segunda-feira

O tempo [político] e tributo a Eclesiastes

De fato, a questão do "tempo" parece, e somente parece, ser extremamente simples e conhecida de todos, o próprio filósofo Sto Agostinho reconhece isso quando afirma:
Que assunto mais familiar e mais batido nas nossas conversas do que o tempo? Quando dele falamos compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. Mas se nos perguntam o que é o tempo já não sabemos defini-lo. Apenas como recurso didático e comparativo, citamos aqui um texto canônico muito conhecido que também versa sobre o tempo: Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu:
há tempo de nascer e tempo de morrer,
tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou,
tempo de matar e tempo de curar,
tempo de derrubar e tempo de edificar,
tempo de chorar e tempo de rir,
tempo de prantear e tempo de saltar de alegria,
tempo de espalhar pedras e tempo de juntar pedras,
tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar,
tempo de buscar e tempo de perder,
tempo de guardar e tempo de deitar fora,
tempo de rasgar e tempo de coser,
tempo de estar calado e tempo de falar,
tempo de amar e tempo de aborrecer,
tempo de guerra e tempo de paz.
O recurso ao livro da sabedoria, o Eclesiastes - que aqui nos tem servido de guia inúmeras vezes, encontra na realidade financeira, económica, social e política portuguesa uma miserável correspondência. Especialmente, em tempo de apresentação e discussão do OE para 2011.
E apesar do psicodrama, chantagem e bluff que governo e oposição fazem entre si na sua habitual troca de mimos, a conviccção profunda é a de que o PSD irá aprovar o dito instrumento fundamental para o funcionamento da economia.
Por uma razão simples: se PPCoelho não aprovar o OE é natural que o Governo em funções não queira continuar a governar, e havendo eleições é também natural que o PSD possa, na melhor das hipóteses (e com os santinhos a ajudar), vir a ter uma vitória muito tangencial que lhe permite apenas recolher uma maioria relativa no Parlamento, ou seja, governar com um governo minoritário na AR, e isso colocaria o PSD de PPCoelho - a prazo - em situação de governabilidade ainda mais problemática do que aquela que se verifica hoje com o governo socialista. Seria mais do mesmo.
Ora, PPCoelho não é um visionário nem sequer é um político de excepção, mas também não é um idiota qualquer, razão por que sabe, antecipadamente, que não é do seu interesse assumir nesta fase os comandos do país, que o desgastaria sobremaneira num espaço de tempo - sempre o tempo!!! - muito concentrado. Daí que lhe reste pouco espaço, ou seja, pouco tempo para ele tomar a decisão pela positiva, na linha do que aprovou no passado recente com o PEC.
Mais uma vez, PPCoelho irá fazer o papel do idiota-útil que se sacrifica politicamente para ajudar a economia nacional, e isso já é um activo político a prazo. Ainda que nesse prazo possa emergir um líder na área do PSD que possa competir com ele pela melhor liderança do partido. E se assim for, lembro-me de um nome credível e numa área funcional onde hoje se requer um especial conhecimento: a área da economia e finanças que António Nogueira Leite tão eficientemente representa.
O seu problema é que tem tanta paciência para aturar os caciques de partido como Sócrates tem gosto em dialogar com o BE.

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