículo, a fechar a berguilha, a assoar-se e o mais. Das duas uma: ou se parte a cara imediatamente ao fotógrafo partindo-se a máquina logo de seguida; ou se fica passivo e nada se faz. Qualquer das opções é má. Só pela cultura se chega a uma 3ª via: não ter de partir a cara ao fotógrafo nem ficar passivo. Isto porque o fotógrafo passou a saber – por via da sua formação e das aulas de comunicação social que recebeu do dr. Balsemão da Universidade Nova – que há critérios jornalísticos, os quais, por sua vez, obedecem a valores – e são estes que comandam o processo de fabricação das notícias. É que a gratuitidade, a mentira e a facilidade das imagens conduzem sempre ao fanatismo cego. E depois podemos interrogar-nos para que serve esse fanatismo? Para agradar ao patrão? Para queimar um candidato? Para quê, afinal? Ora no caso de Soares ele já está queimado politicamente, e há muito… Para quê, então, tanta violência psíquica e política sobre este candidato? Não se percebe: maldade, estupidez natural – ambas as coisas, talvez. Na prática, é o grupo de CS do dr. Balsemão que já está a perder com aquela violência imagética: boicotes a links do grupo Impresa, muitas pessoas já deixaram de ver a SIC e Sic notícias; outras prometem só ler o Expresso nas papelarias mas não o compram e o mais. No plano da teoria dos valores e até da teoria política, aquela imagem denota que as imagens têm agora mais relevância do que as ideias – apesar de Soares não ter ideias nenhumas de interesse para a nação, e que a vida social não se depara já com as instituições ou princípios, antes valoriza as imagens e o poder da CS, o 4º poder – que hoje tudo condiciona – e intervém em todas as esferas sociais, por vezes abrindo caminho à definição de políticas públicas. Por outro lado, aquela imagem suscita a ideia de objectividade, de rigor e de isenção no jornalismo em Portugal é uma palavra vã, é um simulacro, uma anedota. De facto, é o 4º poder que impõe a sua primazia nos momentos pré-eleitorais e assim mostram como comandam a pilotagem de todo o sistema social em vista ao condicionamento do (acesso ao) poder. Com efeito, a interacção da vida social é, portanto, um elemento vivo mas cada vez mais dependente do que é ditado pelo eco daquele 4º poder. E a noção de estrutura do sistema político alicerçado nas ideias e nos projectos sofre aqui um rombo de monta, já que doravante aquele sistema passa a apoiar-se mais no peso das imagens e do seu enquadramento do que no seio dos projectos e das políticas públicas. Por outro lado, não posso deixar de significar que é através das imagens – que nem sempre espelham símbolos – que os agentes se posicionam uns em relação aos outros. Vendo aquela imagem – interrogo-me que contributo é que ela nos dá para a compreensão das significações em presença? Será que ela não desenvolve mais neuroses do que explicita a realidade? Porquê bater num velho de 80 anos que troca as palavras, já tem afectado a sua capacidade intelectual e de discernimento? Confunde a realidade com a ficção… Aqui entramos na psicopatologia e nas neuroses que as frustrações da política geram nos actores. Image Hosted by ImageShack.us Julgo que hoje o jornalismo devia ser uma profissão mais nobre, mas para isso essa actividade não pode continuar a ser feita com pessoas com baixo índice cultural, sem mundo, sem capacidade de relacionação, sem saber o mínimo de humanidades. Mas é esta gente que se encontra com um "revólver" na mão, e esse revólver é a sua máquina fotográfica que lhes dá um poder imenso, desmedido e até irresponsável. Isto deveria ser codificado de molde a responsabilizar quem violasse regras básicas e valores essenciais da nossa civilização. Até porque a selecção de imagens, a construção do objecto fotografado dependem de questões prévias. Saber o que se pretende registar e qual o contexto histórico desse momento que encerra a fotoreportagem. E aquela foto, certamente, só nos dá Soares a tentar arrancar uma crosta da cabeça como se de um orangotango da Tanzânia se tratasse. Não é desejável que no interior de uma sociedade, sobretudo tratando-se de um grande grupo de CS, se criem conflitos meramente artificiais entre os grupos, as corporações, os partidos, as personalidades, as pessoas comuns. Sabemos que a CS é um veículo determinante na criação de valores sociais, por isso há que saber estar à sua altura. Afinal, o jornalismo é uma arte nobre, uma actividade que nos devia enobrecer a todos e à grandeza da polis – empregando meios “limpos” visando objectivos justos: informar com verdade e o máximo de objectividade, rigor, isenção e independência. Sabemos que estes valores são absolutos e nunca a mente humana os consegue alcançar, mas há padrões mínimos que nos devemos esforçar por atender. E a ética nas imagens deveria ser um deles. Uma realidade nem sempre conseguida. Image Hosted by ImageShack.us Bem sei que a profissão de fotojornalista é um pouco como a das meretrizes, tem de ser tudo muito depressa para aviar mais umas fotos ao freguês que se segue. Mas um bom fotojornalista também sabe que ceder à mediocridade é um pouco como ceder ao pânico e, às vezes, começa-se a correr. E se se começa a correr é ainda pior porque se fica com a impressão de que o mundo inteiro nos persegue, e é aí que temos medo de parar. Pergunto-me, hoje, como se sentirá o homem que decidiu ter sido aquela foto (e não outra) que fez a manchete do Expresso da semana passada? Busco razões benevolentes e só encontro maldade… Será que o homem ainda é pior do que os macacos da África oriental – que quando se danam viram canibais e fazem-no não por terem fome ou para assegurarem a sua sobrevivência, mas por uma excitação doentia e velhaca da mente que se adensa com o espírito grupal? Será porquê, afinal?!

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