segunda-feira

Um tempo novo - por Nuno Saraiva -

Nota prévia: Razão tinha o actual PM para não querer conversas a sós com a dupla de meliantes...
Na primeira mensagem de Natal como primeiro-ministro, António Costa anunciou um tempo novo. De crescimento, de virar de página da austeridade, de reposição de rendimentos confiscados ao longo de quatro anos e de cumprimento de outras tantas promessas feitas aos cidadãos e às empresas ao longo dos últimos meses. Na verdade este é tempo velho de um mês de governação, apoiado pelas esquerdas - vade retro - no alívio do garrote à carteira, e pela direita - abrenúncio - na manutenção de resquícios do financismo. Mas dezembro trouxe-nos outro tempo velho, o das surpresas e do lixo varrido para baixo do tapete que, é da praxe - governo que se preza abre sempre a boca de espanto -, quem entra encontra sempre no sótão ou na cave de São Bento. Honra seja feita ao primeiro-ministro que, a 16 de outubro, em plena negociação com a defunta PAF já tinha explicado por que razão não queria mais conversas com Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. "Em cada encontro que tivemos foram sempre deixando cair uma surpresa desagradável [de grande gravidade económica] que se vai tornar pública um dia." O tempo veio a dar-lhe razão. Primeiro foi o logro da sobretaxa com justificações mal amanhadas de quem fez da publicidade enganosa um ardil para pedir o voto. Agora a indecência da resolução do Banif em que, mais uma vez, quem tinha de saber não sabe, quem tinha de ver não viu, quem tinha de fiscalizar não fiscalizou e quem tinha de decidir não decidiu, tudo a bem de uma saída limpa das eleições. No fim do dia, de novo, vende-se a parte boa a preço de saldo e faz-se dos portugueses acionistas dos prejuízos que hão de atingir pelo menos os três mil milhões. Veremos se o tempo é mesmo novo ou se é o velho quem mais ordena. Isto é, se fica tudo como dantes, quartel-general em Abrantes, ou se a incompetência e cumplicidade de quem encobre os desmandos da banca é punido. Sim, porque ao "tempo novo" não basta parecer por decreto ou anúncio festivo, é preciso ser, de facto. É que, como reza o adágio, de boas intenções...

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