quarta-feira

O PS e o drama do burro de Buridan



O PS de António Costa esbarra hoje no paradoxo do burro de Buridan, em que o autor pergunta como um burro diante um fardo de palha e um balde de água se comporta num contexto de fome e de sede intensas. É nessa situação tentadora que o burro entra num processo de hesitação extrema e, por indecisão, acaba por morrer, já que não come a palha nem toma a iniciativa de beber água. 

Ou seja, A.Costa está hoje altamente pressionado pelo interior do seu partido a escolher um de dois caminhos e terá de estabelecer prioridades e de tomar decisões em função desses valores, dessas prioridades e desses objectivos tácticos e estratégicos. 

Ou segue uma via de diálogo com a actual dupla de meliantes de agravou todos os indicadores de desenvolvimento da economia nacional, tese defendida por Vera Jardim e outros; ou segue uma via de diálogo com o BE e a CDU, a fim de "partir pedra" para fazer convergências em torno de um programa comum e, em conformidade, formar um governo de esquerda. Nessa senda, encontramos João Soares como um dos defensores mais destacados. 

Como o actual líder do PS não está mandatado para negociar por si estas opções, coloca-se a urgência de realização de um congresso extraordinário onde possam ser colocadas as moções de estratégia que definam e clarifiquem o pensamento estratégico do PS em matéria de política de alianças - à esquerda e à direita - com vista à criação de um programa de convergência que sirva de base à formação de um governo de esquerda. 

O filósofo do séc. XIV, Jean Buridan, e antes dele Aristóteles que equacionaram aquele paradoxo que hoje se coloca à vida das organizações e, por maioria de razão, à esfera política, defendiam que a escolha deve incidir sobre o maior bem, e para assegurar essa condição o agente da decisão deve dispor da maior informação possível acerca do resultado de cada uma daquelas acções, ou seja, das consequências previsíveis que impendem sobre o PS caso se vire para a sua esquerda ou estabeleça compromissos à sua direita. Daí a relevância do congresso extraordinário para pensar essas estratégias e definir objectivamente um caminho a seguir. 

Agora urge por os dados a rolar, pois os movimentos dos céus parecem estar submetidos às mesmas leis que os movimentos das coisas terrenas, e o que parece causar as revoluções das esferas celestes é a mesma que dinamiza a actividade do ferreiro. 

Ora, António Costa tem que ter a ciência e a arte de imprimir esse movimento às ideias, das quais nascerão propostas que podem ser portadoras de um mínimo denominador comum. O que implica um regresso à política pura e aplicada, talvez em doses nunca antes vistas desde 1974. Até pela tragédia social com que Passos e Portas agravaram as condições de vida em Portugal. 

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