Ricardo Salgado será o detonador do regime
- Ricardo Salgado foi prestar declarações à Comissão parlamentar de inquérito ao caso GES/BES, e aí questionou conversas com o Governador do BdP, que este já desmentiu e aquele já replicou - tudo a uma velocidade de desmentidos estonteante, como se se tratasse duma luta entre pugilistas no ring de boxe. Na altura, o banqueiro responsabilizou o contabilista, o Governador do BdP (que não lhe deu tempo) e, indirectamente, o Governo que desapoiou o GES na praça pública;
- No Verão passado, o PR, Cavaco Silva, assumiu o papel de notário (friendly) e veio a terreiro informar as hostes de que o BES era um banco sólido e no qual valeria a pena investir (mas ele, Cavaco, não tinha acções ou outros títulos do banco). Cavaco, consabidamente, só tinha acções do BPN...;
- Pelo meio, a Miss Swaps, foi também ao parlamento prestar declarações e entrou em contradição com as declarações do Governador do BdP e com o teor agora conhecido das declarações de Salgado relativamente ao modo de salvar ou de afundar o BES;
- Este conjunto de contradições gritante, desde o Verão até ao momento, recolocam a questão de determinar quem sabia o quê e em que timing, pois disso depende a venda de títulos em larga escala por parte de alguns clientes, que conseguiram vender as suas aplicações atempadamente, ao invés doutros clientes, a maioria, que ficou literalmente "pendurada", senão mesmo falida;
- Neste quadro, importa apurar o que sabia o PR (quando assumiu o papel de notário do BES), o Governador do BdP, a Miss Swaps e o próprio PM desde o Verão (em que o BdP começou a entrar mais em cena, e pressionado pelo BCE - que exigia mais fiscalização e accountability) até ao momento.
- Numa fase em que o centro de gravidade do poder político nacional se deslocou do Governo (que é há anos um cadáver adiado) para as comissões de inquérito parlamentares, será natural que o Portugal-profundo deposite alguma confiança na capacidade de perguntar que os deputados possam vir a ter, ainda que dominem mal aquelas matérias de elevada tecnicidade (e onde a opacidade é enorme!!) a fim de esclarecer o sentido daquelas contradições e por que razão todas aquelas declarações não se harmonizam entre si.
Ou seja, importa compreender por que razão aqueles players mentem, omitem e dissimulam informação relevante para a descoberta da verdade. Uma verdade que estará na origem da dissolução do BES e dos estragos que provocou no tecido económico nacional.
Talvez a chave para a compreensão do puzzle possa estar na prestação do CONTABILISTA - aqui visto como o homem que vem do nada e nos pode trazer a chave que abrirá a porta para desmascarar todos aqueles agentes políticos que, por razões pessoais, políticas, económicas e financeiras mentiram deliberadamente ao país desde o Verão passado.
É neste pressuposto que a pele de Ricardo Salgado, que ele equiparou a uma presumível reputação que ainda possa ter, pode ajudar as desmascarar todos aqueles que, com o banqueiro, mantiveram esta farsa até ao Verão. Pois sabiam do verdadeiro estado calamitoso em que as contas do GES/BES se encontrava mas, criativamente, ocultaram esses dados da opinião pública e das entidades de Regulação que, neste caso, se comportou como o polícia bom (de dia, assumindo o papel do sinaleiro) e do polícia mau (quando à noite se juntava àqueles para repartir os despojos).
Portugal vive hoje a agonia dos dias do fim, na pior e mais cara farsa desde 1974.
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