terça-feira

O primeiro debate entre António Costa e António José Seguro





Terá lugar hoje o 1.º debate televisivo entre os contendores internos na luta pelo poder no PS: António Costa vs António José Seguro.  

Quanto à forma, o debate poderá assumir um de dois tons: um mais diplomático e dialogante, para evitar o processo de "lavagem de roupa suja" na praça pública, que, a ocorrer, enfraqueceria ainda mais o PS vis-à-vis o Governo (ainda!!) em funções e a restante sociedade portuguesa; ou um tom mais agressivo, com acusações mútuas de traição e de falta de lealdade pela actual direcção do partido. Na prática, Seguro tenderá a inculpar Costa por ter traído a sua confiança, e a do partido que tem uma direcção eleita em congresso; e Costa, por sua vez, tenderá a reconhecer nesse processo um fragmento de coragem e determinação, ante os magros resultados eleitorais e políticos granjeados pelo PS dirigido por Seguro até ao momento. Mesmo que essa coragem seja incompatível com a conclusão do mandato à frente da maior autarquia do país: Lisboa. 

Aqui Costa fará exactamente o mesmo que fez Sampaio na década de 90, quando saiu da CML para ir para Belém, sem concluir o mandato autárquico para o qual fora eleito pelos lisboetas. 

Seguro, rouco e a fazer tilt, e com um modesto currículo político, dirá que assumiu percorrer a estrada de Damasco, galgando pedras e contornando espinhos para, com abnegação, mandar abaixo o Governo mais imposteiro de que há memória na democracia pluralista em Portugal, ainda que os resultados dessa oposição, dentro e fora do Parlamento (no plano nacional e nas europeias), não se tenham afirmado, quer na forma quer nos conteúdos constantes da apresentação de políticas públicas diferenciadoras das deste miserável (des)governo: o XIX (in)Constitucional que tem sistematicamente governado contra a Constituição da República Portuguesa e contra os portugueses, espoliando-os e confiscando os seus bens.

Costa, por sua vez, reclamará o peso institucional do seu currículo político e da sua experiência enquanto governante e autarca da maior edilidade do país. 

Depois, o debate é capaz de incluir "a barraca" de Braga cuja dificuldade em explicar por que razão alguns mortos (ainda) votam é mais uma meta-questão que informa os currícula dos cursos de Filosofia ou de Teologia (nos velhos seminários dos Olivais) do que propriamente esclarecerá aquilo que os portugueses mais atentos já há muito compreenderam. E, se calhar, é também por isso que não levam os partidos e os agentes políticos muito a sério. 

Acresce a questão do legado político socrático, cujos termos, porventura, tendem a complicar mais do que a serenar o curso previsível do debate (ou do debate previsível). É que Costa foi ministro dos governos de Sócrates, foi também seu apoiante e, em inúmeros casos, co-decisor de algumas das suas políticas públicas, o que demonstra ter ratificado todo o legado governativo de José Sócrates; ao invés, Seguro nunca subscreveu nem a liderança nem as políticas públicas desenvolvidas por Sócrates. Por isso, se manteve em silêncio na 6.ª fila do Parlamento. E aqui há um mundo de diferenças entre ambos, as quais tendem mais a esmagar Seguro do que a dar-lhe munições para se proteger de Costa, que irá disparar nessa direcção, seguramente. Pois ninguém compreende que, estando em rota de colisão contra Sócrates anos-a-fio, Seguro se tivesse mantido em silêncio por razões de natureza táctica e pessoais. O que revela o calculismo da política caseira made in Portugal. 

Este é, aliás, o argumento mais contundente que Costa poderá desferir no seu opositor interno, ferindo-o de morte logo nos primeiros minutos do debate, se esse vier  ser o tom e o estilo adoptados. E que poderá ser contrariado, se Seguro tiver voz e consistência intelectual para tal, reafirmando que o balanço geral das políticas sectoriais implementadas pelos governos Sócrates foram tão negativas para Portugal que, por causa delas, a troika entrou no país e permitiu o fartar de vilanagem que depois se viu em termos de carga fiscal e esbulho aos portugueses, designadamente de funcionários públicos e pensionistas, os dois grupos socioprofissionais mais visados pelo miserável (des)Governo de Passos coelho - respaldado na filosofia selvagem e ultra-liberal de pacotilha da troika, a qual já foi, aliás, reconhecida como errada. Depois de casa roubada, trancas... 

Costa, por seu turno, irá assumir uma postura de Estado, pois sabe que terá de federar todas as tendências do PS no day-after; Seguro, por sua vez, terá de ser o challenger e ser o 1º a partir para o ataque, dado que já está em desvantagem interna e no país, onde o fosso entre ambos se agrava mais - em prol de Costa. 

Por outro lado, importa sublinhar um outro factor, por ser também uma diferença brutal entre ambos que desequilibra o prato da balança do poder a favor de Costa,  e que consiste na melhor cobertura mediática e na chamada "boa imprensa" de que Costa goza, um ganho ou uma vantagem, real e virtual, não transferível para Seguro, o que diminui este em favor daquele - seja na captura do poder no partido, seja no país. Naturalmente, como algumas vezes têm sugerido, tal não se fica a dever ao facto de o irmão de António Costa ser Ricardo Costa, director do Expresso e um homem com grande influência na Sic e nas inúmeras publicações do grupo Impresa, liderado por Balsemão. 

De tudo resultará um Costa a tentar ser ainda mais versátil do que já é, deixando entrever uma boa relação com toda a esquerda - no quadro da política de alianças que terá de se fazer no futuro próximo; e Seguro ver-se-á no papel daquele "perdigueiro" (passe a expressão) que terá de impressionar o caçador (seu dono/eleitorado nacional) a fim mostrar capacidade de trabalho e de que é capaz de fazer mais e melhor, apesar de os seus índices de desgaste político serem maiores do que os do PM. Logo, também, a sua popularidade não ser famosa. 

Apesar de um gozar de mais experiência governativa do que o outro, ambos sabem bem que neste 1.º debate terão, cada um à sua melhor maneira, de usar bem as características do leão e da raposa, no registo do que foi teorizado pelo florentino Nicolau, ou seja, ambos terão ser simultaneamente leão e raposa: leão para usar da força, raposa para escapar às armadilhas.

Veremos, pois, qual dos dois contendores, e admitindo sempre que a surpresa é uma variável no meio político e em qualquer debate, consegue projectar mais eficientemente aquelas duas condições, ou seja, ser leão e raposa a fim de escapar ao lobo que tem sido este miserável governo que não tem feito outra coisa senão, pela calada da noite, assaltar as capoeiras dos portugueses e, como os lobos, levar-lhes as galinhas todas...



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