sexta-feira

Cavaco silva. Não comento. De notário a coveiro de Portugal






Quando se pergunta ao PR, cavaco Silva, o que ele pensa dos números do desemprego em Portugal, da insolvência crescente de empresas, da corrupção, do funcionamento da justiça, do BPN, das questões de saúde, da educação, da falta de concorrência - oligopolizada pela EDP, por ex., e demais questões de verdadeiro interesse nacional, o que diz Cavaco?


- Antes de responder aquelas questões, importa relembrar para que serve o PR no nosso sistema político: vetar leis, reenviar diplomas para o TC, em caso de dúvidas, desenvolver o magistério de influência, mediar conflitos - em potência ou abertos - entre os vários actores políticos, designadamente, os partidos políticos. E, claro, escrever os seus Roteiros para o desenvolvimento e a modernidade do país, além de se queixar das suas parcas reformas que, segundo ele, não chegam para as despesas. No limite, pode ainda dissolver a AR e convocar eleições, quando perigar o funcionamento normal das instituições e após a convocação do Conselho de Estado. 

Pergunto-me, até, como é que ele sobrevive com tão baixos rendimentos?! Tenho de admitir que tal se deve às sopinhas de cavalo cansado que dona M.ª lhe dá para prover a tão magras receitas.., que nem chegam para pagar a água para regar o relvado da vivenda do Alllllgarve!!

Portanto, o PR é, ou deveria ser, a válvula de segurança politico-constitucional do sistema político. Quando tudo falha, os portugueses viram-se para o PR para nele verem uma luz, um caminho, um desígnio, enfim, um pensar amigo, culto e sabedor que consiga tirar Portugal e os portugueses do lodaçal em que se encontram e meter isto nos eixos. Isto, em tese, é o que o PR deveria saber fazer. Mas, na realidade, não é isso que acontece. Longe disso...

Vejamos:
- do desemprego, o homem diz que temos que aguardar os números que ainda não chegaram, dizendo o mesmo relativamente ao défice; à insolvência de empresas contrapõe - dizendo - que também há empresas inovadores e as exportações até têm aumentado; das secretas, matéria ultra-sensível que diz respeito à segurança máxima do Estado (de que ele também é um garante), diz que a coisa está nas mãos da justiça (e um PR não se mete nessa área, sugerindo a separação de poderes); o caso BPN é, para ele, desconhecido, aliás, o PR nem sabe quem são Oliveira e Costa, dias loureiro - ecce hommo - grande poeta de Coimbra, e outros que integraram o seu inner circle - quer no Governo, quer no Conselho de Estado, quer ainda na esfera das suas relações de amizade, logo na sua intimidade; do SNS, Cavaco não fala porque tem seguros de saúde privados, e da Maternidade Alfredo da Costa (MAC) - o PR entende que a questão é governamental e se o contabilista de serviço na área da Saúde acha que se deve "racionalizar" (conceito mui grato aos economistas de pacotilha) - então Belém também deve alinhar pela racionalização, logo encerre-se a coisa; da Justiça nem fala, porque se o fizer algum juiz mais ressentido e indisposto ainda pode levantar a questão das acções do BPN vendidas out of market e a high price ou questionar a forma como certas escrituras de compra de casa no Sul foram realizadas... 

Portanto, daqui procede um princípio geral, qual omerta: Não falar!!! Ganha-se mais a médio prazo, ou, dito doutro modo, perde-se menos à la longue. Tem sido esta a receita há quase 30 anos de exercício do poder. Trinta anos...

Dito isto, identificamos o comportamento padrão do sr. PR, cavaco e silva, como diz o zé povinho. Ele não fala em inúmeras situações, porque, simplesmente, está comprometido, mas noutras situações não fala porque, em rigor, desconhece a natureza específica dos assuntos e não tem - para eles - uma opinião crítica especializada formada que não redunde em banalidades. Portanto, o melhor mesmo é calar-se ou ir calando os assuntos incómodos que esta governação deprimente não consegue gerir.

Escusado será dizer todo esse silêncio, toda essa ilusão, a ocultação dos problemas tem custos sociais e políticos para a modernização, o crescimento e o desenvolvimento do país. Ficam, assim, todos os problemas adiados. A esta luz, cavaco não é só o notário do regime, é também o seu coveiro.

E quem paga a factura é, obviamente, o zé povinho. 

Mas também quem lhe mandou escolher - logo para PR - um homem pobre cujas reformas nem sequer dão para custear a sua própria sobrevivência?!



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