segunda-feira

A FARSA - via Eça de Queirós -



  • Via Anália Soares - que aqui recupera Eça e o "casa" - numa terrível coincidência de texto e imagem soldando a lógica trinária do tempo (passado-presente-futuro) - com a lamentável tragédia que se abateu sobre o povo português, tornando-o refém do seu próprio futuro. Uma tragédia escrita a 4 mãos: S. Bento + Belém - que ameaça projectar-se entre nós nas próximas décadas. Uma reedição do inferno no presente.
  • Imagem - Marcel Caram


"(...)

E assim se passa, defronte de um público enojado e indiferente, esta grande farsa que se chama a intriga constitucional.
Os lustres estão acesos. Mas o espectador, o País nada tem de comum com o que se representa no palco; não se interessa pelos personagens e a todos acha impuros e nulos; não se interessa pelas cenas e a todas acha inúteis e imorais.
Só às vezes, no meio do seu tédio, se lembra que para poder ver, teve que pagar no bilheteiro!
Pagou – já dissemos que é a única coisa que faz além de rezar. Paga e reza. Paga para ter ministros que não governam, deputados que não legislam, soldados que o não defendem, padres que rezam contra ele. Paga àqueles que o espoliam, e àqueles que são seus parasitas. Paga os que o assassinam, e paga os que o atraiçoam. Paga os seus reis e os seus carcereiros. Paga tudo, paga para tudo.
E em recompensa, dão-lhe uma farsa.
(…) "

Eça de Queiros - "Uma campanha alegre",in "As Farpas" (1871)

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