quinta-feira

Evocação de Teixeira de Pascoaes - entre a vida e a morte -

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O sol do outomno, as folhas a cair, 
A minha voz baixinho soluçando, 
Os meus olhos, em lagrimas, beijando 
A terra, e o meu espirito a sorrir... 

Eis como a minha vida vae passando 
Em frente ao seu Phantasma... E fico a ouvir 
Silencios da minh'alma e o resurgir 
De mortos que me fôram sepultando... 

E fico mudo, extatico, parado 
E quasi sem sentidos, mergulhando 
Na minha viva e funda intimidade... 

Só a longinqua estrela em mim actua... 
Sou rocha harmoniosa á luz da lua, 
Petreficada esphinge de saudade... 

Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias' 
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Notas: 

- Teixeira de Pascoaes é designado o poeta da saudade, mas ele é muito mais do que isso dado que consegue recriar em nós várias paisagens e fronteiras, esperanças e escuras expectativas, como as que decorrem das conversas que mantemos com os mortos nessa linha do tempo. Ele sabia que ficamos presos aos lugares, neles ficamos paralisados, incapazes de decidir, por vezes até à morte. 

[...] Vivo, estou aqui, diante desta velha casa onde nasci, sofri e amei, e donde me afastaram, certo dia, metido entre quatro tábuas

- Naturalmente, este é um caminho que se repete em todos e em cada um de nós e que Teixeira de Pascoaes faz questão de nos recordar. Recordar que a vida nos corroi com múltiplas sombras, e que a morte é mais terrível para aqueles que fingiram a vida, não a souberam verdadeiramente assumir. 

- O Pobre Tolo consiste nesse despertar entre a vida e a morte, feito de esperanças e de frustrações, as quais todas são apagadas através dum fumo imparável. E esse fumo o que é senão o território da memória que é motorizada pelas imagens em movimento, quais desenhos animados, com formas azuis e negras enquadrada por uma imensa fogueira em que participam anjos e demónios, o bem e o mal. 

- Pascoaes sabia bem que somos o corpo dum macaco com uma alma de anjo, mas a conclusão redunda sempre na morte. A vida é, afinal, essa luta entre a lembrança e o esquecimento, a vida e a morte, acompanhada das demais imagens e metáforas engendradas pela nossa imaginação. 

Um jogo de luzes e sombras que nos modelam o corpo e a alma.
 
Hoje, que se celebra a vida dos mortos que jazem nos cemitérios talvez seja oportuno meditar neste importante legado filosófico, literário e poético que o imenso Teixeira de Pascoaes nos deu e por isso lhe estou grato. 

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