Evocação de Sophia Mello Breyner Andresen. Poetisa da Liberdade. Nesta Hora
Nota prévia: Talvez agora, tanto ou mais do que em 1974, haja a necessidade absoluta de evocar os poetas da Liberdade - por nunca como hoje, num estágio da civilização em que devia imperar a abundância e a prosperidade e bem-estar das populações, ela(s) - a Liberdade, a igualdade e a democracia - foram tão brutalmente postas em causa.
Nesta hora limpa da verdade é preciso dizer
[a verdade toda
Mesmo aquela que é impopular neste dia
[em que se invoca o povo
Pois é preciso que o povo regresse do seu longo exílio
E lhe seja proposta uma verdade inteira
[e não meia verdade
Meia verdade é como habitar meio quarto
Ganhar meio salário
Como só ter direito
A metade da vida
O demagogo diz da verdade a metade
E o resto joga com habilidade
Porque pensa que o povo só pensa metade
Porque pensa que o povo não percebe nem sabe
A verdade não é uma especialidade
Para especializados clérigos letrados
Não basta gritar povo é preciso expor
Partir do olhar da mão e da razão
Partir da limpidez do elementar
Como quem parte do sol do mar do ar
Como quem parte da terra onde os homens estão
Para construir os cantos do terrestre
- Sob o ausente olhar silente de atenção –
Para construir a festa do terrestre
Na nudez de alegria que nos veste
20 de Maio de 1974
(Sophia de Mello Breyner Andresen, CEM POEMAS DE SOPHIA)
(Via Anália Soares)
Etiquetas: Evocação de Sophia Mello Breyner Andresen. Poetisa da Liberdade. Nesta Hora
<< Home