sexta-feira

Actualidade de Karl Marx. Uma nova dialéctica social

Pergunto-me se o movimento internacional dos "indignados" de Portugal, criado a 13 de Março de 2011, com o objectivo de reflectir sobre a sua insatisfação resultante das condições de trabalho precárias dos jovens portugueses, agravadas ontem com as bastonadas desproporcionais da polícias sobre os manifestantes, não estará a criar um caldo de cultura para recuperar alguns dos pressupostos da teoria política de Carlos Marx, que fez a sua carreira no séc. XIX - estendendo a sua crítica à economia política de então, ou seja, explorando as contradições económicas do sistema capitalista.
Sucede que hoje essas contradições, que levou o ano passado cerca de meio milhão de portugueses às ruas das cidades de Portugal, numa manifestação sem precedentes contra a precariedade laboral e a qualidade do escol dirigente aliado a um profundo descontentamento do funcionamento da democracia, podem revestir-se de alguma actualização em função do agravamento das medidas de austeridade em que milhões de portugueses vivem.
Naturalmente, à emancipação do proletariado sucede-se a emancipação dos jovens portugueses, que sentem hoje as mesmas privações socieoconómicas daqueles no séc. XIX, atentas as diferentes épocas e níveis de desenvolvimento e mentalidades. Mas a intensidade das preocupações com as relações entre a economia, as classes sociais e a política aparecem agora renovadas, em pleno séc. XXI, e parte dessa lógica encontra fundamento no descontentamento social crescente de milhões de jovens portugueses desempregados e sem expectativas de vida, convidados (lamentavelmente) a emigrar, que vêem nesses movimentos sociais, potenciados peles redes sociais em que pontifica o Facebook, uma mola polarizadora da transformação das consciências para, através dela, transformar a realidade objectiva das condições de vida que hoje as aprisiona.
O reconhecimento dessa realidade, visível e ao mesmo tempo subterrânea, parece configurar a revolução em curso na sociedade portuguesa que pugna por melhoria nas condições de existência das pessoas. Resta saber quem, doravante, será o novo "coveiro" da "burguesia", para recuperar a terminologia de Carlinhos Marx.
Por último, e sendo cada um de nós marxista ou não, somos todos obrigados a reconhecer, mesmo contra a vontade e pela imposição da ditadura dos factos, que cada época vive a sua própria emancipação política, já que esta está dependente da maior ou menor concessão de liberdades aos indivíduos na universalidade dos direitos humanos que lhes cabe preencher.
Nesse sentido, a liberdade e a igualdade, ou a igualdade na liberdade, conforme preocupação de Alexis de Tocqueville, são feitas promessas a todos os homens por parte dos agentes políticos que depois não são realizadas. Daí nascendo uma ilusão fatal que se explica pela própria maldade e natureza egoísta dos homens em quererem capturar o poder a qualquer custo, mesmo com recurso à mentira política.
Pois é ela que, de facto, tem alimentado as promessas por cumprir na sociedade portuguesa. Uma sociedade que hoje vive momentos de fúria, de indignação e de revolta, mas que amanhã pode viver uma nova fase de revolução...

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