A memória selectiva de Marques Mendes ocultando a purga no Banco de Portugal
O dr. Marques Mendes fez hoje os seus habituais comentários sobre os assuntos mais políticos da semana, comentários que são, por regra, assertivos e quase sempre críticos ao governo. Fá-lo, creio, não para fazer algum ajuste de contas ou por ter algum ressentimento por não ter sido convidado para um cargo governamental pelo governo de Passos Coelho, mas porque os factos demonstram, à saciedade, que o governo governa mal e, por regra, é impreparado e incompetente.
Nesse quadro realista, o comentador referiu que o Banco de Portugal confere credibilidade aos números que apresenta relativamente aos indicadores da economia portuguesa (que comenta). Sucede, porém, que esta semana ocorreu um episódio lamentável (e singular no BdP) protagonizado pelo próprio Governador do BdP - que eliminou administrativamente (ou de forma "política") um concurso cuja vaga seria preenchida por quem tinha concorrido e estava em melhores condições para a preencher, no caso Mário Centeno.
Seria, pois, natural, senão mesmo imperativo que essa questão fosse colocada e comentada, mas não ocorreu uma coisa nem outra. No mínimo, é estranho. Estranho da parte da jornalista que fingiu que essa estrondosa questão não integrou a agenda noticiosa da semana; e estranho da parte do comentador que, pela inépcia da jornalista, tinha a obrigação e o dever de a levantar e comentar.
Duplamente estranho. Pergunto-me se estavam combinados para não falar no assunto.
Tal significa que o dr. Mendes tem uma memória selectiva, e ao não comentar assuntos de extrema importância na vida das nossas mais relevantes instituições - úteis e necessárias ao funcionamento e equilíbrio da democracia - revela que não é imparcial, rigoroso e objectivo na forma como gere a sua agenda analítica e que, por essa razão, se converte num comentador que desvirtua a análise política - que devia ser isenta e independente.
Ao ocultar factos sociais politicamente relevantes, como aquela purga no BdP, Mendes coloca-se na posição do juiz que não abdica de querer julgar o filho, por entender ser o juiz mais independente para o efeito.
Neste Natal alguém devia oferecer uma caixinha de Memofante ao dr. Marques Mendes.
Etiquetas: Banco de Portugal, Marques Mendes, purga
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