sexta-feira

"Bombeiro" é a palavra do ano na votação da Porto Editora

Bombeiro" é a palavra do ano na votação da Porto Editora

A escolha foge às palavras associadas à crise dos dois anos anteriores. "Irrevogável" e "inconstitucional" foram derrotados.




Foi a palavra "bombeiro", num universo de 15 mil votantes, que ganhou, de uma forma incontestável, a votação para palavra do ano organizada pela Porto Editora. Este substantivo masculino, que tem a sua versão feminina em "bombeira", teve 48% dos votos, seguido dos 17% de "irrevogável".
O vencedor, anunciado esta sexta-feira na Biblioteca Municipal José Saramago, em Loures, "é uma escolha muito positiva", segundo a linguista Ana Salgado, da Porto Editora, e teve uma votação "bem distante" da segunda palavra, ligada ao universo da crise.
Numa lista com dez palavras, que esteve a votação online no mês de Dezembro, depois de "irrevogável" aparece "inconstitucional" com 10%, seguidas de "grandolada" com 8%, "Papa" com 6%, "pós-troika" com 3%, "swap" com 3%, "co-adopção" com 2%, "corrida" com 2% e "piropo" com 2%.
A linguista Ana Salgado diz que "bombeiro" é uma palavra "que deriva de 'bomba' (de água), o mecanismo usado para apagar as chamas". O Dicionário da Porto Editora escreve que bombeiro "é um indivíduo que trabalha na extinção de incêndios e outras operações de salvamentos".
A Porto Editora, diz o site, quis lembrar com a inclusão do substantivo na lista os bombeiros portugueses que neste Verão "demonstraram uma enorme coragem no combate aos violentos incêndios que destruíram florestas e roubaram vidas". É portanto um destaque pela positiva, uma homenagem, reconhece Ana Salgado, enquanto no ano passado a escolha foi para "entroikado".
A Porto Editora explica, uma a uma, a inclusão das dez palavras. Co-adopção (uma palavra que tem duas grafias por causa do acordo ortográfico): "O projecto-lei que possibilita a co-adopção por casais do mesmo sexo, apesar de adiado, tem sido alvo de discussão há vários meses." Corrida: "As corridas entraram na rotina de cada vez mais portugueses, que participam em número crescente nas muitas provas que são organizadas por todo o país." Grandolada: "A grandolada surgiu como uma acção de protesto contra a austeridade e o Governo e afirmou-se como tal pela sua originalidade." Inconstitucional: "Os sucessivos chumbos do Tribunal Constitucional a várias medidas apresentadas pelo Governo em funções incrementou a frequência do uso desta palavra." Irrevogável: "Foi desta forma que um ministro [Paulo Portas] definiu a sua demissão que, no entanto, não se concretizou." Papa: "É eleito o primeiro Papa latino-americano da história da Igreja católica Romana, o papa Francisco, cujos primeiros meses de papado têm surpreendido."
Há cinco anos que a editora lança esta votação para promover a língua portuguesa — a "entroikado" antecedeu "austeridade", "vuvuzela" e "esmiuçar". Há um trabalho permanente de acompanhamento da língua portuguesa nos meios de comunicação social, nas redes sociais e nos dicionários da Porto Editora nas suas versões digitais. A análise da utilização das palavras é primeiro informática e depois linguística. Em 2013, o método foi ligeiramente diferente porque a lista esteve aberta às sugestões enviadas durante as duas últimas semanas de Novembro. "Bombeiro" tinha já algum peso nas sugestões, bem como "irrevogável" e "inconstitucional". A escolha final foi feita por oito linguistas do Departamento de Dicionários da editora, a que pertence Ana Salgado.
De fora, intencionalmente, ficou a palavra "crise", "porque é uma palavra generalista e acaba por absorver outras possíveis candidatas como ‘irrevogável’, ‘inconstitucional’, ‘grandolada’, ‘pós-troika’ e ‘swap’." "Fugimos do paradigma crise dos dois anos anteriores."
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Obs: Uma escolha tão inteligente quanto justa e sofrida. Merece o aplauso colectivo dos portugueses. 

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