segunda-feira

A (nova) Porca da Política: a Porca Dourada. Evoc. de Rafael Bordalo Pinheiro



Todos conhecemos a caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro em A Política: a Grande Porca - que satirizou a forma oportunista e parasitária de fazer política, em que todos, mesmo os políticos incompetentes, se sentam à mesa do orçamento de Estado reclamando o seu quinhão, com isso prejudicando o interesse geral, o famoso bem comum, como lhe chamava Aristóteles. 

Hoje essa metáfora encontra-se em processo de revisão, v.q., os métodos mudaram, as estratégias de ocultação da verdade são mais sofisticados, as comissões (vulgo, luvas) são mais elevadas e as redes tentaculares que atingem a alta administração na gestão criteriosa dessa corrupção institucionalizada - também é mais cuidada, planeada e concertada. Ou seja, hoje o trabalho é em rede, ou melhor, em teia ou alcateia...

Ainda que a finalidade seja a mesma, enriquecer sem justa causa e de forma rápida, em regra utilizando criminosamente os recursos e as instituições do Estado (que supostamente esses agentes públicos deveriam saber representar), a Grande Porca do Bordalo Pinheiro converteu-se hoje numa Porca fina, que sabe pousar nos aeroportos, gosta de jóias e de zonas francas, aprecia casas de luxo na Quinta da Beloura, em Sintra/Cascais, cultiva os carros de marca, e, acima de tudo, ostenta um padrão de vida muito acima da média

É, no fundo, uma verdadeira Porca Dourada (como ilustra a imagem supra) - que nada deve aos vistos gold (cuja lei foi gizada por Paulinho Portas) - com que compete por prestígio, imagem e ostentação.

As duas garrafas de vinho, com que o sr. ex-director do SEF premeia o país (ante a sua pequenina e paroquial imaginação) - só pode ser resultado duma bebedeira mal curada nos aeroportos.

Paralelamente a este mundo fausto(so), deparamo-nos com o outro mundo:  o mundo real das coisas pequenas e vulgares. E esse aconselha-nos a ver uma outra dimensão da realidade, porventura mais terrena: a de que havia uma rede clientelar de captação de investidores chineses, alguns dos quais criminosos e procurados pela Interpol, com vista a adquirir imóveis de luxo em Portugal, em particular na zona da grande Lisboa - sendo que desse "negócio orientado" por meia dúzia de agências imobiliárias (todas com relacionamentos pessoais e familiares aos titulares dos altos cargos públicos visados) havia que repartir luvas por parte de todos os actores envolvidos, muitos dos quais estão hoje identificados e a ser ouvidos pelo MP. 

Daqui resulta uma conclusão suína: os porcos são sempre iguais, apenas mudam de modus operandi ao longo dos tempos. Mas como em tudo na vida, há sempre um polícia em cada esquina, ou um espião ou uma Polícia maldisposta - no caso a PJ - com fama de ser das mais eficientes do mundo, capaz de se lembrar do mundo perfeito, do valor das normas e da legalidade, do rule of law e da igualdade de todos perante a lex. Não a lex-dourada, mas a verdadeira lex. Ainda que tudo isto seja o sistema intelectual de justificação, pois as razões de tensão entre a PJ e o SIS - que ajudou a despoletar esta rede de corrupção ao mais alto nível do aparelho de Estado, assentam noutros motivos..., de tipo corporativo, remuneratórios e conexos.  

Mas aqui o que importa são os resultados, e esperemos que esses não conduzam o país a mais vistos dourados, cujo modelo de investimento é terceiro mundista, na medida em que não aporta know-how à economia nacional, não gera emprego e apenas vende parcelas do nosso território, cede fragmentos da nossa soberania que poderá também ser muito mal vista perante as instituições europeias onde temos responsabilidades. 

Não era, de facto, este o "mundo-javardo" que tinha pensado para edificar este 1º quartel do séc.XXI. E julgo não estar sozinho nesta miserável e suína reflexão!!!

_________



Etiquetas: , , , ,