O regulador e o regulado. E os públicos que já não são idiotas
Não interessa saber se o interesse do regulador se ajustou ao interesse de sobrevivência do regulado de modo a que entre ambos não houvesse uma distância dangereuse que mataria politicamente o regulado;
- Interessa, apenas, e para que tudo fique na mesma, que regulador e regulado jogue o mesmo jogo, no mesmo tabuleiro de xadrez político, em que as peças são movimentadas concertadamente de molde a evitar xeque-mate. Desse modo, só os peões saem de cena, porque já não são de cena;
- Mas mais importante do que essas jogatanas de xadrez concertado nos bastidores do jogo político, é compreender como, do lado da recepção dos públicos, estas jogadas são lidas e digeridas. Ou seja, saber como aqueles milhares de indivíduos que votam e ouvem rádio e se deixam alienar pelas imagens da tv, apesar de não terem elevada cultura política, mas são verdadeiramente a base de legitimidade democrática mediante sufrágio universal, reagem no cálculo político que vão fazendo da acção política de todos e de cada um dos governantes que temos.
- Isto pode significar que o zé povinho que vê tv, ouve rádio e lê alguns jornais reage negativamente a esses acontecimentos pouco transparentes, pela sua manifesta carga de parcialidade que fronteira o abismo da relação de confiança política entre governantes e governados, que se quebra cada vez mais.
- Bem ou mal, é o mesmo zé povinho que está na base do sistema democrático, que passa a estar implicado nessa jogatana de xadrez ultra-viciado.
- Daqui decorre uma sub-questão de não menor relevância para a sustentabilidade do próprio sistema democrático: se o cidadão é suficientemente maduro e inteligente para não cair no "conto vigário", proveniente de entidades sem qualquer utilidade prática, representatividade e transparência, como é essa coisa vaga que dá pelo nome de ERC, que apenas regula interesses pessoais e não os verdadeiros interesses nacionais da República e da gestão efectiva dos problemas da polis, então, mutatis mutandis, esse mesmo cidadão também é plenamente inteligente e capacitado para separar o trigo do joio, e distinguir arranjos e interesses pessoais, ligados à carreira, ao status, ao poder social, etc - dos verdadeiros interesses nacionais.
- Também aqui os cidadãos têm de dispor da arte e a intuição de separarem as mensagens e os mensageiros da verdadeira comunicação, esta, sim, ligada ao sufrágio universal e, consequentemente, à democracia que hoje falta às toneladas em Portugal.
- Este tipo de exemplos são importantes porque permitem pensar e relacionar as relações dos agentes políticos com alguns jornalistas, que nunca se percebe quando fazem política de baixa-densidade (também conhecida como tratar de vidinha).
Cada vez mais é necessário a capacidade crítica do público, e em tempo real, onde delibera ao nível das redes sociais, recordando que a comunicação tem uma dimensão universal que não se esgota em meras jogadas de bastidores - assente na política da cenoura e do chicote das "províncias" que tecem este miserável Portugal.
- Mas tenhamos Esperança. Há mais vida para lá destas (des)regulações...
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