A genialidade de Guilherme Shakespeare transposta para a tragédia da Ponte-de-Sôr
Nota prévia: Da análise ao posicionamento social da família da vítima e do seu advogado ressaltam duas ideias encadeadas: 1) a importância maior da indemnização; 2) e a ideia segundo a qual o maior bem a salvaguardar não será a punição, mas o ressarcimento, logo a indemnização. No fundo, duas ideias que desaguam numa só: no dinheiro, que será, seguramente, relevante para prover os cuidados de saúde da vítima, mas o advogado deste, salvo melhor opinião, deveria equacionar uma estratégica mais abrangente e ambiciosa, ou seja, o dinheiro é um vector crucial no tratamento da vítima, mas a sociedade, regulada e enquadrada por leis, deveria preocupar-se, acima de tudo, em aplicar a lei civil e criminal ao caso em concreto, e não, como parece desenhar-se, que a uma pena mais suave (negociada entre as partes) corresponderia uma indemnização mais choruda para a família da vítima, que é carenciada.
Em suma: a família da vítima deverá preocupar-se tanto com o dinheiro que irá receber resultante do apuramento da indemnização pelos danos físicos, morais, etc, mas também deveria estar focada na sanção aos agressores, caso venha a provar-se que a vítima foi quase mortalmente espancada numa posição que não configura legítima defesa por parte dos agressores. No meio de tudo isto, fiquei confuso com a posição do advogado da família da vítima.
Não quero crer que se esteja apenas a pensar em honorários..
Não quero crer que se esteja apenas a pensar em honorários..
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O Vil Metal
Timão: Ouro amarelo, fulgurante, ouro precioso! (...) Basta uma porção dele para fazer do preto, branco; do feio, belo; do errado, certo; do baixo, nobre; do velho, jovem; do cobarde, valente. Ó deuses!, por que isso? O que é isso, ó deuses? (...) [O ouro] arrasta os sacerdotes e os servos para longe do seu altar, arranca o travesseiro onde repousa a cabeça dos íntegros. Esse escravo dourado ata e desata vínculos sagrados; abençoa o amaldiçoado; torna adorável a lepra repugnante; nomeia ladrões e confere-lhes títulos, genuflexões e a aprovação na bancada dos senadores. É isso que faz a viúva anciã casar-se de novo (...). Venha, mineral execrável, prostituta vil da humanidade (...) eu o farei executar o que é próprio da sua natureza.
William Shakespeare, in "Timão de Atenas"
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CARLOS DIOGO SANTOS02/09/2016 08:17
in jornal I
A família de Rúben Cavaco não vai ser dura na justiça com os filhos do embaixador iraquiano. O i sabe que a estratégia da defesa passará por ir decidindo a cada passo qual a melhor saída, de modo a que sejam reparados os danos causados ao jovem. “De que nos serve que sejam presos”, questiona uma fonte da família que preferiu não ser identificada, mas que confirmou ser também essa a política do advogado que escolheram, Santana-Maia Leonardo.
Longe vão os dias em que o advogado criticava na imprensa a tese de Ridha e Haider, os dois filhos do embaixador do Iraque em Lisboa. A posição que definiu logo após o espancamento – refutando a hipótese de se tratar de um episódio de legítima defesa – deu lugar a uma bem mais favorável aos interesses dos estrangeiros.
Contactado pelo i, o advogado não quis prestar declarações sobre esta matéria, mas fonte familiar garante que Santana-Maia tem repetido a ideia de que é preciso perceber o “país onde estamos”, referindo que em Portugal, muitas vezes, as pessoas são condenadas a pagar indemnizações e não cumprem.
Para a defesa, mais importante do que a prisão – caso haja levantamento da imunidade – é o ressarcimento. Até porque, explicam pessoas que conhecem a família, trata-se de um agregado pobre que ainda não sabe se o jovem precisará de acompanhamento para o resto da vida: “De que servem sentenças bonitas do tribunal?”(...)
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