A institucionalização da mentira política em Portugal: o novo guião da reforma do Estado
- Deve haver só um lugar recatado em Portugal que sabe em que consiste a misteriosa reforma do Estado. Esse lugar é o Largo do Caldas, o parceiro menor do governo, apesar de ser o que manda mais e condiciona tudo. Este é, seguramente, um dos grandes paradoxos da nossa doente democracia representativa - que entregou as chaves do poder a um partido que nunca ganhou umas eleições legislativas em Portugal e vale 6 ou 7%, já com muita compaixão e concessão aos grandes números.
- Por outro lado, a linguagem dos ministros e amanuenses, leia-se secretários de Estado, está repleta de sistema intelectuais de justificação para ocultar mais do que clarificar. E é assim porque, no fundo, sabem que estão à frente duma retrosaria a tentar vender diamantes às pessoas. Claro que as pessoas, que não são burras, já compreenderam que este governo em vez de ter ministros tem um amontoado de gente impreparada e perigosamente incompetente. A gravidade desta evidência aumenta quando notamos que o responsável-mor por toda esta manutenção da engrenagem é o locatário de Belém - que está sempre pronto a ratificar tudo de olhos fechados.
- Desta perversão deliberada nascem as condições da política cínica, como defendeu um dos maiores filósofos políticos da contemporaneidade, Peter Sloterdijk. Ou seja, o paradoxo e a perversidade das condições políticas em que nos encontramos são de tal natureza que quem exerce actualmente o poder e sabe o que são as ilusões e quais as suas consequências, exerce esse poder como se fingisse não o saber, procurando esconder a sua efectiva perversão atrás duma máscara de inocência e de compaixão - tão bem plasmada na cara da Miss Swapps quando referiu a uma estação de televisão que também já não conseguia fazer poupanças porque tinha 3 filhos...
- Ora, é esta opacidade e mentira política deliberada - praticada pelos titulares de altos cargos públicos, alguns ocupando mesmo o vértice do aparelho de Estado, que distorce os mecanismos de regulação da democracia, na medida em que impede uma avaliação objectiva dos governantes por parte dos eleitores, além de induzir nestes a ideia de que as escolhas eleitorais pouco ou nada valem, já que os resultados práticos são sempre os mesmos.
- Isto permite-nos concluir que quem hoje está a bloquear a democracia e a destruir a economia são precisamente aqueles actores que hoje mais responsabilidades políticas têm no sistema, porque são eles, a começar pelo PR, que têm interesse em neutralizar o regular funcionamento das instituições e da democracia.
- A "não" vontade daquele actor em mandar o TC fiscalizar preventivamente boa parte das medidas previstas no OE/2014 - consabidamente inconstitucional - é um indicador perigoso desta nossa teorização.
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