Cavacabou-se - por - MARIANA MORTÁGUA
Nota prévia: Uma interessante "biografia" daquele que mais tempo ocupou o poder em Portugal no pós-25A, e continuamente. Só batido por Salazar. Há ironias curiosas...
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Quem foi estudante nos anos 90, lembrar-se-á da repressão ao movimento gerado pela introdução da elitista PGA (Prova Geral de Acesso). Quem esteve na Ponte 25 de Abril, em 1994, tem memória da violência da resposta aos protestos. Aos outros que vieram mais tarde, como eu, e que não se deixaram levar pela imagem hipócrita do "não político", fica a ideia de um homem mal habituado à democracia, e por demais comprometido com conhecidos banksters (sim, falo do BPN).
O percurso político de Cavaco explica por que lhe é tão difícil aceitar a democracia. Passos e Portas não seriam, idealmente, os seus interlocutores preferidos, é certo, mas é da sobrevivência do projeto da direita que falamos. O que interessa a este presidente da República não é a Constituição, ou a estabilidade do país, é a continuação de uma governação que não ponha em causa os interesses das elites que sempre protegeu e que sempre o protegeram; uma governação que não ponha em causa a estratégia da austeridade como um instrumento para eternização do seu sonho de direita: autoridade, compressão de direitos laborais, campo aberto aos negócios.
Não podia, por isso, haver pior fim para a longa carreira política do presidente da República - cuja voz se levantou mais vezes para defender o Tratado Orçamental do que a Constituição da República Portuguesa - do que ser ele próprio o mestre de cerimónias do enterro da austeridade. Estou no entanto certa de que é isso que fará. Não por convicção, mas por ausência de alternativas (constitucionais, já agora).
Cavaco sabe hoje, como sabia no início deste processo, qual será o desfecho do impasse. A lista de exigências que fez a António Costa não passa de um airoso recuo face ao inevitável. Será a última decisão de Cavaco, não sei se o maior, mas certamente o mais longo engano da vida política portuguesa.
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