Passos: por que não te calas? - Isabel Moreia
Os deputados da maioria, que exercem um mandato constitucional livre, e não de serviço, logo
mudaram, e abruptamente, de posição sobre a atuação do governador do Banco de Portugal.
Em vez de fazerem um trabalho sério, com os constrangimentos de haver arguidos ouvidos,
dirigido à atuação de gestores anteriores e atuais do Banco Espírito Santo (BES) e do Grupo
Espírito Santo (GES), ao Governo de coligação PSD/CDS e aos reguladores, sobretudo ao Banco
de Portugal (BdP), os deputados do PSD iniciaram os trabalhos na comissão de inquérito
parlamentar com uma atitude agressiva relativamente à regulação, particularmente no que
respeita ao Banco de Portugal, mas, de um dia para o outro, escutando o mandante (Passos),
ficaram bipolares e o mundo parou no BES. Repentinamente, o governador do Banco de Portugal
teve uma intervenção "irrepreensível" ou "rigorosa". Do ataque ao governador do Banco de
Portugal, o PSD passou para a sua defesa. Se parece claro que Ricardo Salgado é o maior o
responsável por aquilo que se passou no banco, não podemos permitir que se apaguem as
responsabilidades de administradores executivos do BES.
Exige-se também aos deputados, para bem do prestígio do Parlamento e da Política, que se apure
da atuação de Carlos Costa entre o final de 2013 e o início de agosto de 2014 e da do Governo.
O Governo apoiou primeiro a estratégia de não substituição de Salgado antes de julho de 2014
e foi o ator principal da resolução política que implicou a injeção de 3,9 mil milhões de euros do
erário público. Esta intervenção foi boa? É que inicialmente baseou-se na existência de um buraco
financeiro de 1,5 mil milhões de euros, mas que acabou em 4,9 mil milhões de euros. Como
afirmou e bem o meu camarada Pedro Nuno Santos "o que explica essa diferença três vezes
superior à prevista é muito provavelmente o crédito concedido pelo BES ao Banco Espírito Santo
de Angola (BESA). Ao colocar o BESA no BES mau, a resolução [do Governo] facilitou a revogação da garantia [do Estado angolano] ".
Ora, tudo isto, sem agendas, deve ser apurado e do apurado devemos tirar lições para o futuro.
A não ser assim, ficará mais uma comissão de inquérito descredibilizada e nesse descrédito a
democracia.
Era recomendável que alguém se dirigisse a Passos Coelho, qual ex-Rei de Espanha:- por que
não te calas?
Obs: Digamos que o PSD herdou uma costela autoritária do ancien regime, agora só falta expulsar do seu Grupo Parlamentar os deputados das ilhas que votaram contra este OE. Deputados esses, com Guilherme Silva à cabeça, que se recusa demitir (e bem!!). O partido não é propriedade de Passos Coelho, nem do seu líder parlamentar (por si teleguiado) é, em tese, dos militantes que votaram nele e que, hoje, se sentem tão frustrados quanto humilhados ao constatar a perfídia da governação e as manipulações várias sobre os aspectos gerais da gestão da coisa pública.
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