segunda-feira

Fernando Pessoa: o maior filósofo-poeta do séc. XX. Autopsicografia. Presidente da Junta

O poeta é um fingidor
Autopsicografia
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Fernando Pessoa
Com Pessoa, que talvez tenha sido o maior filósofo-poeta do séc. XX universal português, aprendemos que chegamos a fingir que é dor a dor que deveras sentimos, desse modo também o inconsciente de cada um de nós pode fingir que é verdade o que sabe que é mentira, embora deixe esses traços de fingimento nos sintomas de que acabamos por ser portadores.
A questão reside, pois, no seguinte: quem souber ler esses sintomas terá a chave para interpretar todo o processo de fingimento político que hoje está em curso em Portugal, tanto no PS como no PSD, os dois partidos que integram o arco da governação.
A mentira há muito que deixou de ser um assunto para psicólogos, polícias ou investigadores da judiciária, especialmente porque ela - a srª dona mentira - passou a ser uma reinterpretação interessada da política, e Amado caíu na sua própria armadilha sem perceber que tinha sido o seu pior portador. Na prática, Amado transformou as Necessidades numa placa giratória da mentira, dando a conhecer esse facto às chancelarias europeias, o que só desprestigia o titular da pasta e as próprias Necessidades.

Ou seja, Luís Amado revelou, entre muitas coisas, que não conhece a obra de Fernando Pessoa, e isso ainda é mais grave do que termos um PR que desconhece Camões e come bolo-rei de boca aberta, jogando perdigotos para cima dos jornalistas e inundando as câmaras de frutos cristalizados.

Assim, revela-se insustentável, no plano cultural, político e até politológico defender qualquer política pública de Amado, salvo se nessa defesa incluirmos os negócios com a Líbia do ex-terrorista de M. Kadaki, Dos Santos da "democrática e mui pluralista" Angola e, agora, muito orientalmente, com os negócios da China - que é um país, como sabemos, promotor dos "direitos humanos" dirigido pelo forte capitalismo de Estado.
É com esta canalha que temos de nos sentar à mesa e fazer negócios, porque os nossos queridos parceiros da União Europeia, especialmente a srª Angela Merkel (que alguns juram ser homem!!!) entendem que somos os albaneses da Europa.

Regressando à vaca fria, ou seja, ao fenómeno da mentira política - de que Amado é apenas um minúsculo player, além de mau actor, porque falha sempre as suas falas revelando desconhecer o seu guião, o importante é reconhecer que o nosso tempo é o tempo da mentira massificada, servida no prato tecnológico e com uma impostura desmedida que até é capaz de nos convencer a todos, basta que estejamos distraídos.
O nosso tempo é alvo dessa produção indústrial da mentira - que já se institucionalizou e infectou, com metástases, todo o sistema político, de modo que hoje se tornou problemático distinguir uma mentira de outra mentira, e como a velocidade da informação é estonteante acabamos por nunca perceber bem os seus contornos e as suas fronteiras neste admirável mundo novo que estamos a criar, e cujas linhas dedicamos ao grande criador da nossa modernidade que foi Fernando Pessoa. Razão por que aqui o evocamos.
Talvez na esperança de que o titular da pasta dos Negócios Estrangeiros não ande por aí, de chancelaria em chancelaria, proclamando a ideia de que ele é que ele é o "Presidente da Junta", na linha do famoso "sukete" de Herman José de 1997.
Presidente da Junta

Aqui numa versão mais internacionalizada, mais consentânea com a vida nos fora internacionais

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