sexta-feira

Vítimas do violador de Telheiras querem ser indemnizadas

o sublinhado é nosso.
Vítimas do violador de Telheiras querem ser indemnizadas
por ISALTINA PADRÃO, dn
Mulheres pediram para ser constituídas assistentes. Despacho final concluído.
Das 11 mulheres que identificaram e acusaram Henrique Sotero, o designado violador de Telheiras, de as ter violado, quase todas já pediram para serem constituídas assistentes no processo com o objectivo final de serem indemnizadas pelos danos (físicos e morais) causados pelo seu agressor.
Isto mesmo admitiu, no início desta semana ao DN, José António Pereira da Silva, o advogado de defesa de Sotero, que ontem foi notificado da acusação pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP). Segundo o Correio da Manhã de ontem Sotero é acusado de 74 crimes, mas Pereira da Silva não confirma.
Relativamente ao conteúdo do documento, o advogado diz que só hoje irá consultá-lo, uma vez que se encontra de férias. "Após analisar a documentação irei falar com o meu constituinte para verificar a veracidade da acusação e mais não digo", frisou Pereira da Silva.
Já relativamente à decisão tomada pelas vítimas, o advogado de Sotero falou na terça-feira ao DN. "Inicialmente não aconteceu nada. As vítimas limitaram-se a apresentar queixa na Polícia Judiciária (PJ). Depois, e uma a uma, têm vindo sucessivamente a pedir para serem constituídas assistentes no processo. Terão sido já umas oito a nove raparigas e não me surpreende que as restantes também o façam", referiu Pereira da Silva, que foi notificado há tempos para lhe ser transmitida tal informação.
E se para o advogado de Sotero este é um pedido normal por parte das vítimas, o juiz desembargador Eurico Reis vai mais longe e considera "justo" que tal aconteça, já que ao serem constituídas assistentes num processo, as vítimas ficam com mais capacidade de intervenção, o que é "legítimo". E justifica: "O interesse do Ministério Público (MP), a quem cabe representar as vítimas caso estas não sejam constituídas assistentes no processo, não tem os mesmos interesses das vítimas. Podem existir zonas comuns, mas não sente na pele a humilhação que a vítima sentiu. Vê o caso de fora."
Sem falar em situações concretos, o juiz não tem dúvidas que a humilhação é maior em crimes de natureza sexual. "O crime sexual é dos mais graves que há porque existe uma invasão da intimidade. O crime passa-se dentro do corpo da vítima e isso é uma sensação horrível que só ela pode avaliar como deve ser. Não vai ser uma entidade externa, por mais que tente colocar-se no lugar da vítima, que vai entender o sofrimento por que passaram e as consequências que nunca mais a deixarão".
As referidas lesões, no caso do violador de Telheiras, ficaram marcadas em pelo menos 40 mulheres, todas elas jovens. Foi este o número de casos de violação que Henrique Sotero, de 30 anos, confessou à PJ ter cometido na última década. Terá sido quando o jovem deu entrada no Instituto Superior Técnico de Lisboa - onde frequentou o curso de engenharia civil sem nunca o ter concluído -, que as violações tiveram início.
Sotero seguia as suas vítimas e atacava-as sobretudo em escadas ou elevadores de prédios, nomeadamente nas zonas de Algés, Olivais e principalmente em Telheiras, onde frequentava um ginásio.
Seriam precisamente as idas aos treinos que serviriam de desculpa para dizer à namorada com quem vivia há cerca de três anos que ia sair. Nessas saídas, Henrique obrigaria as jovens a praticar sexo oral (era sempre esse o acto a que eram forçadas), regressando depois a casa, no Cacém, onde se transformava no jovem exemplar e prestativo que a vizinhança tinha em muito boa conta. Foi um choque para todos quando a 5 de Março deste ano Sotero foi detido pela PJ no seu local de trabalho.
O jovem foi de imediato levado para Estabelecimento Prisional junto da PJ, na Gomes Freire, onde foi interrogado várias vezes. Dias depois foi transferido para o Estabelecimento Prisional de Lisboa (EPL), onde permanece. É aqui que, regularmente, Sotero recebe a visita do seu médico assistente (o psiquiatra a quem pediu ajuda para se tratar meses antes de ser detido), da família e do advogado.
Obs: Este pequeno bárbaro dos tempos modernos não merece grandes comentários, salvo para referir três notas: mão pesada da lei para este criminoso, até para servir de exemplo e como medida dissuasora para outros como ele que praticam os mesmos crimes e andam escondidos; que se trate na cadeia, mediante um programa de reeducação intensivo nos vários anos que terá de permanecer na cadeia; e que as vítimas, na medida do possível, sejam ressarcidas destes crimes hediondos que deixam marcas, pela sua própria natureza, para todo o sempre nas suas personalidades.
Uma nota final relativamente ao adágio popular que diz que quem não vê caras, não vê corações. Quem olha para a imagem do sujeito violador vê, aparentemente, o perfil de um "menino-de-bem" da Av. de Roma da década de 80 que joga ténis no Jamor, passe férias no Allgarve e no estrangeiro.
É apenas um esterótipo que pode e deve ser relativizado, naturalmente. Seja como for até se poderá ver no sujeito o perfil dum praticante de artes marciais, um delegado de propaganda médica ou um gestor duma multinacional formado em gestão na Católica com uma boa média, mas nunca aquilo de que verdadeiramente ele é agora acusado e que irá marcar para todo o sempre na sua existência.
Valerá a pena reflectir no que se passou de errado na educação deste sujeito para tirar algumas ilações e evitar condutas semelhantes noutros jovens que hoje atravessam a adolescência.
Onde pretendo chegar?! Ao seguinte ponto: espero, esperemos, que este sujeito e o seu advogado não venham a alegar que a sua conduta no presente é um reflexo directo duma educação e duma adolescência traumatizantes em criança, um pouco como o Bibi, que tentou justificar alguns dos seus crimes de pedófilia pelo facto de também ter sido objecto das mesmíssimas violações em criança.
Mas aguardemos para ver que tipo de fundamentação clínica e jurídica a defesa irá apresentar para justificar o comportamento criminoso deste bárbaro dos novos tempos.
Até lá fixemos bem a cara do alegado criminoso. Dará jeito para o futuro.
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