sexta-feira

Português descobre organismo que não envelhece. É possível estar vivo sem envelhecer, defende Miguel Coelho




O biólogo Miguel Coelho identificou um microrganismo que se mantém eternamente jovem, rejuvenescendo cada vez que se divide, desde que as condições de crescimento sejam favoráveis. in Expresso
Virgílio Azevedo



A levedura S. pombe pode ser o segredo para a eterna juventude, mas há ainda um longo caminho a percorrer para passar dos organismos unicelulares aos seres humanos.A levedura S. pombe pode ser o segredo para a eterna juventude, mas há ainda um longo caminho a percorrer para passar dos organismos unicelulares aos seres humanos.
O dogma de que todos os organismos vivos 
envelhecem acaba de ser quebrado, com a 
descoberta feita pelo jovem biólogo Miguel Coelho
de um micróbio unicelular que rejuvenesce cada vez
que se divide, desde que esteja num ambiente como
condições favoráveis.


É uma espécie de levedura conhecida por levedura 
de fissão ou "S. pombe" ("Schizosaccharomyces pombe") e a investigação foi
feita por uma equipa internacional que integra cientistas do Instituto Max
Planck em Dresden (Alemanha) e da Universidade da Pensilvânia (Filadélfia,
EUA).

S. pombe é usada como organismo modelo em biologia molecular e celular
porque mantém a sua forma de bastão crescendo exclusivamente a partir das
extremidades e dividindo-se por fissão para produzir duas células-filhas do
mesmo tamanho, ao contrário do que é comum, onde há uma célula-mãe e
uma célula-filha. Por isso esta levedura é muito importante no estudo do 
ciclo celular.

A descoberta foi publicada na revista científica "Current Biology", num artigo
que tem como primeiro autor o biólogo português e que revela os princípios
fundamentais dos mecanismos do envelhecimento. Miguel Coelho, de 30 anos,
encontrou o que parece ser o segredo da juventude durante o seu 
doutoramento no Max Planck, financiado pela Fundação para a Ciência e a
Tecnologia (FCT).



Segredos da reprodução


"Geralmente, quando os micróbios unicelulares se dividem não resultam deste
processo novas células exactamente iguais", explica o biólogo, que está
agora a fazer um pós-doutoramento na Universidade de Harvard (Cambridge,
EUA).

Assim, o mais comum é "uma célula receber material envelhecido, enquanto
a outra adquire material novo completamente funcional". Ou seja, da mesma
forma que os humanos produzem filhos mais novos do que os pais, os
micróbios produzem células-filhas mais novas do que as células-mãe.

Mas o artigo agora publicado "mostra que a 'S. pombe' é imune ao 
envelhecimento através da divisão do material envelhecido pelas duas 
células". O que permite que "estas rejuvenesçam um pouco cada vez 
que se reproduzem", acrescenta Iva Tolic-Norrelykke, cientista do Instituto
Max Planck que lidera o projeto de investigação. No fundo, os danos são
repartidos pelas duas novas células.


É possível estar vivo sem envelhecer


"O meu trabalho de investigação demonstra pela primeira vez que é possível 
estar vivo sem envelhecer", sublinha Miguel Coelho esclarecendo, no entanto,
que quando aqueles microrganismos são submetidos a ambientes nocivos, 
como químicos ou calor, separam-se numa célula rejuvenescida e noutra que 
envelhece e morre. "As células têm um sistema para diluir os danos
acumulados em condições favoráveis, mas isso acontece de uma forma
aleatória, ou seja, não têm um programa de envelhecimento".

A levedura S. pombe "não é uma espécie imortal, mas a grande diferença em
relação aos outros organismos é que a probabilidade de morrer é
constante: 0,03% das células morrem". Como sublinha o artigo publicado na
"Current Biology", "os organismos unicelulares costumam envelhecer, o que
significa que à medida que o tempo passa, dividem-se cada vez mais
lentamente e acabam por morrer".



Longo caminho até à eterna juventude


Claro que há ainda um longo caminho a percorrer entre a "S. pombe" e o ser
humano. Para chegarmos aos segredos da eterna juventude nos seres 
humanos através da manipulação das células para tratar a doença de 
Alzheimer ou o cancro, "há ainda muito trabalho a desenvolver, porque só
agora estamos a compreender os mecanismos moleculares deste processo".
De qualquer maneira, atingir a imortalidade "é um objetivo filosófico, utópico,
mas aumentar a qualidade de vida e a saúde dos humanos é fundamental para
retardar o envelhecimento, e a investigação que estamos a fazer só faz 
sentido neste contexto".

O próximo passo será procurar nas células estaminais e cancerígenas - que 
não mostram envelhecimento - se também há divisão simétrica dos danos
acumulados, como acontece na levedura "S. pombe". Miguel Coelho admite
que isso aconteça em organismos superiores como os humanos.

No corpo humano, as células de pele e do fígado, por exemplo, estão sempre
a dividir-se e a regenerar, mas células altamente especializadas 
(diferenciadas) e decisivas para a vida, como as cardíacas e as cerebrais,
dividem-se muito lentamente e não conseguem regenerar.
e decisivas para a vida, como as cardíacas e as cerebrais, dividem-se muito lentamente e não conseguem regenerar.

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