sábado

A Tragédia de Portugal assenta na dimensão do figurante


Alguns analistas têm defendido que Portugal testemunha e enfrenta uma tragédia. Ela encerra uma dimensão política, mas os seus efeitos são essencialmente financeiros, económicos e, claro, socialmente devastadores. As pessoas nunca são números, apesar de serem tratados como tais. 

- A tragédia de Portugal, cuja devastação social está à vista (as PMEs foram destruídas, a taxa de desemprego é brutal, a emigração assumiu a dimensão da década de 60/70, com a agravante de se tratar de pessoal qualificado em que o país investiu), excepto para os mercados-agiotas para quem Passos Coelho e o XIX Governo trabalha - decorre do conflito que envolve aquele personagem (ou melhor, figurante) - dado que nunca sabe nada, nem decide o que quer que seja - e o poder e a instituição que supostamente representa: o Executivo. 
- Sucede, porém, que o Executivo nada vale de per se, o poder pelo poder é igual ao vazio. Ele só encontra justificação na sua finalidade social, i.é., deve comportar uma estratégia, uma ideia definidora para Portugal, um desígnio. 
- Tudo conceitos que Passos Coelho desconhece e nem sequer utiliza na sua gramática política, de tão pobre que é com aquele seu linguajar de "economês": desonerar, desalavancar, cap -  entre outros termos que podem ser verificados na lamentável entrevista que deu ao seu novel assessor de imprensa, José Gomes Ferreira, o clone da Gomes Teixeira destacado na estação de Carnaxide do dr. Balsemão, o sócio fundador n. XX do PSD.
- Esse conflito nasce porque entre o personagem, perdão, o figurante e a falta de destino (ou projecto de sociedade independente da troika) para Portugal, pura e simplesmente, não existe, o que gera um fosso grave entre o Estado e os cidadãos, os governantes e os governados. E ao não existir uma bússola tudo é possível, até os maiores níveis de incongruência, incompetência, desnorte... 
- Não porque a pessoa do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, seja má, apostada com o diabo ou animada por uma má fé visando destruir Portugal e os portugueses, mas, simplesmente, porque o visado é, por paradoxal que pareça, a pessoa mais impreparada do mundo para a exigente missão de ser PM em Portugal nesta fase da história da Europa e da conjuntura mundial. 
- Ou seja, a Tragédia entre nós decorre da terrível circunstância de que entre o figurante (Passos) e a sociedade portuguesa - não existe um projecto social e desenvolvimentista, um desígnio, uma energia mobilizadora e uma esperança que motive os portugueses para construir algo colectivamente que nos transcenda enquanto povo. 
- E é esse vazio que explica o sentido trágico de Passos Coelho na vida do país e dos portugueses. Com ele - e por ele - estamos todos a ir ao fundo. E por uma qualquer energia  negativa, quiçá modelada por quase meio século de ditadura conservadora, que nos formatou na lógica e na psicose do MEDO, o povo encontra-se com MEDO, está paralisado, circunstância que o impede de resistir e, no limite, de reagir e desencadear uma mobilização social verdadeiramente nacional - capaz de produzir uma alteração geral de circunstâncias, ou seja, de fazer uma nova Revolução. Uma nova revolução em nome dum novo modelo de desenvolvimento e de coesão social, em ordem a corrigir os múltiplos desvios, erros e abusos de Abril de 1974 - até  ao momento. Isto implica construir uma nova Utopia, naturalmente. 
- Qualquer tragédia, por regra, contempla heróis, deuses e reis e é narrada com uma linguagem estruturada, cujas asserções façam sentido e não a verborreia debitada naquela entrevista do figurante à Sic que, vista à lupa, é uma sucessão de mentiras seguida duma catadupa de esbulhos ao povo português. A tal austeridade que é para manter e agradar aos mercados. Aliás, os dois artigos infra, quer o de Pedro Adão e Silva, quer o de Nicolau Santos - ambos no Expresso - demonstram essa terrível debilidade à saciedade. 
- Em face do exposto, urge sublinhar que o actual primeiro-ministro nem sequer teria lugar de secretário de Estado num governo de Salazar. Jamais teria qualidade técnico-política para o integrar; tratando-se duma democracia, o seu papel dificilmente iria além do de secretário de Estado da Juventude, por ser um lugar eminentemente politizado, em linha com a sua condição de "jotinha", que foi o que sempre fez na vida, excepto o intervalo em que trabalhou com o seu "padrinho político", Ângelo Correia, do qual se afastou e depois se incompatibilizou. 
- Portanto, a tragédia de Passos Coelho, ou melhor, a tragédia nacional assenta no facto de não termos destino. Somos, assim, uma espécie de projecto sem qualquer finalidade social, e o desiderato invocado consiste, tão somente, em atingir o nível de défice ZERO (imposto de fora). É isso que os portugueses vão comer e servirá de base para pagarem as suas contas, educar os seus filhos, etc...
- Em suma: o figurante Passos converteu-se no Penteu - um personagem aparentemente "elevado", um grilo-falante, que supostamente tem motivos nobres em relação ao seu país, mas, de facto, carrega consigo o peso da sua impreparação e incompetência, agravada com as suas ideias tão medíocres quanto perigosas para a economia e a sociedade, e é isso que faz dele um homem tão perigoso quanto imprevisível. É, pois, dessa tragédia que os 10 milhões de portugueses (8, actualmente) se devem ver livres o mais urgentemente possível, sob pena de nos aguardar aquela terra prometida...
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