domingo

Breves notas de Filosofia Política: a Política Cínica


É pouco relevante intuir o que hoje pensam os dois principais titulares dos cargos políticos em Portugal: um soma impostos atrás de impostos, agravando as condições de vida dos portugueses; o outro, é um Resto do que fica do imposto agravado, é uma tonelada de silêncio que se abate com estrondo na consciência dos 8 milhões de portugueses.

Dito isto, os portugueses estão entregues a si próprios, vale a regra do cada um por si, agora retocada com uma esperança de Justiça à séria e destemida, pois até se está a desmantelar as redes mafiosas, a punir os maus e a restabelecer a ordem na sociedade. Submarinos, ex-BPN, BES e conexos ficam de fora, pois a dita Justiça também aqui encontra prioridades na sua agenda-setting.

Sucede que o jogo de espelhos é tão evidente quanto perverso, pois são precisamente os agentes políticos, e por vontade expressa, aqueles que projectam imagens ilusórias que, depois, se servem do seu reflexo na sociedade para considerarem que têm de respeitar essa vontade social, pois não a podem desiludir. Daqui nasce um paradoxo brutal na nossa vida pública e do qual não é fácil sair.

Ou seja, são precisamente os que exercem o poder político que sabem que estão a servir ilusões às populações, são aqueles que gerem as suas ilusões, violando a regra essencial se a Política fosse conduzida com nobreza, i.é, quem ocupa as posições de onde se conduz a sociedade é que tem a obrigação de corrigir as ilusões, e não de as ampliar.

Desenvolve-se, assim, as condições da política cínica em Portugal. Pois quem exerce  o poder sabe o que são as ilusões e quais são as suas consequências, contudo, exerce [cinicamente] esse poder como se não o soubesse, escondendo a sua efectiva perversão atrás duma imagem de inocência, ingenuidade e de compaixão. Faz, assim, o pleno do "teatro" na mais pura representação, tamanha a má fé, o que só afasta os governantes dos governados. Exemplo desse gap foi a tentativa de reposição das subvenções vitalícias aos políticos. No preciso momento em que  o Estado-Coelho esbulha salários às pessoas e confisca os seus bens. 

Com efeito, é esse opacidade voluntária (e dissimulada) por parte dos próprios responsáveis políticos - que distorcem os mecanismos de regulação da democracia, na medida em que impede uma avaliação objectiva dos governantes por parte dos governados e, além disso, induz no eleitorado a percepção de que as suas escolhas eleitorais são indiferentes porque os resultados práticos são sempre iguais. Eis o que se verificou com as múltiplas ilusões patentes no Programa eleitoral comunicado à sociedade por parte do XIX Governo (in)Constitucional. Nada do que consta desse Programa foi observado quando o candidato a PM, Passos, se alçou ao poder. 

Desse modo, os principais agentes políticos portugueses têm feito da ocultação das ilusões que "vendem" aos eleitorados, as suas próprias jogadas eleitorais. E tem sido em nome dessa ILUSÃO induzida no eleitorado, que fingindo que se respeita os procedimentos democráticos, se acaba por neutralizar o regular funcionamento da democracia.

Infelizmente, o que aqui se disse para a democracia também é válido para o sistema de justiça, o qual só funciona quando quer e em anos par. 

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