Evocação do centenário do nascimento de Vergílio Ferreira e Léo Ferré
Reflexão breve acerca do mistério da existência em Vergílio Ferreira:
Nascimento: 28 de janeiro de 1916, Gouveia
Falecimento: 1 de março de 1996, Sintra
Parece que Vergílio Ferreira se preocupou com a compreensão e debate das ideias existencialistas desde a morte do seu Pai e do seu cão. Será isto estranho? Ou seja, foi a morte de um familiar próximo que o levou a equacionar algumas das teorias filosóficas que depois o acompanharam na concepção dos seus romances e, regra geral, na forma como via o mundo, o interpretava e se posicionava nele e perante os outros.
Afinal, qual é o sentido da nossa existência!? E existimos perante quem e o quê? O que, no fundo, nos confere sentido à existência?
Tudo questões pertinentes neste debate "existencialista" que valorizou todo o pensamento e a obra "vergiliana". Especialmente, para quem nasceu e viveu uma infância em comunhão com a Natureza, em ligação com a figura materna, e vê aí o princípio gerador de vida. Mas também é na Natureza, e da sua agressividade e pujança, que o escritor encontra a protecção na figura paterna.
Daqui decorre algum do circunstancialismo de vida na obra de Vergílio Ferreira, que compulsa o homem diante da presença serrana e da brutalidade da Natureza - que evidencia a fragilidade humana.
No seu livro Aparição, depois transposto para o cinema, Vergílio Ferreira levou essa questão tão a peito que escolheu aquele título - Aparição - que traduz a revelação instantânea de si próprio. Foi essa a dimensão filosófica que emprestou ao seu romance, de 1959.
Para os existencialistas, a existência precede a essência. Aliás, na linha de Jean-Paul Sartre, que certamente influenciou o escritor, e ao negar a existência de Deus - na linha do existencialismo ateu - permite que a existência humana preceda a essência. Teoria contrária foi defendida por I. Kant (séc. XVIII) ao adoptar a ideia de que a essência precede a existência, supondo uma natureza humana universal.
Seja como for, o homem existe no mundo, ele aparece nesse mundo, para depois se definir, ou seja, "revelar-se". E esta é a ideia nuclear em Vergílio Ferreira que andou uma vida em busca de sentido para a própria vida. Primeiro, existe o homem, depois a humanidade. E o homem é aquilo que pensa e faz.
Eis o drama de existir no pensamento e obra de Vergílio Ferreira, que a passagem do tempo não apaga, nem pode apagar, dado tratar-se de uma questão eterna que perseguirá sempre o homem, do berço à cova em qualquer época que ele viva.
Despontar essa "aparição" em cada um de nós será sempre incorrer nesse drama de existir, viver o drama da existência. Um drama que, um dia, se consuma na tragédia. No fundo, a tragédia da existência, porque o prémio de nascermos é vivermos; mas o castigo por vivermos é morrermos. E esse é o ciclo irreversível.
E com o tempo, tudo se vai.., como diria Léo Ferré - aqui também justamente evocado.
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Avec Le Temps
Avec le temps
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie le visage et l'on oublie la voix
Le coeur quand ça bat plus, c'est pas la peine d'aller
Chercher plus loin, faut laisser faire et
c'est très bien
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre qu'on adorait, qu'on cherchait sous la
pluie
L'autre qu'on devinait au détour d'un regard
Entre les mots, entre les lignes et sous le fard
D'un serment maquillé qui s'en va faire sa nuit
Avec le temps tout s'évanouit
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
Mêm' les plus chouett's souv'nirs ça t'a un' de ces gueules
A la Gal'rie j'Farfouille dans les rayons d'la mort
Le samedi soir quand la tendresse
s'en va tout' seule
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
L'autre à qui l'on croyait, pour un rhume, pour un rien
L'autre à qui l'on donnait du vent et des bijoux
Pour qui l'on eût vendu son âme pour quelques sous
Devant quoi l'on s'trainait comme trainent les chiens
Avec le temps, va, tout va bien
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
On oublie les passions et l'on oublie les voix
Qui vous disaient tout bas les mots des pauvres gens
Ne rentre pas trop tard, surtout ne prend pas froid
Avec le temps...
Avec le temps, va, tout s'en va
Et l'on se sent blanchi comme un cheval fourbu
Et l'on se sent glacé dans un lit de hasard
Et l'on se sent tout seul peut-être mais peinard
Et l'on se sent floué par les années perdues
Alors vraiment
Avec le temps on n'aime plus.
Com o tempo
Com o tempo
Com o tempo,
Com o tempo, vai,tudo vai embora
Nós esquecemos a face e a voz
O coração, quando não bate mais, não vale a pena ir
Procurar mais longe, deve-se deixar acontecer e
Tudo está bem
Com o tempo
Com o tempo,vai,tudo vai embora
Aquele que nós amavamos,que nós procuramos debaixo da
Chuva
Aquele que nós reconheciamos só com um olhar
Entre palavras,entre linhas,e debaixo da maquiagem
Como um juramento escondido que foi adormecido
Com o tempo,tudo desaparece
Com o tempo
Com o tempo,vai,tudo vai embora
Até as mais maravilhosas memorias,até aquelas
No corredor eu imaginei nos raios da morte
Sabado a noite,quando a ternura parte sozinha
Com o tempo
Com o tempo,vai,tudo vai embora
Aquele em quem acreditavamos, por uma constipação,por um nada,
E aquele que nós demos vento e jóias
E vendemos nossa alma,por somente alguns centavos
Por aqueles que nós sofremos,como cães
Com o tempo,vai,tudo vai embora
Com o tempo
Com o tempo tudo vai embora
Nós esquecemos das paixões e nos esquecemos das vozes
Que te falavam baixinho as palavras das pobres pessoas
Então não chegue muito tarde,nao apanhes frio sobretudo
Com o tempo Com o tempo,vai,tudo vai embora
E nós nos sentimos cansados como um cavalo perdido
E nós nos sentimos gelidos numa cama qualquer
E nós nos sentimos completamente sozinho mas sortudos
E nós sentimos que nós nos perdemos nos anos que se
Passaram,então realmente
Com o tempo nós deixamos de amar.
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