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O problema da sinceridade em política: dois "poetas" disfarçados de políticos: um quer o OE, o outro a RC

O capítulo emergente da Ciência Política emerge da mentira dos actos e das omissões que se praticam na esfera pública. O poder tende a ocultar indicadores que são comprometedores para a gestão da sua imagem e obra públicas; as oposições tendem a empolar e a dramatizar os pequenos problemas fazendo crer à opinião pública que se trata de grandes e insanáveis problemas que só se resolvem com a rotação do poder na máquina do aparelho de Estado. De modo que uns e outros, por calculismo político que nada tem a ver com o interesse nacional, representam uma tremenda peça de teatro perto de si numa sala de teatro que bem se poderia chamar "a barraca".
Os portugueses mais amorfos consomem aqueles gestos e práticas como sinais autenticos, as camadas da população mais esclarecidas e cultas filtram essas representações encontrando para elas significados concretos, pois é sempre da captura, manutenção e, se possível, do poder que se trata, como ensinara o velho Nicolau Maquiavel.
Em Portugal estas práticas têm assumido um grau de representação lamentável, dado que o governo, em inúmeros casos, pinta uma paisagem idílica que só existe na sua cabeça, e as oposições pintam tudo a negro, mesmo que alguns aspectos da nossa economia e sociedade sejam cinzentos.
Num caso e noutro, apetece recorrer ao genial Fernando Pessoa para recuperar toda a sua filosofia da sinceridade vertida num poema clássico que nunca é demais evocar:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
Sejamos sérios: Sócrates de PPCoelho apenas quer uma coisa: o agrément para aprovar o OE para 2011; PPCoelho, por seu turno, apenas quer de Sócrates que este aprove a sua extemporânea Revisão Constitucional.
Apesar de tudo, se quisermos continuar a ser sérios, ainda é preferível a continuidade de Sócrates à alternativa em curso, por demais errática. Isto porque é mais do interesse dos portugueses a aprovação do OE para 2011 do que o estranho atendimento da revisão constitucional pelo PSD, é que os portugueses comem e vivem do orçamento de Estado, a revisão constitucional é mais uma coisa para juristas fechados em comissões parlamentares.
Parece que só PPCoelho é que ainda não compreendeu esta comesinha verdade, e até o eloquente Ângelo, seu ex-patrão e patrono, se revelou incapaz de o sensibilizar para esse absurdo que begeta a meio caminho de Kafka e Nietzsche.

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