Agostinho da Silva on the rock's
- Hoje, um modesto e humilde blogue como o meu, mereceu a atenção de um dos homens mais cultos e eruditos de Portugal. Portugal, Europa e arredores.. Esse homem - que é um brilhante pensador, um talentoso historiador (até Álvaro Cunhal biografou), um arguto analista e mais umas quantas características que a minha verborreia agora e aqui não consegue decifrar - está entalado, ou melhor supra-entalado, entre aqueles dois Agostinho da Silva - que, presumo, o Dr. José Pacheco Pereira (JPP), também respeitava. Assim sendo, já temos uma coisa em comum. Mas aquele blogue... Aquele blogue separa-nos, abre-nos uma vale de Moscovo a Pequim, tamanha é a distância geo-ideológica.. Mas há quem goste, e como dizia uma empregada lá de casa: "ele há gosto pra tudo". Hoje revendo o abrupto, percebi o que a Rosa nos queria dizer, já na longínqua década de 70 do séc. XX. Por falar na Rosa.., nunca mais a vi. Que será feito dela?
- Ao ver-me citado fico grato, enternecido, embevecido mesmo. Todo eu palpitava. Mais parecia uma bailarina psicadélica - quando hoje o meu editor me comunicou que o macroscopio entrou na galeria do abrupto. Bem haja Júlio. Elas eram pulsações de Aristóteles, pulsações de Platão (esse homo de ombros largos como o JPP), pulsações de Maquiavel (o Nicolas para os amigos), pulsações de Max Weber, de Alexis de Tocqueville e o mais. Eu, um blogueiro que nem links tem, e só sabe o que é o capitallinkismo através de uma tal tasca da cultura - que fez o favor de me explicar o que era a coisa, não merecia tal destaque. Pois a pub. paga-se e é cara, e eu não paguei nada ao JPP. Quis, um dia, que ele integrasse uns parcos textos, mas nada. Ainda aguardo com expectativa uma resposta para uma nota de roda-pé. Ou para uma badana, com foto a cores, pastelinhos de Belém e luzes psicadélicas acompanhadas de livros com páginas a branco. Daqueles livros que agradam aos generais de 4 estrelas (e meia). A "meia" é da luz que ganham quando vão à sic debitar generalidades sobre a guerra do Iraque e das mortes na Amadora, pedofilia no jardim da Madeira e o mais.
- Eu, de facto, queria agradecer a esse pioneiro da blogosfera que desbravou caminho com o seu "catter-piller" filo-pensante. Caminho que outros depois trilharam. Tem mérito. É d'homem. Mas aquele blogue, aquelas fotos, aqueles textos... Sempre que lá vou lembro-me de alguns funerais. Até consigo sentir o cheiro das flores, que irrompem daqueles campos blogo-verdejantes, mas, ao mesmo tempo, amorfos, sem mensagem, sem alma, como se aquelas ramagens e aguarelas quisessem emigrar da tela para parte incerta, como fazem os ucranianos quando aterram em Portugal e se deparam com baldes de areia e cimento, e ferros e caboucos por abrir. Aí param, reflectem e dizem ao mundo: "levem-me, tirem-me daqui pra fora, que já não aguento mais"...)))) Um litro de Voka sem laranja, p.f.v
- Ora, o JPP não é assim: é vivo, é inteligente, é incisivo, até mete o Zé Magalhães no bolso (o que também não é difícil), presumo que desgosta de Vodka (apesar de ser um conceituado sovietólogo, embora ocidentalizado) e deve ter uma biblioteca do caraças. Aliás, só queria receber 1/3 daquilo que ele supostamente deve gastar em livros por semana. A não ser que lhe os ofereçam, como fazem ao Prof. Marcelo (só por isso já vale bem a pena ser estrela), outro talento da nossa praça. E por certo que JPP não compra sempre os mesmos exemplares..
- Eu queria agradecer a JPP a audição que me deu; a pub. que me facultou, a notoriedade que conquistei (hoje até as portas do metro se abriram automáticamente só para eu entrar). Ora, não é isto admirável para um modesto blogueiro!? Daí as palpitações psicadélicas, mais pareço o Dr. Sampaio quando tem uma ideia.. Presumo agora que já seja fácil imaginar uma ervilha a brilhar numa imensa sala escura...
- Na realidade, fiquei grato a JPP. Queria muito agradecer-lhe, mas só me vinha à cabeça aquelas imagens mórbidas, aqueles tons de funeral de família, aqueles choros de carpideira pagos antecipadamente. É tudo isso que aquele blogue me faz lembrar. E que contrasta com aquela personalidade viva e acutilante da nossa praça. Foi por isso que há dias, numa pequena revista de informação onde colaboro - a Tempo - (pequena mas séria) me interroguei sobre aquele gap: entre o homem real (denso, reflexivo, maduro, culto, erudito, seminal até..) e o homem virtual (frágil, desinteressante, banal). Apesar de o homem ser o mesmo - entre aquelas duas dimensões há um fosso. Há uma vala do tamanho do mundo. Um mundo do tamanho do Mundo. Ora ninguém de bom senso percebe isto!
- Queria muito curvar-me ante ele, com gestos múltiplos de reconhecimento de sinaleiro mas, na realidade, só me vinha à cabeça o Agostinho da Silva. Não sei se por causa das barbas brancas neve, se por ambos serem filósofos (embora aquele nunca tivesse sido maoista como JPP e Durão, que deixou Portugal a arder e está hoje em Bruxelas. Ora a arder fico eu, mais umas dezenas de pessoas que pensam como eu acerca do blog de JPP. Só que não o dizem na blogosfera. Confessam-nos baixinho aos amigos. Um dia explicarei as razões de natureza psicológica que levam a este tipo de comportamento. Será mais uma reflexão incursiva ao nosso amigo de Viena, Sigmund Freud. Até lá..
- Mas regressemos à terra. Alguns noveis cyber-amigos até já me deixaram de falar com receio do abrupto... O abrupto mete medo, mas comigo foi simpático, amável - senão mesmo caridoso. Mas enquanto dizia tudo isto o meu pensamento estava, de facto, em Agostinho da Silva. Era no sistema de pensamento dele que me queria concentrar para alinhar algumas ideias-força. Ideias que tornaram Portugal um país mais e melhor pensado. Veremos se consigo, sendo certo que assim também acabo por reconhecer o valor extra-virtual a JPP. Será uma espécie de evocação a Agostinho da Silva e, ao mesmo tempo, fazer alguma lux sobre o blogue dele. Tudo na esperança de que possamos aqui contribuir para converter aquele funeral virtual num ambiente cultural mais promissor.
- Por isso, basta de blogues "funereiros". Atentemos nas essências, que estão sempre além das aparências.
- Agostinho da Silva é dos mais paradoxais pensadores portugueses do século XX. Um pouco por analogia ao blogue de JPP - no séc. XXI. Quando o queremos sistematizar numa prateleira, toda alinhadinha, ele escapa-nos, como areia por entre os dedos, numa tarde quente de Primavera, como esta. O tema mais candente da sua obra foi a cultura de língua portuguesa, num fraternal abraço ao Brasil e aos países lusófonos. Contudo, a questão das filosofias nacionais não foi para si decisiva, parecendo-lhe antes uma questão académica: Não sei se há filosofias nacionais, e não sei se os filósofos, exactamente porque reflectem sobre o geral, se não internacionalizam desde logo.
- O problema de que parte Agostinho da Silva é a busca de uma meta-razão de ser para Portugal: o que eu quero é que a filosofia que haja por estes lados arranque do povo português, faça com que o povo português tenha confiança em si mesmo, entendendo por «povo português» - não apenas os portugueses de Portugal, mas também os do Brasil, laçados de índios e negros, os portugueses de África, tribais e pretos, como também os da Índia, de Macau e de Timor.
- Cultivar este pequeno sonho - em que os portugueses vivem apenas para Portugal - não tem razão de ser. Por isso, se apresentou aos portugueses, e aos olhos de quem o quis ver e ouvir, como um pensamento desconcertante, obrigando os seus leitores a pensar, repensar e a duvidar de si próprios, como fez Sócrates, noutras latitudes. Infelizmente, aquilo que JPP virtual nos sugere com o seu blogue é algo que não corresponde à sua dimensão real. Paralelamente, Agostinho tornara-se no cavaleiro do Quinto Império. Mas corria sem armadura e de cara destapada, com olhar maroto e rebelde, sempre surpreendendo a realidade, com mais realidade. Tinha coragem, e não se escondia sob uma máscara ou uma persona a que muitos blogueiros recorrem para dizer das suas, sob a capa da flexibilidade, e de outras tretas que aprenderam retardadamente com a multidão de heterónimos de Fernando Pessoa.
- Depois, o bom Agostinho foi mais longe e inventou o reinado do Espírito Santo, mitigando o franciscanismo e o joaquinismo. O objectivo era: Restaurar a criança em nós, e em nós a coroarmos Imperador, eis o primeiro passo para a formação do império. Estava dado o 1º passo para a construção do império universal lusíada. Um império diferente, porque alicerçado não na força das armas, nem nas riquezas económicas - que também não tínhamos - muito menos em personas e heterónimos por descobrir, mas na riqueza de um outro "k"apital: o conhecimento. Seria através desse "diamante", como que antecipando toda a vantagem da sociedade da informação que depois emergiu em força e hoje comanda as nossas vidas, que os portugueses criariam os seus impérios, nuclearizados no espírito dos homens, sempre dispostos a servir como nos antigos templários ou os cavaleiros da Ordem de Cristo.
- Eis a filosofia de Agostinho da Silva. Que partia mais razão imediata e aferida pelo common sense, do que por uma reflexão estéril, própria dos académicos e da academia. Para isso recorria aos bons filósofos que também haviam sido grandes homens de ciência, como René Descartes, Leibniz, Espinosa (que ganhava a vida a polir lentes) - numa articulação perfeita entre as matemáticas e as ciências sociais. Tudo lhe ocorria com o espírito de Eclesiastes, o templo da sabedoria, pois sabia que toda esta ciência do século XX deu no que deu: duas Guerras Mundiais (pelos efeitos) - mas europeias nas causas.
- Percebia, como ninguém, que toda aquela ciência, toda aquela razão da máquina teria de ser salgada e temperada com a tranquilidade dos deuses, cujos mistérios ajudariam a desvendar os nossos próprios limites. Dos quais emergiriam novas soluções para outros problemas, numa circularidade infindável, enfim, numa eternidade de que, afinal, só éramos uns microscópicos pontos de luz, a apagar e a acender, como almas psicadélicas, que gritam (perdidas ) e no escuro - chamando pela mãe. Um pouco como o blogue do JPP - clamando pelos fãs. Que são imensos, milhões, trilhiões de links. Pois como me dizem os bloggers mais experimentados, o que conta é o número de visitas, e quantas mais melhor, o resto não interessa. Lembrei-me logo daqueles livros do Eu sei lá de Margarida Pinto Correia ou Galinha Pinto Correia que o Luís Osório da capital apresenta, num misto de novel intelectual que, em rigor, não interesse ao menino jesus... Enfim, mas o que dizem é que a coisa é muito boa e recomenda-se porque vende pra caramba... Eis o critério. Vender, vender, vender, linkar, linkar, linkar... Daqui decorre o capitallinkismo.
- Que fazer, então (?) - para levar a bom porto essa batalha pela universalização proposta por Agostinho? Senão "agarrar" no mundo e trazê-lo para a Europa. Empurrando consigo também a Europa para o mundo, como fizémos ao tempo das Descobertas, cujos principais mapas e cartografias foram desenhados através de linhas d'água e de ventos que - sempre amigos - nos empurraram à bolina (e à borla) de modo a que assim púdessemos dar novos mundos ao Mundo. Só dessa forma despojada nos sentiríamos mais livres. Um pouco como quando abandonamos o blogue do JPP.. Curioso é verificar as palavras de Pedro Mexia, que vota no Liceu Camões, como eu. Não é com um simulacro desse cá dentro (os poemas e os quadros)...
- Afinal, foi também esse o ideal de Luís Vaz - que teve aquele assombro de talento e fez Os Lusíadas. O JPP lembrou-se de os copiar e saiu-lhe o abrupto. Não o podemos levar a mal por essa cópia mal impressa. Cá pra mim eles conheciam-se, andaram juntos na escola e tratavam-se por tu em todas as questões. Refiro-me, aqui, só ao Agostinho e ao Luís Vaz, naturalmente... Doutro modo, como poderíam ter-nos deixado um legado tão rico e proveitoso como aquele que nos deixaram!?
- Deixaram-nos a palavra, a liberdade e a cultura. Só temos de as aproveitar..
- O JPP deixou-nos o seu blogue. E aqui está uma pseudo-representação dessa virtualidade. Eu, com o meu modesto e humilde porte e blogue: - o macroscopio - sem links e descobrindo agora conceitos e ferramentas novas. Sem o tal capitallinkismo sou mais pequeno. Pequeno mas não cego. Cego fico com o blogue do senhor do lado, cujo prestígio, talento e autoridade em todas as matérias possíveis e imaginárias, até astronomia e pintura rupestre (porque tem muitos livros na Marmeleira), é duma grandeza inquantificável. Tanta que acho até que ele me vai afogar quando ambos mergulharmos..
- Só que eu sei que a piscina está vazia, como o blog do JPP. Por isso vivam os artigos dele do Público. Viva a Liberdade de expressão. Viva Portugal. Viva o JPP por nos dar blogues assim. Tão fracos que nos obrigam a pensar em homens com ideias tão elevadas, como aqui o nosso mestre e amigo Agostinho.
- Aqui vemos duas representações daquilo que nos dado ler através do abrupto: a dimensão do homem público, culto, um técnico do poder, falando com propriedade da gestão da polis, coragem, coerência, lutando em nome de princípios, valores e ideais, tudo com uma rara sustentabilidade intelectual e política neste deserto pensante que é Portugal; depois, para estragar o bolo, o mesmo homem apresenta a sua outra dimensão: a virtual. E aí, em lugar de nos enriquecer, como bem poderia fazer, abre-nos a cabeça e tira-nos o melhor que temos. A massa cinzenta. Ora isto é uma ofensa aos portugueses que pensam e já não lêem o Público, desde que o Zé Manel Fernandes resolveu pôr-lhes cadeados. Não se sabe ainda se foi sob ordem do Belmiro, ditadura do mercado ou mera prudência editorial. Assim, naquele caso o JPP enriquece-nos, valoriza-nos, indica-nos um caminho de reflexão que podemos (ou não) seguir na equação dos problemas da polis; no outro caso, entorpece-nos a alma, rouba-nos a massa cinzenta, joga-nos poesia como poeira para os olhos - já padecendo de cataratas. Num caso, enriquece-nos, no outro empobrece-nos. Eis o que penso do seu abrupto. E tenho a certeza, ou seja, a prova provada, que centenas de pessoas e de blogues que o citam insistentemente pensam exactamente assim. Só que não o dizem. Porque a coragem, a assunção da verdade é sempre uma ruptura, uma dor, uma linha de fractura entre o ser e o não ser que só alguns, aqui, como eu, têm a bondade de singelamente assumir. Não contra o homem-real, mas profundamente crítico com a sua dimensão virtual.
- E agora vou beber um Martini, com a menina do papagaio. Pois com o blogue do Pacheco Pereira não aprendo rigorosamente nada. E isto é uma tremenda frustração - vindo de quem vem. Mas quero desde já dizer que dispenso o papagaio a repetir-me aquela treta do baby, martini, martini baby... O que eu não dispenso é o Marti..&
- Estou convencido que o mestre Agostinho - se hoje fosse vivo - e alguém lhe dissesse - "olhe clic aí nessa página da Net", ele mudava de assunto e teorizaria sobre a bondade de António Salazar, ou as botas dele; ou então, numa arremetida de pendor mais metafísico, recuperaria uma matéria que "muito" o interessava em finais da década de 80: porque é que os pombos que caganitavam o quiosque de jornais alí no Jardim do Príncipe Real - o faziam sempre no mesmo sítio e à mesma hora!?
- Estudos recentes no domínio da etologia já chegaram a uma conclusão: ela está à vista. Os pombos, talvez mercê de algumas influências funestas no domínio virtual resolveram, também eles, converterem-se em pombos diferentes. Foi aí que nasceu uma categoria nova, a dos pombos-intelectuais. Convertidos ao maoismo na décda de 70 e à social-democracia (com várias costelas marxistas) nas décadas de 80 e 90 do século passado. Para, na transição do milénio, assumirem um outro tipo de ideologia, mais sofisticada: o pombo liberal mas com preocupações sociais. Apresento-Vos o pombo intelectual do Príncipe Real, amante de Mao, Sartre e Camus. Mas o que ele queria mesmo aprender era como c.... em cima da cabeça dos humanos, conforme bibliografia infra.. perante uma multidão aérea de pombos com vontade de o fazerem em massa. Estes pombos eram todos do Príncipe Real. Hoje os etólogos, de acordo com estatísticas recentes, referem que este tipo de pombo povoou todo o mundo. Talvez seja por isso que o mundo, hoje, esteja mais poluído..
<< Home